Academia BANTUMEN #3: Mohamad Baldé e a liderança estudantil africana em Portugal

15 de Agosto de 2025
Academia BANTUMEN estudandes iscsp
Membros do Núcleo de Estudantes Africanos do ISCSP | DR

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No terceiro capítulo da Academia BANTUMEN, mergulhamos na realidade do associativismo estudantil africano em Portugal através do testemunho de Mohamad Baldé. Estudante finalista em Administração Pública e Políticas do Território na Universidade de Lisboa, Baldé é ex-presidente do Núcleo de Estudantes Africanos do ISCSP e atual Senador Universitário, sendo o primeiro negro eleito para o órgão.


Fundado há mais de 30 anos, o Núcleo de Estudantes Africanos surgiu num contexto pós-colonial, inspirado nas antigas Casas do Povo. A sua missão é formar consciências e criar um sentido de pertença, tendo como referências figuras como Agostinho Neto e Amílcar Cabral. Baldé recorda que, durante a sua presidência, deixou como lema: Unidos pela educação, celebrando a diversidade africana.


Enquanto ex-presidente, defende que os valores do núcleo passam por apoiar, acolher e facilitar a integração dos estudantes africanos na Universidade de Lisboa. No entanto, reconhece que a palavra “integração” é contestada por algumas correntes críticas, que a veem como uma forma de assimilação cultural forçada ou perda de identidade. “A integração não deve ser vista como uma ameaça à nossa identidade africana, mas sim como um processo de adaptação que nos permita viver melhor e sentirmo-nos confortáveis no contexto académico português, sem termos de abdicar das nossas raízes”, declarou.


Ainda sobre a temática de integração, refere que o NEA dinamiza um intercâmbio entre núcleos, quer sejam eles políticos, femininos, africanos ou brasileiros, promovendo um diálogo aberto entre os estudantes, mas não esconde que por vezes o choque cultural acaba por minar essa convivência. “ Às vezes, uma das dificuldades que nós temos é a interação, porque possuímos barreiras culturais”, acrescentou.

Apesar dos desafios, há conquistas e o coletivo tem conseguido firmar acordos institucionais que permitem a regularização das propinas e documentação, e Baldé salienta a importância da colaboração com entidades como a AIMA e associações como a Olho Vivo, que ajudam na questão de agendamentos e, consequentemente, na legalização dos estudantes em Portugal.


Para Mohamad, estar numa posição de destaque, como presidente de núcleo ou senador universitário não é um privilégio pessoal, mas uma responsabilidade coletiva. Admite que a liderança deve existir em função do bem comum, e não da vaidade ou estatuto. “Se estou numa posição, é saber que estou numa posição de serviço. Não estou lá por mim, mas sim ao serviço daquelas pessoas que me lá colocaram”, afirma, acrescentando que a motivação vem do facto de ver resultados concretos e positivos da sua ação - desde o colega que supera um obstáculo ao estudante que avança graças a uma medida que foi defendida. 


Ser o primeiro estudante africano no Senado da Universidade de Lisboa não é motivo de vaidade, antes um sinal da falta de representatividade. A sua presença ali expõe, por contraste, a ausência histórica da comunidade africana em posições de decisão. “Às vezes não vejo isso como uma glória. Vejo isso como uma grande dificuldade que nós estamos ainda a deparar, deveria haver mais participação”, explicou. 


Com a estrutura em pleno funcionamento, o objetivo principal do Núcleo de Estudantes Africanos passa agora por garantir uma maior participação da comunidade e pela constituição da personalidade jurídica de forma a reforçar a independência e o impacto da ação. “Está na altura de começarmos a voar sozinhos e sair da bolha”, conclui.

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