Carta Aberta sobre discriminação na vida noturna de Lisboa

^{Carta aberta enviada à redação da BANTUMEN pela organização do evento Clandestinos}

O recente cancelamento do nosso evento pelo MÖME, um clube sobejamente conhecido em Lisboa, utilizando a expressão de que seria “uma Noite Africana”, deixou-nos chocados e profundamente preocupados.

A nossa equipa inclui o DJ / produtor internacionalmente reconhecido Boddhi Satva, que muito trabalhou para criar um evento que atraísse pessoas para Lisboa, pessoas de várias cidades europeias.

Depois de um primeiro cancelamento inesperado e infundado pelo Go A Lisboa com pouco tempo de aviso prévio, no sábado, 1 de abril, recorremos ao MÖME, onde fomos convidados a reunir com um dos gerentes no domingo, 2 de abril, para garantir a melhor experiência para os nossos clientes, que enriqueceriam o público do clube.

Apesar dos nossos esforços para responder a todos os requisitos, fomos informados pelo proprietário do MÖME que não poderíamos realizar o nosso evento no seu espaço. Foi um choque.

Há algum tempo que a equipa do Clandestinos notou que existe uma tendência perturbadora de discriminação contra promotores negros e africanos na indústria globalmente, e especificamente em Lisboa.

Embora o Clandestinos seja um evento de música House, com um formato musical aberto, o nosso marketing e estética visual incorporam elementos que destacam a excelência da arte e cultura de África como a identidade principal do evento.

Primámos por nos unirmos a alguns dos melhores parceiros da atualidade, à Kawris Tix, uma startup de tecnologia de eventos para venda de bilhetes, à Nacaza Group, agência artística com 30 anos de experiência na indústria nacional e internacional, à Black Angels, um dos maiores promotores independentes de Lisboa, à Vibes.app, aplicação/rede social de eventos portuguesa e à Expresso Audio por toda a sua experiência em som e iluminação desde 1995.

Infelizmente, a falta de profissionalismo demonstrada pela equipa do MÖME e do seu proprietário, João Magalhães, teve impacto e prejuízos materiais, num projeto que nasce essencialmente de boas energias, e não negativas.

Devemos observar que as noites de domingo no MÖME são promovidas por amigos nossos, a “Voyage”, que contrataram muitas vezes Boddhi Satva para os seus eventos. Os seus eventos são predominantemente frequentados por pessoas de diferentes origens, que, com base nas nossas diversas e positivas experiências com eles, sempre mostram grande consideração para com os seus clientes.

Também devemos reconhecer e abordar que alguns promotores têm faltado com o profissionalismo e a ética de trabalho necessários para evitar confusões e problemas nos locais onde produzem eventos.
No entanto, é nossa opinião que esses eventos isolados serviram como uma desculpa para a exclusão sistemática e o preconceito em relação a qualquer coisa meramente frequentada por negros, ou outras minorias raciais.

Não é incomum os proprietários de clubes se referirem a promotores africanos de uma forma racista e muitas vozes de artistas, promotores e DJs foram silenciadas ou calaram-se por medo de terem as suas atuações “canceladas” ou por se fecharem portas nesses clubes, e não poderem trabalhar.

Isto tem de parar. Lisboa é uma cidade que amamos.

Acreditamos que todos devem ter o direito de desfrutar de música e entretenimento sem discriminação baseada em raça, etnia ou género.

A equipa Clandestinos não está a fazer acusações diretas de racismo contra o MÖME e o seu proprietário, mas as questões subjacentes em jogo são profundamente preocupantes.

É importante informar que já emitimos reembolsos na íntegra, para todos os clientes que compraram entradas para o evento.

Este obstáculo não deterá o nosso compromisso em criar e trazer experiências que celebrem a diversidade e a inclusão.