Eduardo Torr35 conta como a dor e a esperança deram origem a “Sonhos na Mochila”

20 de Outubro de 2025

Partilhar

Entre o concreto dos bairros periféricos de Lisboa e o som dos grilos nas noites silenciosas, cresceu Eduardo Torres, hoje conhecido artisticamente como Eduardo Torr35. A música surgiu como forma de dar voz ao que “não conseguia dizer em palavras”, funcionando como refúgio e instrumento de expressão de um miúdo que sempre se viu como “observador, timido, mas com uma cabeça cheia de ideias.” Sobre o “35” que tem no nome artístico, explica-nos que está relacionado com uma música que é feita de contrastes emoção e liberdade, introspeção e redenção. “Entre o 3 (emoção) e o 5 (liberdade), encontro quem sou, alguém que sente, mas não se prende.”

A infância, marcada por desafios e aprendizagem na rua, moldou o artista e o homem. “Cresci entre bairros periféricos e desde cedo a vida na rua ensinou-me muita coisa: resiliência, observação e como transformar experiências em histórias.” É essa honestidade que atravessa as suas letras  onde a nostalgia, a ambição e a superação coexistem.

O primeiro contacto com o rap deu-se em meados dos anos 90, quando o pai lhe mostrou uma cassete de Gabriel o Pensador. “Fiquei fascinado com a forma como ele contava histórias em todas as músicas. O meu pai sempre valorizou a cultura musical e incentivou-me a pensar criticamente. Gabriel foi o primeiro artista que me mostrou que o rap podia ser poesia com propósito.”



Pouco tempo depois, em 1997, mudou-se para o Casal dos Machados, onde recebeu a alcunha de Malcolm X, um nome que viria a carregar significado político e identitário. “Ganhei a alcunha na escola, por estar sempre a defender os meus. O nome tornou-se uma bandeira que representava a luta contra o conformismo e a busca por identidade.” A fase marcou o início de uma jornada de afirmação pessoal e artística, espelhada nas suas rimas de consciência e nas histórias que decidiu contar.

O seu mais recente single, “Sonhos na Mochila”, é uma dessas histórias, concentrada numa faixa que mistura melancolia e esperança, e que soa como um diário aberto de quem nunca desistiu de sonhar. “Foi escrita num momento de reflexão profunda. Estava a rever cadernos antigos e percebi que, apesar das dificuldades, nunca deixei de sonhar. ‘Sonhos na Mochila’ é sobre carregar tudo dores, vitórias, planos e continuar a caminhar.”

O tema traduz o peso das memórias, das lutas e da fé no futuro. “Usei uma abordagem crua e sincera. A letra nasceu primeiro, depois veio o instrumental com o KPT0, que captou perfeitamente o tom melancólico mas esperançoso.” O resultado é uma faixa com camadas emocionais que começa introspectiva e ganha força à medida que a fé se impõe sobre o desânimo.


A colaboração com KPT0 e o selo 10499520 Records DK deram-lhe espaço para criar sem filtros. “Foi uma experiência muito orgânica. Gravámos em sessões intensas, com muita troca de ideias. O selo deu-nos liberdade criativa total, o que foi essencial para manter a autenticidade.”

À parte dos números ou métricas, o artista quer provocar identificação. “Espero que toque corações. Que quem ouve se reconheça na letra e se sinta motivado a seguir em frente. Não procuro números, procuro impacto.” Quando escreve, não procura apenas relatar a sua vida, mas também espelhar a de outros. “As letras são autobiográficas porque acredito que a verdade conecta. A minha experiência pessoal é o ponto de partida, mas tento que as músicas falem também por quem viveu algo semelhante”, algo que pode ser ouvido nos seus versos, onde é reforçada a mensagem “não estás sozinho. A tua história importa.”

Sem pressas nem pressões, Eduardo prepara novos lançamentos. “O público pode esperar letras reais, emoções fortes e muita autenticidade.” O objetivo passa agora por “criar música que resista ao tempo, que seja trilha sonora de vidas reais. Não me movo por fama ou dinheiro, movo-me por propósito.”

E para quem começa, deixa um conselho que é quase um espelho do seu percurso: “Nunca deixem de escrever. Mesmo que ninguém leia, mesmo que seja só para vocês. Os ‘sonhos na mochila’ são reais e merecem ser vividos.”

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para redacao@bantumen.com.

bantumen.com desenvolvido por Bondhabits. Agência de marketing digital e desenvolvimento de websites e desenvolvimento de apps mobile