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Joana Prista e Adriana Prista-Johnson estão à frente da IKIGAI360, uma agência de comunicação e criatividade com raízes em Moçambique e uma estrutura cada vez mais transnacional. A expansão para Portugal, formalizada com a abertura de uma nova sede, marca uma nova fase num projeto que começou por responder a necessidades locais e passou a operar entre contextos culturais distintos. A ambição de crescimento, no entanto, nunca esteve desligada do compromisso com uma abordagem estratégica, colaborativa e sensível às especificidades de cada mercado.
Na base da transformação da antiga IKIGAI Moçambique está uma vontade clara de consolidar um modelo de agência que alia planeamento e execução, criatividade e rigor, escuta local e capacidade de articulação internacional. A decisão de atuar a partir de Portugal surgiu, segundo as entrevistadas, como resposta natural ao percurso já feito com marcas internacionais e à vontade de operar num mercado mais exigente em termos técnicos, estratégicos e criativos. “Foi uma decisão pensada, mas também sentida”, referem, destacando o papel que Portugal pode ter enquanto ponte entre África, Europa e América Latina.
Ao contrário de outros processos de internacionalização que se centram na expansão territorial, a IKIGAI360 procurou alinhar essa transição com a reformulação da sua própria estrutura. A abertura da nova sede foi acompanhada por mudanças internas, incluindo a adaptação dos processos de trabalho, o reforço dos mecanismos de colaboração entre equipas em diferentes geografias e o redesenho das metodologias de abordagem ao cliente. A prioridade, dizem, foi garantir coerência: manter o ADN africano da agência enquanto se introduzia um novo grau de sofisticação e sistematização operativa, ajustado às exigências do mercado europeu.
A entrada no mercado português trouxe consigo um conjunto de desafios que exigiram da equipa uma atenção redobrada às diferenças estruturais, culturais e operacionais entre os dois contextos. Um dos primeiros obstáculos identificados por Joana e Adriana Prista foi a necessidade de compreender a fundo as dinâmicas locais, desde os hábitos de consumo à forma como as empresas estruturam os seus processos de comunicação, passando pelas expectativas dos clientes em relação ao papel de uma agência criativa. A adaptação não se fez por decalque, pelo contrário, obrigou a agência a rever abordagens que funcionavam bem em Moçambique, mas que, em Portugal, exigiam reformulação. “Não se trata apenas de replicar o que já fazemos bem: é preciso adaptar, ajustar e, em certos momentos, reaprender”, explicam. A transição implicou também um trabalho interno de afinação dos modelos de operação, de forma a garantir que a expansão territorial não criasse ruturas na coesão da equipa.
A IKIGAI360 optou por envolver todos os departamentos nas decisões estratégicas, promovendo a transparência e sublinhando que o crescimento era coletivo. Para Joana e Adriana, a dispersão geográfica não justifica uma lógica de funcionamento fragmentada. Ao contrário, reforça a importância de metodologias partilhadas, de canais de comunicação eficazes e de uma cultura de agência que transcenda a localização física. A par destes ajustes mais estruturais, houve também uma série de questões operacionais, legais, fiscais e até culturais, que exigiram tempo, recursos e capacidade de resposta. Nenhum destes elementos foi subestimado e todos fizeram parte de um processo de transição que foi sendo calibrado com atenção ao detalhe e com consciência dos ritmos próprios de cada contexto.
Apesar das exigências, as perspetivas de crescimento são otimistas e sustentadas. A abordagem em território português tem sido progressiva, centrada na construção de uma base sólida, com atuação em setores onde a agência reconhece afinidade entre a sua proposta de valor e as necessidades dos clientes. Entre esses setores, destacam-se as marcas com propósito social, os projetos com ambição de expansão internacional e as estruturas que valorizam a interseção entre criatividade, estratégia e execução. Em vez de apostar num crescimento acelerado, a agência tem preferido trabalhar com projetos-piloto e parcerias sob medida, que permitem testar modelos, ajustar processos e consolidar uma presença local com consistência.
