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Neste verão, Lisboa celebra a criatividade de artistas africanos e afrodescendentes aclamados internacionalmente. Neste artigo, conhecerás alguns desses artistas e viajarás pelas suas incríveis obras de arte. As propostas foram feitas por Ekua Nyansua Yankah, epidemiologista social, curadora, empreendedora e fundadora do projeto 189 Bangkok, um programa de residência artística que promove o intercâmbio cultural com artistas do continente africano.
De esculturas têxteis de Sonia Gomes, à reconstrução sonora proposta por Kiluanji Kia Henda, passando pela investigação histórica de Leo Asemota e pela mostra coletiva com curadoria de Cindy Sissokho, até à rebelião poética do Balumuka!, estas cinco exposições — entre Lisboa e Sines — afirmam novas narrativas visuais, históricas e afetivas a partir de África e da sua diáspora, revelando a força da memória, da resistência e da criação coletiva como ferramentas de reexistência.
1.ª Torcer, amarrar e prender de Sonia Gomes
A Kunsthalle Lissabon apresenta Torcer, amarrar e prender marca a primeira exposição individual em Portugal de Sonia Gomes, uma das vozes mais potentes da arte contemporânea afro-brasileira. Através de uma prática enraizada no uso de têxteis, Gomes resgata materiais descartados e esquecidos, convertendo-os em recipientes de memória, resistência e afeto. A sua obra é um gesto radical de reconstrução de vidas, vozes, histórias e saberes ancestrais tecido a tecido.
O título da exposição refere-se aos movimentos físicos e simbólicos presentes no seu trabalho: torcer, amarrar e prender tecidos que oscilam entre abrigo e exposição. Cada peça é fruto de um processo intuitivo e sensível, em que o toque conduz a criação. As esculturas expostas evocam corpos em equilíbrio, frágeis mas resilientes, profundamente ligados à sua terra natal, Caetanópolis, cidade têxtil de Minas Gerais.
A exposição inclui ainda obras colaborativas com o coletivo Ocupa e Borda, composto por bordadeiros da Ocupação 9 de Julho, em São Paulo. Estes trabalhos partem de bordados comunitários e evocam rios subterrâneos e memórias ocultas, promovendo autorias partilhadas e práticas feministas enraizadas na luta por justiça social e direito à habitação.
Torcer, amarrar e prender oferece um mergulho na poética de Gomes, onde o tecido é linguagem, corpo e território entre o íntimo e o coletivo, a ancestralidade e a invenção.
Sonia Gomes nascida em 1948 em Caetanópolis, Brasil, vive e trabalha em São Paulo. Iniciou a sua trajetória académica com a graduação em Direito e trabalhou como advogada antes de começar a sua carreira nas artes plásticas nos anos 1990, quando ingressou na Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais.
2.ª O som é o monumento de Kiluanji Kia Henda
Kiluanji Kia Henda apresenta um projeto simbólico em torno do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, em Luanda, conhecido como Maria da Fonte, erguido em 1937 e destruído em 1976, após a independência de Angola. A partir de imagens dos fragmentos do monumento e dos soldados envolvidos na sua demolição, o artista cria colagens digitais que resultam em oito posters monumentais de bandas musicais fictícias.
No centro da instalação está O Som é o Monumento, que é uma estrutura que reinterpreta o pedestal como caixa de som, difundindo músicas angolanas que constroem contra-narrativas ao discurso colonial. Com esta obra, o artista propõe o som como nova forma de monumento, transformando os escombros do passado em matéria de memória viva, insurgência cultural e resistência poética.
Kiluanji Kia Henda, nascido em 1979, Luanda, Angola, vive e trabalha no seu país de origem. O interesse do artista pelas artes visuais surge por ter crescido num meio de entusiastas da fotografia. A ligação com a música e o teatro de vanguarda, fizeram parte da sua formação conceptual, tal como a colaboração com coletivos de artistas em Luanda.
Participou em vários programas de residências em cidades como Veneza, Cidade do Cabo, Paris, Amman e Sharjah, entre outras. Kia Henda participou também nas seguintes exposições selecionadas: 1ª Trienal de Luanda, 2007; Check List Luanda Pop, Pavilhão Africano, Bienal de Veneza, 2007, entre outros.
A exposição pode ser visitada até 15 de novembro de 2025, de quinta a sábado das 14h às 18h.
