Ana Paula Tavares, o percurso e a obra que levaram a autora ao Prémio Camões 2025

9 de Outubro de 2025
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Ana Paula Tavares, vencedora do Prémio Camões 2025 | DR

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A poeta e historiadora Ana Paula Tavares foi distinguida com o Prémio Camões 2025, anunciou a Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB). O júri justificou a escolha sublinhando “a sua fecunda e coerente trajetória de criação estética e, em especial, o seu resgate de dignidade da Poesia”, destacando uma obra em que a palavra é entendida como espaço de memória, de identidade e de resistência cultural.

Nascida em 1952, na província da Huíla, no sul de Angola, Ana Paula Tavares tem-se afirmado ao longo dos anos como uma referência da literatura contemporânea feita em língua portuguesa. Historiadora de formação, doutorou-se em Antropologia da História pela Universidade Nova de Lisboa e obteve o grau de Mestre em Literaturas Brasileiras e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa pela Universidade de Lisboa. Atualmente coordena o grupo de investigação de Culturas e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, no Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL), e colabora com o Arquivo Histórico Nacional de Angola. Lecionou na Universidade Católica Portuguesa e é Professora Auxiliar Convidada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, mantendo ainda colaboração regular com a RDP África.

A sua trajetória tem sido marcada pela articulação entre o trabalho académico e a criação literária, num percurso que faz da poesia um instrumento de escuta e de restituição da memória. A autora iniciou o curso de História na Faculdade de Letras do Lubango, hoje Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla (ISCED), tendo-se distinguido desde cedo na área da cultura. Em 1976 foi nomeada para o Conselho Nacional de Cultura de Angola, com atuação relevante no Cuanza Sul, e desenvolveu atividades em museologia, arqueologia, etnologia, património e animação cultural, áreas que se refletem na sua abordagem à história e às tradições do país.

Autora de uma produção poética que combina a densidade simbólica da oralidade com uma escrita de apuro formal, Ana Paula é amplamente reconhecida como uma das vozes mais consistentes e apreciadas da literatura angolana contemporânea. Entre os seus títulos mais significativos contam-se Ritos de Passagem (1985),O Lago da Lua(1999), Dizes-me Coisas Amargas como os Frutos (2001), A Cabeça de Salomé (2004) e Manual para Amantes Desesperados (2007). As suas obras, publicadas pela Editora Caminho, integram diversas antologias poéticas em Portugal, Brasil, França, Itália, Alemanha, Espanha e Suécia, confirmando o alcance internacional da sua escrita.

Em 2004 foi distinguida com o Prémio Mário António de Poesia, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian, e em 2007 com o Prémio Nacional de Cultura e Artes de Angola, na categoria de Literatura. O reconhecimento agora atribuído pelo Prémio Camões - criado em 1988 pelos governos de Portugal e do Brasil, e considerado o mais importante galardão literário da lusofonia - reforça a centralidade da sua obra na consolidação de uma poética africana que dialoga com a história e com a língua portuguesa.

Influenciada por autores como Manuel Bandeira, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, além da música brasileira que chegava a Angola por via das emissões radiofónicas, construiu uma voz literária em que o feminino, a terra e a ancestralidade se entrelaçam como fundamentos de uma memória coletiva. A sua poesia, simultaneamente íntima e histórica, devolve à palavra o poder de fixar o que o tempo dispersa, um gesto que o júri do Prémio Camões qualificou como “resgate de dignidade da Poesia”.

Com este reconhecimento, Ana Paula Tavares junta-se ao restrito grupo de escritores laureados com o Prémio Camões, ao lado de nomes como José Saramago, António Lobo Antunes, Mia Couto, Pepetela ou Paulina Chiziane.

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