Academia BANTUMEN #2: Estudantes angolanos unidos, a missão coletiva de Ayrton Pahula

31 de Julho de 2025
 Estudantes Angolanos Portugal Ayrton Pahula
Ayrton Pahula, Presidente da Associação de Estudantes Angolanos em Portugal | DR

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No segundo capítulo da rubrica Academia BANTUMEN, mergulhamos na realidade do associativismo estudantil angolano em Portugal, através do testemunho de Ayrton Pahula, estudante de Direito na Universidade de Lisboa e presidente da Associação dos Estudantes Angolanos em Portugal (AEAP). A sua experiência é, simultaneamente, pessoal e coletiva: é a de alguém que saiu do Cunene, no sul de Angola, à procura de um sonho e acabou a representar centenas de jovens com as mesmas aspirações.


A AEAP foi fundada a 26 de agosto de 1992, em plena guerra civil angolana, por um grupo de bolseiros que sentiu a necessidade de se unir para exigir que os seus direitos fossem respeitados. Atrasos nos subsídios de bolsa e falta de apoio institucional deram origem a uma plataforma de defesa dos estudantes, que hoje conta com mais de 500 associados e uma presença ativa na vida académica, cultural e social.


Para Ayrton, a missão da associação resume-se a três palavras: unidade, solidariedade e trabalho. A unidade como tentativa de congregar uma comunidade estudantil dispersa; a solidariedade enquanto entrega sem fins lucrativos, muitas vezes com sacrifício pessoal; e o trabalho como motor de projetos, ideias e iniciativas em prol dos estudantes.


Gerir uma associação sem fins lucrativos, composta por jovens imigrantes, em Portugal, é um desafio constante. A falta de apoios financeiros, o difícil acesso a fundos estatais e a ausência de reconhecimento institucional são obstáculos que se somam. Segundo Ayrton, “não se faz nada sem finanças”, e muitas vezes as cotas dos associados não são suficientes para sustentar atividades à altura das necessidades. 

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 Estudantes Angolanos Portugal Ayrton Pahula

Membros da Assossiação durante o debate sobre a igualdade de género na sociedade angolana | DR

Ainda assim, há conquistas importantes, como o apoio da Embaixada, que disponibiliza um espaço físico para a sede, e parcerias com empresas como a TAAG, que oferecem descontos significativos aos estudantes.


Representar estudantes angolanos fora do seu país exige não apenas organização, mas também um forte sentido de responsabilidade patriótica. Nas palavras de Ayrton, essa representação exige integridade, humildade, verdade, transparência e democracia. Estes valores orientam a forma como a AEAP se posiciona: na escuta dos problemas dos seus colegas, na mediação com as autoridades e na criação de soluções práticas. Um agendamento conseguido, uma propina paga com ajuda de uma bolsa, um documento emitido a tempo. Pequenos gestos que têm um impacto real na vida de quem, de outro modo, poderia desistir.


Mas a luta também é política, mesmo quando se veste de informalidade. A questão racial surge como uma ferida ainda aberta. Para Ayrton, Portugal, apesar do seu passado colonial, continua a ter dificuldades em lidar com negros destacados. Muitos estudantes, por mais que se esforcem, não são valorizados academicamente. “Os nossos estudantes, quando estudam, esforçam-se, não podem ter um 14, um 15, porque o professor acha que ele merece só um 13, um 12.” Estas denúncias chegam à associação com frequência e são acolhidas com indignação, repúdio e ação.


O associativismo, nesta perspetiva, vai além da assistência: é também uma escola de cidadania. Como afirma Ayrton, “para aprenderes a nadar vais à escola de natação; para seres cidadão, o associativismo é essa escola”. É através da organização e da participação que se forma uma geração de jovens conscientes dos seus direitos, empáticos com o sofrimento dos outros, e dispostos a construir, através da solidariedade, um futuro mais justo, acrescenta.

 Estudantes Angolanos Portugal Ayrton Pahula

DR

Com olhos postos no futuro, a AEAP prepara atividades ambiciosas. Desde sessões de esclarecimento com figuras-chave do ensino superior português, até mentorias, workshops e eventos culturais, com o propósito de integrar, informar e fortalecer a identidade angolana em solo português. Piqueniques, torneios desportivos, caminhadas e gincanas culturais são formas de manter viva a ligação às raízes, mesmo a milhares de quilómetros de casa.


O associativismo, como diz Ayrton, é mais do que uma resposta às carências imediatas, é um espaço de formação cívica, de acolhimento emocional, de luta política e de reinvenção identitária. Quando os estudantes se organizam, não apenas resistem, transformam.

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