Fokiss Júnior, o jovem fenómeno que quer mudar a música moçambicana

Na Mafalala, um dos bairros mais emblemáticos de Maputo, onde o asfalto dá lugar ao pó vermelho e a sobrevivência é uma arte diária, nasceu um dos nomes mais promissores da nova música moçambicana. Fokisso Manuel, ou simplesmente Fokiss Júnior, é conhecido no bairro como “mufana wa muganga” - o jovem do bairro - e é precisamente daí, da rua onde cresceu, que retira a matéria-prima para compor canções que se tornaram espelhos da realidade social do país.

Com um sorriso fácil e uma postura que ainda denuncia a surpresa da fama, Fokiss está a aprender a lidar com o impacto de se tornar, quase da noite para o dia, num fenómeno da música jovem. O ano de 2024 marcou um antes e depois na sua carreira com o lançamento da música “Empoderada Errada”, um tema que não só viralizou como se transformou numa presença constante nas festas e playlists moçambicanas. Mas, mais do que um hit, a canção é um reflexo crítico da sociedade.

“Como jovem vejo que algumas mulheres esforçam-se nos estudos, nos negócios ou no trabalho, mas existem infelizmente muitas jovens que optam pelo ‘empoderamento errado’, atrás de sugar daddies, fazem troca de serviços e outras coisas negativas onde o corpo é a principal fonte de renda”, explica o artista. O sucesso da faixa foi tão avassalador que transformou a sua vida pessoal e profissional.

“A minha vida mudou muito depois do lançamento de "Empoderada Errada". Graças a Deus consigo hoje minimizar as minhas necessidades como jovem africano, considerando as dificuldades que enfrentamos no nosso continente. A minha fama foi repentina. Eu não estava preparado para isso, mas fiz deste momento uma oportunidade para investir e me lançar como empreendedor na área de logística e na construção civil”, revela Fokiss, que até há pouco tempo era trabalhador de obras.

Esse salto de um quotidiano precário para os holofotes do estrelato é também o retrato de uma juventude que, apesar das limitações, ousa sonhar. Fokiss é um desses jovens, determinado em fazer parte da construção de uma indústria musical sólida em Moçambique e não só.

“Sinto que a nossa arte e música estão conectadas a outros lugares do mundo onde se fala português. Por exemplo, sei que em Portugal a minha música é bastante ouvida e penso que podemos fazer mais alguma coisa”, diz, com a certeza de quem já está a trilhar esse caminho de internacionalização.

Com apenas 22 anos, Fokiss já é uma referência no novo som moçambicano. A sua autenticidade e capacidade de retratar o quotidiano urbano despertaram a atenção de nomes consagrados como Dudas Aled, Mr. Bow e a Banda Kakana, com quem gravou recentemente a música “Gwaza Muthini”.

Mas o artista vai mais longe na sua visão: quer que a sua voz seja também um apelo para um país que valorize mais os seus criadores. “O nosso país precisa apoiar mais os artistas, temos necessidades básicas e somos a imagem do nosso país. Gostaria muito que houvesse políticas públicas e uma consciência maior do papel do artista, por isso aconselho aos jovens que não desistam, batam portas, incomodem as televisões, as rádios, invistam e acreditem nos vossos talentos”, sublinha.

A história de Fokiss Júnior é uma lição de resiliência e ambição, mas também um lembrete da potência artística que nasce nas margens. Das harmonias do coro da “Igreja Velha Apostólica”, onde descobriu a paixão pela música, às ruas poeirentas da Mafalala que moldaram o seu olhar crítico, Fokiss é um reflexo sonoro da juventude moçambicana, complexa, crítica e criativa.

Se ainda não ouviste “Empoderada Errada”, este pode ser o momento de perceber por que razão a voz de um jovem da Mafalala está a ecoar para muito além dos limites do bairro.