“Não quero cinco minutos de fama, quero uma carreira com base”, Cjey Patronato

8 de Maio de 2025
Cjey Patronato
📸 BANTUMEN

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Cjey Patronato é um artista e produtor que tem vindo a construir uma carreira, segundo o próprio, longe dos atalhos fáceis da indústria musical. Atualmente a viver em Portugal, o artista cabo-verdiano aposta numa abordagem autoral e independente, movido pela necessidade de comunicar ideias com conteúdo, consciência e estratégia. Recusa o rótulo de rapper e define-se como artista, pela amplitude dos estilos que abraça e pela liberdade com que escolhe o que canta - do afro ao funk - passando pelo rap e pela música de intervenção.


Costuma apresentar-se como artista porque, como explica, faz mais do que rap. “Depende do momento e do beat. Se me tocar, eu faço”, disse-nos durante uma entrevista no âmbito do festival Atlantic Music Expo de 2025.


Hoje, gere o próprio estúdio e os seus lançamentos de forma autónoma. A internet foi o primeiro palco, sobretudo o Instagram, onde começou a partilhar vídeos e versos com regularidade. Também a estética visual é parte da sua linguagem artística. Refere que gosta de se destacar pela forma como se veste e se apresenta, considerando essa dimensão uma extensão da sua arte.

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Agenda cultural

Não me faz sentido perder a minha essência só para ter mais visibilidade

Cjey Patronato

Defende que a música que cria é reflexo direto da sua personalidade e do seu pensamento. “Faço música de mensagem”, afirma, explicando que a base da sua arte é a consciência. Rejeita o rótulo “música consciente”, argumentando que toda música parte de alguém consciente. A preocupação social, a análise crítica e a defesa dos sentimentos reprimidos são elementos centrais nas suas letras. A abordagem, no entanto, não significa que ignore o lado comercial do setor. E mostra-se pragmático quando fala do equilíbrio entre arte e negócio: assume que quer viver da música e alcançar estabilidade financeira com ela, mas sem sacrificar os princípios que o norteiam. Já ouviu conselhos para seguir modas ou fórmulas fáceis de sucesso, mas rejeita esse caminho. “Não me faz sentido perder a minha essência só para ter mais visibilidade.”


Num cenário onde muitos artistas apostam em lançar singles com regularidade, Patronato segue em sentido contrário. Guarda músicas à espera do momento certo. Prefere trabalhar com calma, consolidar uma base sólida e estratégica. Com estúdio e gestão direta de toda a produção, está a preparar dois novos projetos: o álbum Laxus e o EP Check In.


Laxus explora relações humanas, afetos e raízes. O EP Check In, por outro lado, será mais direto, mas ainda assim alinhado com a sua identidade. Ambos os projetos fazem parte de uma nova etapa na carreira, marcada pela consolidação e profissionalização. Como afirma, “já não estou a preparar a minha carreira, estou a preparar os próximos passos”.


Cjey Patronato

Cjey Patronato, no AME 2025 | 📸 BANTUMEN/Eddie Pipocas 

Contudo, o artista não esconde o desencanto com a forma como o setor musical funciona (ou não) no país de origem. Afirma, sem rodeios, que em Cabo Verde não é possível viver da música, não por falta de talento, mas por falta de estrutura. É, nas suas palavras, “o país da música, mas não se vive da música. Não depende só do talento”.


Admite, que apesar do contexto, já se vê mais perto dessa realidade. E acredita que o ritmo de crescimento do mercado é um indicador favorável à emergência de novos talentos, ainda que seja necessário enfrentar "o processo". “É dificil, mas também se fosse fácil, qualquer um poderia viver da música


Na diáspora, a é realidade diferente. Os meios são mais acessíveis, há mais espaços para promoção, plataformas digitais e oportunidades. Ainda que isso não anule as dificuldades, acaba por tornar mais exequíveis algumas fazes do processo. Mas também aqui opta por não seguir a onda. Prefere trabalhar com consistência a longo prazo, em vez de depender de momentos virais ou de colaborações apenas estratégicas. 


O artista também partilhou a sua visão sobre o hip hop crioulo e a pertença cultural. Para ele, o essencial não é a língua, mas o conteúdo. Um artista branco que cante sobre realidades africanas pode, sim, fazer parte do movimento, desde que o faça com verdade e mérito. O critério, diz, deve ser a autenticidade, não a origem. Na sua visão, “se um artista branco está a trabalhar mais e a conseguir mais, os outros têm de refletir. Não é uma questão de cor, é uma questão de trabalho. A única competição que levo a sério é comigo mesmo”.


É essa consciência que também aplica à sua forma de estar. Reconhece que é muitas vezes visto como arrogante, mas rejeita essa leitura. O que está em jogo é simplesmente confiança no seu valor e no caminho que escolheu. “O que eu faço, só eu faço. Se alguém tentar, vão dizer que está a copiar-me.


A versatilidade musical que o caracteriza é deliberada e estratégica. Gosta de surpreender, de romper padrões, de evitar fórmulas. E, acima de tudo, de evoluir. Diz: “Se estão a assar carne, eu frito. Se fritarem, eu fervo.” A metáfora resume bem a sua abordagem: adaptável, mas nunca previsível. Recusa o brilho fácil e passageiro dos holofotes, preferindo construir um percurso com identidade, autonomia e solidez. “Não quero cinco minutos de fama, quero uma carreira com base”, conclui.

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