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Ibraim Cândido Sanó, conhecido artisticamente como Ibraim Cândido, é um ator de origens moçambicana e guineense, cuja carreira se distingue pelo equilíbrio entre talento, disciplina e valores sólidos. Nascido a 9 de janeiro de 1992, iniciou o contacto com as artes dramáticas aos seis anos, quando se mudou de Moçambique para Portugal, mas a decisão de seguir profissionalmente a carreira artística surgiu apenas em 2017, após a sua participação no filme Lovers on Borders, inicialmente como figurante. “Passávamos 12 horas a filmar, e o tempo não passava; eu estava muito contente. Foi aí que tive a certeza de que queria mesmo seguir esta carreira, porque no início era apenas uma ideia daquilo que eu gostava”, recordou.
Antes de ator, apresenta-se acima de tudo como um ser humano comprometido com valores de igualdade, humildade e respeito. “Somos todos iguais, independentemente do que tivemos ou alcançamos à face da Terra”, afirmou, refletindo uma filosofia que se estende à forma como trata todas as pessoas, do diretor do hotel à pessoa que limpa a casa de banho. Ex-atleta e modelo, prioriza a família e orgulha-se de ser padrinho de cinco afilhados. “Não é só estar presente no Natal ou no verão, mas também transmitir aquilo que eu tive na educação e garantir que eles não sintam falta de nada”, explicou.
Com ascendência guineense, moçambicana, o ator revela que, apesar de possuir nacionalidade portuguesa, identifica-se profundamente com a cultura africana: “Apesar de ter a nacionalidade portuguesa, eu sou mais africano. Nós somos o que somos, não o que o nosso documento mostra. A minha base é toda africana”. Esta identidade atravessa toda a sua vida, desde a forma como interage socialmente até ao trabalho artístico.
“O trabalho do ator não começa quando está em frente à câmara. Começa muito antes, com estudo e preparação mental da personagem”
Ibraim Cândido
Ibraim Cândido/DR
Ibraim Cândido/DR
Perguntado sobre as influências que o levaram a seguir carreira artística, Ibraim conta que já era muito ligado às artes, mas que tudo começou pelo impulso da tia: “Quando eu era muito novo ela via muitos filmes do Denzel Washington, porque era o ator preferido dela, então passou também a ser o meu”. O ator destaca também o impacto das novelas brasileiras no despertar da sua curiosidade e os conselhos de amigos que já estavam na área, como o ator da Globo Danilo Ferreira e Alex Miranda.
Reconhecendo a instabilidade da profissão, especialmente para jovens negros, reflete sobre esse peso, questionando “que profissão não é insegura para nós?”. A resposta, no seu caso, está ligada à família e às orientações que lhe foram dadas: garantir formação académica seria não uma forma de blindar, mas de contornar essas adversidades. Concluiu a licenciatura em Estudos Europeus e Relações Internacionais e atualmente estuda Business em Londres. “O que aprendi cedo é que a carreira de ator é insegura, mas precisamos ter algo que nos mantenha seguros. Trabalhar para manter o básico e, no tempo livre, investir no sonho”, explicou.
Ao olhar para trás, o ator revelou que a experiência de ser figurante no seu primeiro trabalho foi de igual modo reconfortante ao trabalho internacional. “Foi muito bom, porque não senti o tempo passar e pude sair do mundo real, umas das vantagens de ser ator. Apesar do papel não ser o mais apelativo, foi um trabalho que alimentou o meu sonho”.
Foi após a participação em "Tray São" que Ibraim sentiu o verdadeiro peso da profissão, até porque, como conta, “foi a experiência que precisou mais de mim, onde tive que dar mais, sendo um filme independente, por ser protagonista e também por perceber que a história era em torno de um personagem que traía a mulher, algo que está assente na nossa cultura”. Ressalta ainda que teve que conciliar o seu outro emprego com a carreira de ator e que a conciliação do trabalho profissional com os horários de filmagem exigiu disciplina acrescida. “Eu trabalhava de segunda à sexta-feira, sábado e domingo estava a filmar, isto durante 6 meses. O cansaço era tanto, mas o amor pelo projeto fez com que eu conseguisse levar essa vida”.
“Os sentimentos reprimidos que criei e guardei ao longo dos anos, passei alguns para o Afonso [personagem da série da Amazon]”
Ibraim Cândido
O papel de Afonso na série internacional "The Assassin", que integra o catálogo da Amazon Prime, marcou um ponto alto da carreira. A oportunidade surgiu após Ibraim consolidar os seus créditos no IMDB e criar perfil na plataforma Spotlight, a maior para castings no Reino Unido. Para o personagem, descrito como um sociopata mercenário, o ator fez um estudo aprofundado do comportamento psicológico: “O trabalho do ator não começa quando está em frente à câmara. Começa muito antes, com estudo e preparação mental da personagem.”
Filmado na Grécia, o papel exigiu que canalizasse emoções pessoais e reprimidas, transformando-as em expressão artística. Sobre dar vida ao personagem, conta que não foi muito difícil: “Já era um papel que eu queria fazer e os homens têm aquilo de guardar sentimentos. Os sentimentos reprimidos que criei e guardei ao longo dos anos, passei alguns para o Afonso.”
Por ser o seu primeiro projeto internacional, o ator apelida-o como ‘bebé’. “Vai marcar-me sempre por ser o primeiro personagem que me catapultou internacionalmente”, declarou.
Para Ibraim, cada passo da carreira, especialmente a de atuar em "The Assassin", reforçou a importância da perseverança, ética e humildade. “Quando és bem educado e tratas todo mundo de forma justa, acabas por ganhar, merecer ainda mais”, refletiu.
A experiência internacional foi também um momento de autodescoberta que revelou a importância de acreditar aliada ao compromisso e ao esforço. “Nada é impossível. Trabalhar com atores que cresci a ver na televisão, como Freddie Highmore ou Keeley Hawes, mostrou-me que o esforço compensa”, enunciou.
Sobre os projetos que estão por vir, revela que não basta apenas ter um agente, e destaca a importância de trabalhar sobre o talento: “Eu esperei que a série saísse para ver com o meu acting coach e agentes que tipo de trabalho eu posso fazer por trás, pois não adianta ficar apenas sentado no sofá à espera de um casting.” Atualmente, o ator está mais focado em aprimorar o seu dom e, em termos profissionais, reconhece que é preciso aguardar o lançamento do último trabalho em todos os países: “A série ainda não saiu em todos os países, e isso também tem a ver com a perceção do público.”
Ao mesmo tempo, lembra a importância da iniciativa pessoal e usa, a título de exemplo, a experiência que teve em Portugal, marcada por um mercado onde as oportunidades eram escassas até para atores mais experientes. “Não tive muitas oportunidades, e até atores mais experientes também não tinham, mas não manifestaram a sua situação. Então, o que farás para mudar a tua? Não podes ficar apenas no meio de cento e tal atores a reclamar. Dito isto, façam o que for preciso para alcançar os vossos sonhos, porque só sonhar não chega”, afirma, sublinhando também a necessidade de conciliar segurança financeira com ambição artística: “Não tenhas medo de ser pobre, porque hoje podes ganhar bem com o teu papel, mas depois só conseguir outro daqui a anos, por isso, primeiro trabalha para manter o básico e depois investe no sonho.”
No final da entrevista, Ibraim Cândido deixou um conselho aos jovens que desejam ingressar no mundo profissional da representação: “Sonhar é importante, mas não é suficiente. A carreira de ator é muito solitária e dura”, concluiu.
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