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Ivandro foi o artista nacional mais ouvido pelos portugueses no Spotify, em 2022. Esteve na lista final dos selecionados para compor para o Festival da Canção 2023, pela RTP. Após ter sido nomeado para Artista Revelação nos PLAY – Prémios da Música Portuguesa, no mesmo ano, venceu o prémio de Melhor Canção do Ano, com o tema “Lua” e também venceu na categoria de Melhor Artista Masculino.
Da declaração à “Moça” com um olhar na “Lua”, é agora tempo de lançar o seu primeiro álbum, Trovador, um disco que teve e levou o seu tempo. Em construção desde 2021, este é o trabalho mais fiel e próximo da pessoa que é o Joaquim Ivandro Paulo, diz o próprio.
Coincidência ou não, foi num dia de chuva, que poderia despertar a imaginação dos mais românticos, que sentei-me com Ivandro, quase três anos depois desde a última vez, para falarmos da sua música, dos prémios, das grandes mudanças que tem vivido à descoberta de quem é musicalmente – e que resultou no álbum.
“O segredo é a música ser real. Todos esses temas que funcionaram muito bem, são músicas em que fomos para o estúdio sem compromisso, sem ideia do que é que íamos fazer e estávamos mesmo lá dispostos a pôr o que tivéssemos a sentir na música. E foi isso, sem pensar como é que as pessoas iam achar ou o que iam pensar. Fizemos a música, ouvimos, olhamos para todos e vemos que a sala, toda a gente na sala percebe, tipo, encontramos alguma coisa. Sinto que já encontrei e este álbum é um bocadinho para mostrar isso às pessoas. Porque não me encaixo só num estilo de sonoridade. Acho que neste momento já sei onde é que me encaixo bem, há certos estilos que se calhar não sinto que sou tão bom a fazer”, explicou-nos Ivandro acerca das suas últimas músicas terem estado no top das playlists e a essência que pôs no álbum.
Este álbum representa a jornada de um poeta, explorando suas vivências através das palavras, onde se descobre e redescobre. Utilizando as linhas de um caderno como guias de seu destino, foi assim que o artista moldou sua identidade atual. A criação do álbum ocorreu de forma orgânica, sem a intenção inicial de produzir músicas específicas, mas com o propósito claro de narrar uma história de forma coesa, garantindo que cada música contribua significativamente para o conjunto da obra.
Foram necessários três anos para este álbum sair. Para Ivandro era importante lançar músicas que se adaptassem num projecto, num todo, e perceber como elas juntas poderiam fazer sentido sonoramente. Este trabalho acabou por ir além fronteiras, desde o processo de produção à pós-produção, “houve temas que falamos com o pessoal dos Estados Unidos, houve temas que falamos com o pessoal do Gana, da Nigéria… Tivemos que ir buscar os sabores porque sabíamos que faltava ali um tempero. E foi um bocadinho descontraído, não quis ir sempre para o estúdio a pensar, ‘ok hoje tenho que fazer uma música nova para o álbum’. Fui só fazendo música e comecei a reparar que eventualmente elas faziam sentido juntas. Eu consigo ver a ligação de um tema para o outro (…) as próprias energias, o ambiente à tua volta, faz-te conectar as coisas, e foi mais uma questão de perceber quais as músicas que têm essa ligação”, disse-nos.
Trovador surge como as suas notas mais pessoais, além de ter sido também desenvolvido como um processo quase terapêuticio. “Sou um artista da nova geração, apanhei toda esta história da pandemia. Estava num trajeto de ascensão, sem dúvida, antes de começar a pandemia, tipo 2020, e de repente veio a pandemia que parecia que tinha mudado tudo e como é que as coisas iam passar a ser. E tivemos que nos adaptar. O processo criativo acabou por ser diferente mesmo depois em estúdio. Porque a pandemia obrigou-nos como artistas a fazer uma introspecção. Olhaste para dentro de ti porque não havia mesmo maneira de estar cá fora e olhaste para o mundo. Por isso, sem dúvida, isso afetou muito no álbum. Seja a escrita dele e quais são as mensagens que estão lá, porque é muito mesmo essa introspeção, essas batalhas”.
O facto de ter passado muito tempo em casa, devido à pandemia, percebeu que muita gente estava a passar pelo mesmo que ele e talvez até a ter os mesmos pensamentos. Então, escreveu e cantou coisas que sabia que as pessoas também se pudessem identificar. Porque, “de certeza que não estou sozinho a passar por essas batalhas. Isso estava a acontecer no mundo todo, estamos todos em casa, estamos todos a tentar pensar como é que vai ser o nosso amanhã, toda a gente está com essa preocupação e isso abriu-me as portas e abriu-me criativamente para poder falar sobre vários temas”.
O Trovador são as coisas que o Ivandro de alguma forma não conseguiu verbalizar directamente, então cantou-as. Se nunca as disse, não foi por não tentar, “mas às vezes, numa conversa ou numa discussão tu vais dizer coisas, a outra pessoa vai dizer coisas, e está ali uma troca. Quando se trata de uma canção, e mesmo que seja para alguém, a pessoa só vai receber a tua mensagem, a falar de todos os pensamentos e ideias do início ao fim sem ser interrompido. Isso é muito difícil de fazer acontecer no mundo real. No mundo perfeito, se calhar, isso aconteceria. Mas somos todos humanos e sentimos coisas, e às vezes atrapalhamo-nos a exprimir“.
Este álbum mostra a versatilidade de Ivandro, expolora a sua própria voz e de quem participou neste projeto. Nele participam nomes importantes no panorama musical português e não só, como António Zambuio, Marisa Liz, Slow J (mais uma vez) ou M Huncho (nome incontomável da música urbana britânica contemporânea). Essas colaborações surgiram sem o objectivo de serem trabalhadas para o álbum. No estúdio, a vontade era apenas de fazer música, de trocar conhecimentos e aproveitar o momento.
Ivandro garante que, depois deste álbum, é um Ivandro diferente, que já está em paz. Já foi testemunha de Jeová mas hoje acredita em Deus, numa busca da sua própria fé, de tentar entender o mundo sem ser versão dos outros. Nessa lógica, este álbum foi um processo também mental e espiritual, algo que é perceptivel na música “Give God Praises”, com M Huncho.
O artista da Linha de Sintra quer aproveitar o agora, ciente das suas decisões. “Acho que o mais importante aqui é saber saborear e aproveitar os momentos, saber tirar dos momentos negativos algo bom, que é o crescimento e dos momentos positivos há algo bom também, que é a alegria”, concluiu.
Clica abaixo para veres a entrevista em vídeo na íntegra.
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