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Após a estreia mundial no prestigiado Festival Internacional de Cinema de Marselha (FIDMarseille), em julho, o documentário Complô, de João Miller Guerra, chega ao público português estreia esta setxa-feira, 17 de outubro, no Cinema São Jorge, em Lisboa, no âmbito do DocLisboa 2025.
Integrado na Competição Portuguesa do festival, o filme mergulha na vida de Ghoya - rapper, ativista e cidadão nascido em Portugal - que vive entre versos, fronteiras invisíveis e uma pertença constantemente negada. A sessão tem início às 21h45 e será seguida de uma conversa com o realizador e com o artista.
Com um olhar íntimo e sem filtros, o realizador acompanha o artista entre gravações, atuações e momentos de introspeção, revelando as contradições de um país que ainda não se reconciliou com a sua própria ideia de igualdade. Para lá do retrato biográfico, a produção abre uma reflexão sobre as fronteiras invisíveis que separam quem nasce em Portugal, mas é legalmente considerado “estrangeiro”.
“Este documentário é mais do que um retrato sobre mim. É sobre todos os que nasceram aqui, cresceram aqui, contribuíram para este país e, ainda assim, continuam a ser tratados como se não pertencessem. Abandonados por Cabo Verde e Portugal, desenvolvemos um sentimento de pertença mais generalizado. O Complô, realizado pelo João Miller Guerra, mostra uma parte da minha vida, mas também expõe um sistema que prefere ignorar realidades que não cabem nas suas estatísticas” explicou-nos o rapper, em exclusivo.
Ao longo do filme, a câmara segue o artista no quotidiano e nas pausas entre versos, onde o silêncio ganha o mesmo peso que a palavra. Há uma ternura crua no modo como Miller Guerra observa Ghoya enquanto pai, criador e homem em confronto com a burocracia, o racismo institucional e o peso de um sistema que o reconhece como cidadão de segunda linha. “Complô surgiu de um envolvimento profundo com o Bruno, a sua comunidade, a sua história e a luta política que eles personificam. Eu nunca pretendi resumir-me a um observador externo. A minha abordagem assenta em desenvolver relações que evoluem para colaboração”, afirma o realizador na sinopse que acompanha o filme.
“Órfão de um país onde nasceu, órfão do Estado. Encarcerado metade da sua vida, sempre livre.” Assim se descreve Bruno, o homem por trás do nome artístico, que transforma feridas em rimas. Em Complô, essa liberdade ganha forma através da arte e da urgência de existir com dignidade.
“Durante as filmagens, percebi que não era apenas um filme sobre a minha história, mas sobre uma ferida coletiva. Há uma geração inteira que vive num limbo, sem papéis, sem direitos plenos, sem voz. E quando a justiça e o Estado nos viram as costas, a arte torna-se o único lugar onde podemos existir de verdade. Este filme acompanha-me num período em que tudo parecia estar contra mim: o país, as leis, as fronteiras. Mas também mostra a minha resistência, através da música, da palavra e da fé em algo maior. Porque ser artista, no meu caso, não é entretenimento; é sobrevivência. Este documentário é uma janela para um lado de Portugal que raramente se vê no ecrã. Um país que fala de igualdade, mas ainda escolhe quem pode ser português, o Complô é o meu grito, mas é também o espelho de muitos”, concluiu o rapper e ativista.
O documentário, cuja produção ficou a cargo da Uma Pedra no Sapato, com distribuição assegurada pela Magenta, é um testemunho coletivo e político sobre pertença e identidade, filmado com a sensibilidade de quem observa o país a partir das suas margens. Além da realização, João Miller Guerra assina também o argumento do filme.
Depois da estreia no festival, Complô chegará às salas de cinema por todo o país no final de novembro, antes de seguir para o circuito internacional de festivais.
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