“Não podemos falar de parentalidade só com mães”, Ângela Almeida entre colo, comunidade e futuro

6 de Novembro de 2025
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Ângela Almeida fotograda por Wilds Gomes ©️ BANTUMEN

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A infância é o primeiro território de identidade. É nas histórias, brinquedos e imagens que as crianças aprendem quem são. No entanto, muitas crianças negras crescem sem se ver refletidas nesses espelhos e, quando o olhar não encontra semelhança, a imaginação perde espaço para sonhar.

No dia 8 de novembro, o MIA – Mês da Identidade Africana abre espaço para refletir sobre esse tema no painel “Brincar com Identidade”, moderado por Wilds Gomes. O encontro reúne Ângela Almeida (Colo di Mamá), Henda Vieira Lopes (Yanda Psicologia) e Bárbara Almeida (Titacatita – Afrominds) para pensar a infância como um espaço de construção simbólica e cultural. A conversa convida a repensar o papel da família, da educação e da comunidade na formação da autoestima e da pertença das crianças.

Falámos com Ângela Almeida, técnica social na associação de jovens Mundu Nobu e fundadora do Colo di Mamá, uma plataforma dedicada à promoção da parentalidade consciente e à quebra de ciclos de crenças na educação. O projeto atua tanto no digital como em formato presencial, através de debates, podcasts, eventos e formações, criando espaços de diálogo sobre maternidade, educação e comunidade. É também criadora e host do evento “Quebrar Ciclos”, que reúne especialistas de diferentes áreas para refletir, de forma aberta e acessível, sobre temas essenciais da parentalidade contemporânea.

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MIA MIA 2025

“O objetivo é prepará-los para a vida, e não apenas colocá-los em lugares. Queremos que saibam lidar com as emoções, respeitar o outro e reconhecer o seu valor”

Ângela Almeida

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Ângela Almeida fotografada por Wilds Gomes ©️ BANTUMEN

Na associação Mundu Nobu, orienta jovens entre os 14 e os 18 anos, ajudando-os a desenvolver ferramentas para a vida adulta. O seu trabalho passa por capacitar e empoderar jovens, sobretudo da comunidade africana e afrodescendente, que muitas vezes “são os últimos a serem ouvidos e os primeiros a serem deixados de lado”. Para a técnica social, o foco está em preparar os jovens para além do contexto académico. “O objetivo é prepará-los para a vida, e não apenas colocá-los em lugares. Queremos que saibam lidar com as emoções, respeitar o outro e reconhecer o seu valor. Trabalhamos a empatia, a confiança e a descoberta do próprio eu, algo que muitas vezes ninguém nos ensina”, explicou-nos.

O Colo di Mamá nasceu com a maternidade. “A minha filha vai fazer sete anos e, há sete anos, nasceu também este projeto, que deixou de ser só o colo da minha filha para ser o colo de uma comunidade.” Criado a partir de uma necessidade pessoal de partilha, o projeto tornou-se um espaço de conversa e reflexão sobre parentalidade, educação, presença paterna e construção comunitária. “No início, era só a minha voz. Eu não via conteúdos que falassem verdadeiramente sobre a maternidade, sobre as dores e as alegrias desse processo. Então, comecei a falar eu. Depois percebi que não podia falar sozinha, precisava de ouvir outras pessoas, de criar um espaço coletivo.” Com o tempo, o Colo di Mamá passou também a incluir os pais como parte ativa da conversa. “Não podemos falar de parentalidade só com mães. Hoje, há pais presentes, que cuidam, que educam e que expressam afeto. É importante mostrar que há ciclos a serem quebrados e uma geração que quer fazer diferente.”

Na associação liderada por Dino D’Santiago, encontrou uma extensão natural do trabalho que já vinha a desenvolver. “Se queremos quebrar ciclos e preparar a próxima geração, temos de começar pelos jovens. Trabalhar com pais e mães é importante, mas é mais difícil, porque já estão em curso. Os jovens ainda estão em formação, e é com eles que podemos criar novas ferramentas e novos olhares sobre o mundo.”

“Não podemos falar de parentalidade só com mães. Hoje, há pais presentes, que cuidam, que educam e que expressam afeto”

Ângela Almeida

Agora, leva o seu olhar e experiência ao MIA – Mês da Identidade Africana, onde participa no painel “Brincar com Identidade”. “Foi um convite meio forçado”, diz entre risos, “mas aceitei com muito gosto.” O painel vai refletir sobre a importância de referências culturais nas brincadeiras das crianças e é, nas palavras da oradora, uma oportundiade para “falar sobre o brincar com propósito, sobre a importância de as nossas crianças se verem representadas nos filmes, nos livros, nos bonecos. É fundamental que aprendamos também a brincar com as nossas próprias histórias.”

A conversa contará ainda com a presença do psicoterapeuta Henda Vieira Lopes, que abordará a relevância da identificação das crianças negras nas suas brincadeiras, e de Bárbara Almeida, conhecida como Titacatita, fundadora da Afrominds, que trabalha com o empoderamento infantil. “Queremos trazer diferentes olhares, de pais, educadores e da comunidade, para mostrar que é preciso toda uma aldeia para criar uma criança. E que brincar, no fundo, é também um ato de identidade.”

Entre o Colo di Mamá e a Mundu Nobu, Ângela Almeida tem vindo a construir um caminho que une cuidado, representatividade e transformação social. A sua voz é um lembrete de que educar é, antes de tudo, um gesto de amor coletivo.

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