“A Salvação” chegou para acabar com rumores e marca o encontro que faltava entre Prodígio e Valete

1 de Dezembro de 2025

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Prodígio e Valete juntaram-se pela primeira vez em estúdio para lançar “A Salvação”, tema revelado a 30 de novembro de 2025, acompanhado de um videoclipe realizado pela Afro Digital / Glaze. O encontro, inédito até aqui, reúne duas vozes que marcaram diferentes geografias do rap lusófono, mas que partem de uma matriz comum.

A receção imediata nas plataformas digitais evidencia o peso simbólico do momento, num tempo em que a cultura hip-hop se vê, demasiadas vezes, atravessada por lógicas de dispersão e homogeneização. “A Salvação” devolve ao género uma leitura mais ampla da realidade que o rodeia; das tensões sociais à espiritualidade, da ausência de políticas públicas para as periferias à crítica interna à própria indústria.

Essa camada torna-se visível no verso “nós contra nós sempre foi o plano deles”, ancorado no videoclipe por uma figura que manieta ambos os artistas. A imagem sublinha o alerta de que as divisões internas servem sempre um poder externo. O tema desdobra-se também em crítica ao estado do rap contemporâneo, quando se ouve “todos iguais, vocês estão a confundir o Shazam”, apontando para a cópia sistemática que ameaça diluir a identidade do género.

A linha “a igreja crê no cobre e o pobre crê no Cristo” acrescenta outra dimensão, a do confronto entre estruturas e sobrevivência, fé e desigualdade, temas que têm marcado diferentes momentos da expressão afro-lusófona contemporânea. E quando Valete e Prodígio invocam Azagaia, com “para isso ser melhor só com verso do Azagaia”, reconhecem no rapper moçambicano falecido em 2023 um dos pilares éticos e estéticos de toda uma geração. A homenagem situa a canção numa linhagem que transcende fronteiras e afirma uma continuidade de resistência cultural.

A entrevista concedida ao Rimas e Batidas ajuda a consolidar este enquadramento. É aí que ambos recordam o primeiro contacto, num camarim em 2022, e explicam como a colaboração voltou à mesa com o incentivo da editora. Mais decisivo ainda é o reconhecimento da origem que partilham — “somos a mesma pessoa: filhos das colónias, herdeiros da ditadura” —, frase que sintetiza toda a arquitetura do tema. Trata-se de uma declaração de posicionamento, mas também do sentimento de pertença de quem carrega uma história comum e recusa transformar essa condição em fronteira.

O encontro afirma-se como resposta a essa lógica, num gesto de alinhamento que recusa a fragmentação e reivindica um lugar comum de identidade e resistência.

“A Salvação” está disponível no YouTube e nas principais plataformas de streaming.

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