Conferência AFROMADRID analisa alargamento do Sistema Iberoamericano aos PALOP

Entre 13 e 16 de outubro de 2025, Madrid será a capital mundial da luta contra o racismo e da defesa dos direitos das comunidades afrodescendentes ao acolher a II Conferência Mundial AFROMADRID, sob o lema “Afrodescendentes: Força de transformação social. Reconhecimento e Justiça reparativa”. O encontro, que terá lugar em espaços simbólicos como o Museu Reina Sofía e o Senado Espanhol, reunirá líderes políticos, académicos, ativistas e representantes da sociedade civil de África, América e Europa, inserindo-se no contexto do II Decénio Internacional dos Afrodescendentes (2025-2034) proclamado pelas Nações Unidas. Mais do que dar continuidade ao legado de AFROMADRID 2015, esta edição pretende consolidar avanços institucionais e abrir caminho para uma agenda global que promova igualdade, reparações históricas e justiça climática.

Entre os objetivos específicos da cimeira destaca-se a ampliação do Sistema Iberoamericano aos países africanos de língua castelhana e portuguesa, com vista à criação de um Sistema Iberoafroamericano. Esta proposta inclui, de forma implícita, os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), procurando transformar laços históricos e linguísticos em instrumentos de cooperação política, económica e cultural. O novo espaço iberoafroamericano, a firmar-se, permitirá fortalecer articulações regionais e impulsionar políticas inclusivas de desenvolvimento sustentável e justiça social.

AFROMADRID 2025 decorre num momento em que o movimento afrodescendente acumula conquistas, desde a I Conferência Mundial Afrodescendente, realizada em La Ceiba, Honduras, em 2011, que lançou as bases para AFROMADRID 2015 em Espanha, até à criação do Foro Permanente de Afrodescendentes da ONU em 2021, considerada uma vitória coletiva do movimento e fortemente impulsionada pela primeira conferência em Madrid. O evento também se conecta com iniciativas internacionais como o Plano de Reparações de 10 pontos da CARICOM, que aborda as consequências históricas da escravatura e do colonialismo, e com a Declaração da Cimeira UE–CELAC de 2023, que reafirmou o compromisso de combater discriminações múltiplas e interligadas.

A nota conceptual da conferência sublinha ainda outros objetivos, como a criação e dotação de um Fundo de Desenvolvimento para Povoações Africanas e Afrodescendentes, a constituição do Conselho de Afrodescendentes e da Diáspora Africana em Espanha, o estabelecimento de mecanismos similares ao Foro Permanente da ONU noutras instâncias multilaterais como a OEA, CELAC, SEGIB, União Africana e União Europeia, e a definição da figura de um Representante Afrodescendente nacional com estatuto de embaixador ou conselheiro. Pretende-se igualmente fomentar uma aliança estratégica África–América–Europa baseada na cooperação e no benefício mútuo.

A programação contempla uma conferência tripartida, liderada por figuras de referência como Epsy Campbell, primeira presidente do Foro Afrodescendente da ONU, e Doudou Diène, relator da ONU e especialista da UNESCO, além de oito mesas de trabalho temáticas sobre racismo sistémico, reparações históricas, papel das mulheres afrodescendentes, mobilidade humana e património cultural. Está igualmente previsto um foro interparlamentar, várias conferências plenárias e um concerto contra o racismo, reforçando o caráter plural e participativo do encontro.

A conferência é organizada pela Associação Afrohispanos, África Activa, Movimento contra a Intolerância e Mulheres do Mundo Anna Perenna, com o apoio de um comité científico internacional e de um conselho político formado por autoridades que impulsionam a agenda afrodescendente. São esperados entre 200 e 250 participantes, incluindo representantes da sociedade civil, líderes comunitários, académicos, ativistas e organizações internacionais.