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33 anos de NGA com “Atitude”

“Já não sou adolescente. O meu presente é melhorar a vida da nossa gente.” A rima é de “Fama”, tirada em 2014, mas hoje faz jus aos 33 anos de NGA celebrados com Atitude. Sete músicas, sete vídeos de presente para os seus “irmãos” que lhe abriram as portas do sucesso, depois de “muito trabalho, força e coragem”.

Foi na Linha de Sintra que Edson recebeu a equipa da BANTUMEN para falar sobre o novo EP, Atitude que, hoje, dia do seu 33.º aniversário, disponibiliza aqui gratuitamente.

Com um orçamento de cerca de 110 mil dólares (pelo menos metade gasto em “Normal“), o processo de criação independente começou há um ano. Foi-se fazendo sem pressas, até porque 2015 foi o ano escolhido pela família Força Suprema para promover o lançamento de Prodígios. Sem atropelos, esperou-se o momento certo para lançar o trabalho.


“Foi feito numa altura mais livre para mim. Cada membro do grupo está a criar o seu caminho, a sua estrada, a família está boa. Então tinha mais espaço, o álbum King saiu no ano passado, então estou com uma outra paz de espírito. Este foi feito com mais calma.” Nas rimas imprimiu o que ia vendo, ouvindo e vivendo. Em “Difícil”, por exemplo, fala de uma ida ao SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras portugueses, equiparado em Angola ao Serviço de Migração e Estrangeiros), onde assistiu a uma cena de abuso de poder contra um cidadão guineense. “Uma miúda, jovem de vinte e poucos anos, ‘tuga’ a falar com um senhor que pelo sotaque aparentava ser guineense, e que por causa da posição dela, as palavras que usou” e a forma como falava alto e a bom som – quase que para ter a certeza que todos no espaço ouviam – o que o homem ganhava ou não… “São coisas que não dizem respeito a ninguém”, diz NGA rematando que a situação provocou-lhe repulsa. “Típico comportamento racista. Mas como a família necessita da guita, então, Armando evita”, diz na música.

Nas participações há Dj X-Ato em “De Aço”, Trini e Van Sophie em “Champanhe”, João Pina em “Difícil” e, tal qual ‘noite estrelada sobre Ródano’, há Yola Semedo em “Van Gogh”.


Todas as faixas e todo o processo de construção deste projecto só foi possível com atitude, com muita força e muita coragem. É um t
rabalho completamente independente, sem nenhum tipo de apoio, desde os vídeos ao som e promoção.” Este é o trabalho que marca a maturidade da capacidade criativa de NGA e que criva a sua individualidade enquanto artista e enquanto Edson Silva. “Enquanto fui criando o projecto fui-me apaixonando pelos instrumentais e fui pintando o ‘quadro’ na minha cabeça. Não senti a necessidade dos meus irmãos estarem lá, porque nós já temos muitas faixas juntos e aquelas músicas são momentos meus.”

Sobre a mensagem que quis passar, não há espaço para dúvidas: é no trabalho que está realmente o ganho. “Se eu não fizesse na minha vida, o que digo às pessoas através da minha música, estaria a ser falso. Eu acredito que se queres melhorias, se queres mudar, a mudança tem de começar dentro da nossa casa, no nosso meio. E isso só acontece se acreditares. No principio é sempre difícil. Mas é preciso muita força de vontade e dar no duro, dar a sério. Não é ter medo, é ter atitude.”

A gravação dos vídeos foi o processo mais difícil de todo o trabalho. “Não tínhamos muito tempo e nem muita guita [dinheiro]. E o meu objectivo era trabalhar com pessoal novo. Novo na idade, novo na experiência, novo no mercado.” Na back tinha Alexandre Azinheira, realizador português. É a ele que deve a essência e criatividade visual de “Normal”, tal qual filme de acção de Hollywood onde vemos romper o batalhão do SWAT para uma caça ao homem.

33 anos com quase 30 projectos musicais não deixam margem para muitos segredos. A música é a sua alma e faz questão que quem o ouve saiba exactamente quem é o NGA: “O meu microfone é o meu confessionário. Não escolho o que digo, digo o que sinto.

A música é a sua paixão incondicional. “Oiço tudo o que aparece, tudo o que vem ter comigo.” Prodígio é o seu rapper preferido, mas as referências de antigamente continuam a ser as de hoje. Black Company e Boss AC são os seus “deuses” e acrescenta à lista divina o grande Gutto. Questionado sobre com quem ainda quer trabalhar, NGA solta os nomes de Halloween, Paulo Flores, Valete, Bruno M, Sam The Kid e Max dos Expensive Soul. Apesar de já ter trabalhado com Anselmo, diz que gostaria de voltar a trabalhar com o artista mas numa visão mais sua.

Os seguidores da sua música são milhares, no YouTube não há um vídeo com menos de 300 mil visualizações. Apesar de estar há 20 anos a lutar pelo que hoje tem, a ascensão aconteceu há cerca de cinco anos. A primeira vez que veio à Praça da Independência, foi necessário chamar a polícia e fechar o espaço tal era a multidão que queria ver o King.

Foi a primeira vez que entrei num carro da polícia para me protegerem. Levaram-nos para a esquadra no Rangel. Primeiro encostaram-me na “parede” com as perguntas: tu cantas o quê? Porque é que tem essas pessoas todas atrás de ti? E lá perceberam… só estava a trabalhar”. Falar dos fãs é a mesma coisa que falar da família. “Aquelas pessoas são como os teus irmãos. Quando não vês o teu irmão há bué de tempo e quando o vês saltas e dás bandeiras? É o que eles sentem, são a minha família.” Mas nem tudo é positivo. “Às vezes ‘esticam-se’ mas um gajo põe um pause. O facto de gostares da nossa arte, de gostares do que fazemos não te dá o direito de faltar ao respeito tal como a nós também não nos dá esse direito. Aqui não há filmes de famosos”, explica.


Se a maioria dos jovens procura um modelo a seguir, Edson prefere que não o considerem um exemplo. “O que é que nos torna num exemplo? As tatuagens? A forma de vestir? A forma de agir? Isso é contigo. Se for a filosofia, a mensagem, isso também é contigo. Eu não sinto essa responsabilidade. Tenho plena noção de que as palavras influenciam, porque todos nós somos influenciáveis. Eu sei que vai influenciar, agora, como vais usar isso é contigo”. T
udo depende da forma como cada um interpreta. “Cada um é responsável por si.”

Apesar da firmeza das palavras, a maturidade leva-o à contradição. O peso da fama e da consciência cada vez mais madura ouve-se em “Difícil”. “Fica mais difícil meu mano se não acreditares em ti. Vivo de trabalho, não vivo de títulos. Dizer aos putos do bairro que não é só acreditar ou sonhar… é trabalhar. E é nisso que tens de acreditar, depois arranjas tempo para sonhar.”

Parabéns pelos 33 “nigga”.

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