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A Aliança dos Estados do Sahel (em francês: Alliance des États du Sahel, AES) é uma organização intergovernamental criada inicialmente como pacto de defesa mútua entre as juntas militares que controlam o Mali, o Níger e o Burkina Faso, em 16 de setembro de 2023. A sua fundação surgiu no contexto da crise política no Níger, após o golpe de Estado de julho do mesmo ano, perante o qual a CEDEAO ameaçou intervir militarmente para restaurar o governo deposto.
Desde então, Burkina Faso, Mali e Níger têm redesenhado o xadrez político da África Ocidental. Após meses de tensão com organizações regionais e potências internacionais, os três países anunciaram em julho de 2024 a transformação da AES numa confederação formal: a Confederação dos Estados do Sahel. Esta decisão representa uma rutura clara com estruturas como a CEDEAO e aproximação estratégica a novos aliados como a Rússia e Marrocos.
No dia 30 de abril de 2025, o presidente de transição do Burkina Faso, Ibrahim Traoré, reforçou publicamente a visão da nova aliança com um discurso anti-imperialista que recebeu ampla adesão popular dentro e fora do continente. Traoré é hoje uma das figuras políticas mais populares entre a juventude africana, sobretudo pelo seu posicionamento firme contra a ingerência de potências ocidentais, em especial a França, e pela aposta em novos eixos de cooperação global. "Seremos implacáveis e sem piedade perante aqueles que quiserem travar o desenvolvimento da nossa pátria", advertiu por ocasião da tradicional cerimónia de hasteamento da bandeira, a 1 de abril de 2025.
A nova Confederação dos Estados do Sahel assenta em três pilares principais: soberania, segurança e cooperação
Essa popularidade ficou evidente na mobilização de milhares de apoiantes na Praça da Revolução, em Ouagadougou, após declarações do comandante do AFRICOM, general Michael Langley, que acusou Traoré de utilizar reservas de ouro do país em benefício próprio. A acusação provocou uma onda de indignação, mas acabou por reforçar ainda mais a imagem do jovem líder como símbolo da resistência ao neocolonialismo. Com um discurso direto, firme e por vezes hostil às normas diplomáticas tradicionais, Traoré tem conquistado o apoio de artistas, ativistas e líderes de opinião que se revêm na sua retórica soberanista.
Desde 2020, os três países vivem transições políticas lideradas por regimes militares que, em nome da soberania e segurança, têm rejeitado aquilo que consideram ser ingerência estrangeira. Em janeiro de 2025, formalizaram a saída da CEDEAO, acusando a organização de defender interesses externos e impor sanções que penalizam os povos em vez dos governos.
A nova Confederação dos Estados do Sahel assenta em três pilares principais: soberania, segurança e cooperação. No terreno, estão em curso iniciativas como a criação de uma moeda única, um passaporte regional, um banco de investimentos comum e a eliminação do roaming entre os três países.
No domínio da defesa, têm-se estreitado relações com Moscovo, sobretudo no treino de tropas e fornecimento de equipamento militar, substituindo o apoio ocidental. No plano económico, o trio do Sahel procura acesso estratégico ao mar através de portos marroquinos, reduzindo a dependência de rotas comerciais sob influência da CEDEAO e facilitando as exportações de matérias-primas e bens essenciais.
Contudo, o avanço regionalista não está isento de conflitos. Em março de 2025, o abate de um drone militar do Mali junto à fronteira com a Argélia desencadeou uma crise diplomática entre os dois países, que culminou na expulsão mútua de embaixadores e no encerramento do espaço aéreo argelino a voos malineses.
Ao mesmo tempo, o Sahel continua a ser uma das regiões mais instáveis do mundo, com ataques jihadistas regulares e deslocações forçadas em massa. Estima-se que mais de 2,8 milhões de pessoas estejam atualmente deslocadas, com o Burkina Faso a liderar a lista com mais de dois milhões de refugiados internos.
Internamente, os regimes militares continuam a adiar os compromissos com transições democráticas. No Mali, uma recente conferência nacional recomendou a permanência do coronel Assimi Goïta como presidente e sugeriu a dissolução dos partidos políticos. No Níger, o general Abdourahamane Tiani governa desde julho de 2023, sob sanções internacionais e crescente pressão diplomática, mantendo um discurso de reconstrução soberana.
A criação da AES é já considerada uma das mais significativas ruturas com o modelo pós-colonial francófono
No dia 30 de abril de 2025, o presidente de transição do Burkina Faso, Ibrahim Traoré, reforçou publicamente a visão da nova aliança: “Gostaria de expressar a minha gratidão a todos os patriotas e pan-africanistas que se uniram pelo mundo fora para apoiar o nosso compromisso por uma nova África, livre do imperialismo e do neocolonialismo. Esta solidariedade fortalece a nossa convicção de que a luta por um mundo mais justo é legítima. Com vocês, temos a certeza de que a vitória sobre as forças do mal está próxima. Em solidariedade, derrotaremos o imperialismo e o neocolonialismo por uma África livre, digna e soberana”, escreveu no seu perfil na rede social X.
A criação da AES é já considerada uma das mais significativas ruturas com o modelo pós-colonial francófono. Ao rejeitarem estruturas herdadas da era colonial e abraçarem modelos de cooperação regional e parcerias não ocidentais, os líderes do Sahel propõem um novo paradigma africano: mais autónomo, mais enraizado na realidade regional e menos dependente de intervenções externas.
As ambições da AES não se limitam à segurança ou à economia. No plano simbólico, os líderes dos três países anunciaram o fim do francês como língua oficial, num gesto de descolonização cultural. No plano geopolítico, a aproximação a Marrocos poderá fortalecer a integração regional, especialmente através de projetos estruturantes como a Iniciativa Atlântica e o megaprojeto do gasoduto Nigéria-Marrocos, que vai atravessar 13 países, incluindo os da AES. Segundo o ministro das Finanças da Nigéria, Wale Edun, os Estados Unidos já demonstraram interesse em investir nesta infraestrutura, como revelado após as reuniões de primavera do Banco Mundial e do FMI.
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