No horizonte estratégico da IKIGAI360 está a vontade de afirmar-se como referência na comunicação com impacto, mantendo simultaneamente a sua matriz africana e a capacidade de operar com pertinência em Portugal, Angola e Moçambique. Essa articulação geográfica é reforçada pela ligação a uma rede internacional de agências que operam em diversos contextos, incluindo Londres, Dubai, Namíbia, Zâmbia, África do Sul e Nigéria. A pertença a essa rede amplia o alcance da agência e permite-lhe responder com maior eficácia às necessidades de marcas que procuram operar de forma integrada em múltiplos mercados, com mensagens adaptadas, mas coerentes entre si.
O trabalho com equipas mistas, distribuídas por diferentes geografias, é entendido pelas fundadoras como uma mais-valia e não como um constrangimento. Desde o início, a empresa adotou um modelo híbrido de colaboração, onde o critério de afetação aos projetos é definido em função da adequação entre competências e necessidades, e não da localização geográfica dos profissionais. Um designer sediado em Moçambique pode, sem qualquer obstáculo, integrar um projeto desenvolvido em Portugal, e o inverso também se verifica. O que conta, explicam, é a qualidade da resposta, a visão estratégica e a disponibilidade para trabalhar num modelo de agência que exige flexibilidade, rigor e capacidade de colaboração transversal. Para garantir a fluidez deste funcionamento distribuído, a equipa recorre a ferramentas de gestão partilhada, rituais de alinhamento regulares e práticas que reforçam o sentimento de pertença, independentemente da distância física.
Do ponto de vista criativo, a presença em contextos tão distintos trouxe aprendizagens relevantes. Em Moçambique, o processo de criação tende a ser mais intuitivo e versátil, moldado por orçamentos mais contidos e por uma forte ligação à oralidade, à emoção e à realidade local. Em Portugal, o grau de exigência técnica e conceptual é mais elevado, tanto no que respeita ao design como ao desenvolvimento das campanhas. Os consumidores estão expostos a referências internacionais e esperam soluções esteticamente rigorosas, com execução detalhada e discurso estruturado. Em vez de contrapor estes dois universos, a agência opta por integrá-los. Para Joana e Adriana, o contacto com estas realidades permite-lhes operar com um duplo regime de exigência: por um lado, a agilidade e a capacidade de improviso adquiridas no contexto moçambicano; por outro, o refinamento e a disciplina técnica exigidos pelo mercado português.
Essa convivência de práticas, longe de constituir uma contradição, é vista como uma vantagem competitiva. Permite à agência ajustar-se a contextos diversos sem abdicar da sua identidade e, sobretudo, sem cair na tentação de aplicar soluções padronizadas a realidades que exigem leitura fina, sensibilidade cultural e capacidade de adaptação. É neste ponto que a língua portuguesa, embora facilitadora, deixa de ser suficiente. A partilha linguística entre Portugal, Moçambique, Angola e outros países de expressão portuguesa é uma ferramenta de trabalho, mas não substitui a necessidade de reconhecer e respeitar os marcadores culturais que atravessam cada território. “Não podemos simplesmente traduzir, temos de adaptar, sentir, ajustar”, dizem, insistindo que a eficácia da comunicação depende da capacidade de trabalhar nas margens subtis da linguagem, onde o mesmo termo pode significar coisas diferentes conforme o contexto em que é usado.
Nos últimos meses, o ritmo tem sido intenso, mas sustentado por decisões intencionais e calibradas. Uma das primeiras ações foi escutar o mercado e os parceiros locais, o que permitiu afinar propostas, ajustar expectativas e rever processos que, noutros contextos, tinham funcionado sem fricção. Paralelamente, houve uma aposta na consolidação interna, com foco no alinhamento entre equipas e na preservação da cultura da agência, que continua a ser uma das principais referências para o modo como a IKIGAI360 se posiciona.
As expectativas agora passam por estabelecer uma presença sólida em Portugal e reforçar o papel da agência como ponte preferencial para marcas que operam, ou pretendem operar, entre diferentes países de expressão portuguesa. Num momento em que cresce a consciência sobre a importância de uma comunicação culturalmente sensível e alinhada com os contextos onde atua, Joana e Adriana Prista acreditam que há espaço para uma agência que questiona.
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