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Ao longo de três dias, de 10 a 12 de julho, a tabanca de Cassolol, localizada na Região de Cacheu, Setor de São Domingos e Seção de Suzana, acolheu a cerimónia Essanguey 2025, também designada por Eraney, que assinalou o encerramento oficial do ciclo de Fanado iniciado em 2024, retomado após 37 anos de interrupção.
Entre os Felupe, o Fanado constitui o mais importante rito de iniciação comunitária, marcando a transição formal da infância para a idade adulta. Realizado em matas sagradas, longe dos espaços habitados, o ritual decorre ao longo de várias semanas - este último deve a duração de 3 meses - durante as quais os jovens são submetidos a um processo de formação, sob orientação de anciãos e figuras tradicionais.
No caso dos rapazes, o Fanado masculino envolve ensinamentos sobre as responsabilidades individuais e coletivas, códigos de conduta, resistência física e disciplina. Em algumas comunidades, integra também práticas como a circuncisão, embora o foco principal resida na construção da identidade e no reforço do vínculo com os valores do grupo. Ao concluir o processo, os iniciados adquirem novo estatuto social, podendo participar em assembleias e rituais reservados aos adultos, e assumindo um papel mais ativo na vida comunitária.
O Fanado feminino, por sua vez, inclui, em certos contextos, práticas de mutilação genital, uma realidade ainda presente em algumas regiões, mas que tem vindo a sofrer alterações. Ao longo dos anos, vários projetos comunitários têm procurado preservar o simbolismo do rito de passagem, afastando os elementos que comprometem a integridade física das raparigas, num esforço para conciliar tradição e direitos fundamentais.
A cerimónia de Essanguey marca o regresso dos iniciados à comunidade. É o momento em que os jovens devolvem às matas sagradas os objetos utilizados durante o Fanado, num gesto de reconexão espiritual e encerramento simbólico do ciclo. Cumprido esse ritual, a aldeia transforma-se em espaço de celebração, com danças tradicionais ao som do bombolon, numa afirmação de pertença, continuidade e resistência cultural.
O campo Djilimenh Kumanhen foi o centro das celebrações, reunindo líderes comunitários, autoridades tradicionais e populações vizinhas. Acredita-se que os antepassados estão espiritualmente presentes nestes momentos, renovando os laços entre gerações e assegurando a transmissão das práticas ancestrais.
Entre os presentes estiveram a Secretária de Estado da Cultura, Nanci Cardoso, em representação do Governo central, a governadora da região de Cacheu, Honorina Vasconcelos, e o administrador do setor de São Domingos, José da Costa. “A cultura é um pilar da construção da identidade nacional e do desenvolvimento sustentável”, afirmou a governante.
De acordo com a página Cassolol Buringharim Guiné-Bissau, o Régulo de Cassolol, Djamaraka Djata, agradeceu a presença das autoridades e sublinhou o valor simbólico da cerimónia, que contou com uma forte adesão da juventude Felupe, incluindo jovens da diáspora, mobilizados a regressar para fechar o ciclo iniciático com a comunidade.
O evento reforçou o compromisso local com a continuidade da herança cultural guineense, afirmando a memória como ferramenta de identidade coletiva e desenvolvimento.
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