3.ª A Riparian Lore de Leo Asemota
A Riparian Lore é o sétimo capítulo dedicado a um local específico em “Eo ipso”, a terceira fase do Ens Project e está em exibição no Hangar, Centro de Investigação Artística desde 25 de Julho a 6 de Setembro. Os capítulos anteriores desta terceira fase foram realizados no Tate Modern, em Londres (2012), no British Museum, em Londres (2013), na Bienal de Sharjah (2018), no Pitt Rivers Museum, em Oxford, e na Haus der Kulturen der Welt, em Berlim (2022).
A exposição mergulha nas complexas relações históricas e culturais entre o Reino do Benim e Portugal, evocando um encontro iniciado no século XVI durante os reinados de Oba Esigie e D. Manuel I. Asemota recorre tanto à tradição oral como a fontes escritas para refletir sobre esta ligação, articulando história, arte e identidade.
A exposição abre com obras produzidas em papel velino, cuidadosamente apresentadas em molduras e caixas de madeira de Sapele, criando um ambiente que homenageia práticas artesanais e simbologias ancestrais.
Leo Asemota, nascido em 1967 no estado de Edo, Nigéria. O artista contemporâneo vive e trabalha em Londres, na Inglaterra. Asemota utiliza fotografia, filme e vídeo, performance, escultura, desenhos e diversas progressões em seu trabalho.
4.ª From the Surrounds, We Build the Present, com curadoria de Cindy Sissokho
A Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, em Lisboa, inaugurou, no dia 3 de julho, a exposição From the surrounds, we build the present – ou Com o que nos rodeia, construímos o presente –, com curadoria de Cindy Sissokho e patente até 2 de novembro de 2025. Organizada pela Forward Art Stories Collection em colaboração com as Galerias Municipais/EGEAC, esta mostra coletiva reúne 23 artistas africanos e da diáspora em torno de uma reflexão sobre o quotidiano, o território e as estratégias de resistência nas margens da cidade e da história.
A exposição acolhe nomes consagrados como Abdoulaye Konaté, Grada Kilomba, Edson Chagas, Mónica de Miranda, Kiluanji Kia Henda ou Teresa Kutala Firmino. Ao todo, são 23 artistas representados pela coleção FAS, que tem sede em Lisboa e Luanda, e cujas obras se dividem entre instalações, colagens, esculturas e peças multimédia que ativam memória, desconstrução e reexistência.
A exposição convida o público a questionar o centro, a desafiar os mitos coloniais, e a reconstruir o agora com o que está nas margens. É, como disse a própria curadora, um “ trabalho repleto de alegria” e posiciona-se, como uma proposta curatorial que desafia as hierarquias da arte e oferece ao público um encontro com linguagens plurais, corpos diversos e histórias de um novo ponto de vista, mostrando que há espaço para outras narrativas, sobretudo numa altura em que começa a observar-se uma reconfiguração cultural e política em Portugal.
5.ª Balumuka! - Narrativa poética da liberação… ou ainda Rebelião Poética Kaluanda
O Centro de Artes de Sines recebe de 12 de julho a 15 de outubro de 2025, a exposição "Balumuka! – Narrativa poética da liberação...ou ainda, Rebelião Poética Kaluanda", com curadoria de Kiluanji Kia Henda e André Cunha. A exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, no período 14h00-20h00, e aos sábados, no período 12h00-18h00.
A exposição coletiva Balumuka! Traça um percurso artístico entre 1960 e 2025, centrando-se na dimensão do som e, por extensão, da imagem e do movimento como prática comunal e força geradora de resistência, identidade e transformação social em Angola. A mostra apresenta cinco filmes documentais que abordam, entre 1978 e 2018, diferentes expressões culturais angolanas: Carnaval da Vitória (António Ole), Mopiópio (Zézé Gamboa), É Dreda Ser Angolano (Pedro Coquenão + Luaty Beirão), Luanda – A Fábrica da Música (Kiluanje Liberdade e Inês Gonçalves), Para Lá dos Meus Passos (Kamy Lara). A estes juntam-se: a série fotográfica Luandar de Cassiano Bamba, um retrato da movida juvenil kaluanda, duas séries de Kiluanji Kia Henda (Versus Carnaval e O Som é o Monumento), obras de Wyssolela Moreira e da dupla Resem Verkron & Gegé M'bakudi.
As obras dialogam com arquivos sonoros e visuais da Valentim de Carvalho, compondo um retrato polifónico onde o som assume o papel de memória viva e motor de resistência.
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