Blockchain, remessas e inclusão: as fintechs que estão a modernizar Cabo Verde

CaboPay: transferências internacionais quase sem custo

A CaboPay, liderada por Igor Monteiro, é uma plataforma de pagamentos globais baseada em blockchain, que utiliza stablecoins para permitir transferências internacionais a custo de microcentavos - uma revolução silenciosa num continente onde enviar dinheiro ainda é caro e lento.

“É a primeira vez que participo na Web Summit, e esta experiência tem sido uma oportunidade incrível para estudar e ver como a tecnologia está a evoluir, de forma a sabermos como avançar e adaptar o nosso produto ao mercado atual”, afirma Igor, entusiasmado com a dimensão e diversidade do evento. “Há uma mistura enorme de conhecimentos e culturas diferentes, pessoas a trazerem perspetivas de fora — é uma abertura gigante em termos de aprendizagem.”

O empreendedor reconhece, no entanto, que o caminho para a adoção de criptomoedas em Cabo Verde ainda é desafiante. “Neste momento, ninguém trabalha diretamente com criptomoedas no país, o que cria alguma resistência. As pessoas não sabem o que é, nunca usaram, e isso gera receio. Mas é precisamente aí que queremos atuar — a desmistificar o processo e a mostrar que o blockchain pode ser um instrumento seguro e acessível para todos.”

Com o apoio da Cabo Verde Digital, Igor Monteiro quer colocar o país no mapa da tecnologia financeira africana, abrindo caminho para uma nova geração de soluções seguras e transparentes que liguem Cabo Verde ao mundo.

Nikko Pay: reduzir custos e aproximar a diáspora

Outra fintech que chamou atenção foi a Nikko Pay, desenvolvida pela SunnyTech e liderada por William da Luz. A startup tem uma missão clara: tornar as transferências de dinheiro para Cabo Verde mais rápidas, seguras e acessíveis.

“A Nikko Pay é uma fintech que tem como objetivo facilitar as transferências de dinheiro para Cabo Verde de forma rápida, segura e com taxas reduzidas”, explica William. “Atualmente, existem mais de um milhão de cabo-verdianos na diáspora, que enviam cerca de 300 milhões de euros por ano para o país - o equivalente a 12% do PIB nacional em 2023. No entanto, esses envios enfrentam custos muito altos, com taxas entre 6% e 12%, e o dinheiro demora até dois dias para chegar.”

A Nikko Pay quer mudar esse cenário, tornando o processo mais eficiente e transparente. “Somos a primeira iniciativa do género apoiada pelo Banco de Cabo Verde, e estamos a trabalhar para integrar a nossa solução no mercado. O nosso objetivo não é competir com os bancos, mas colaborar com eles, trazendo tecnologia que modernize e impulsione o setor financeiro cabo-verdiano.”

Para William, a experiência na Web Summit tem sido essencial para dar visibilidade à fintech e criar novas ligações. “A Web Summit tem sido uma experiência extraordinária. Estou a fazer muito networking com empreendedores e profissionais de várias partes do mundo - desde o comércio em Portugal a desenvolvedores dos Estados Unidos e da Libéria, até equipas da área da cibersegurança. Cada conversa tem sido uma aprendizagem e uma motivação para continuar a crescer e a construir soluções que façam a diferença.”

A participação destas duas startups simboliza o momento de viragem do ecossistema tecnológico cabo-verdiano. Através da Cabo Verde Digital, o país tem apostado na formação, internacionalização e aceleração de empresas que atuam em áreas estratégicas - como a energia, a economia criativa e, cada vez mais, as fintechs.