Jamila Pereira vence prémio de Melhor Artigo de Opinião nos Write to End Violence Against Women Awards 2025

28 de Novembro de 2025
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A jornalista Jamila Pereira foi distinguida na categoria de Opinião dos Write to End Violence Against Women Awards 2025, cuja cerimónia decorreu na noite de 27 de novembro no Bishopsgate Institute, em Londres. O galardão reconhece o ensaio “How To Date When You Don’t Trust Men”, publicado originalmente na plataforma Black Ballad e previamente incluído na shortlist oficial da End Violence Against Women Coalition.

A distinção surge um ano depois de a autora ter sido nomeada para a mesma iniciativa graças à entrevista realizada com Cláudia Simões para a Migrant Women Press, onde explorava alegações de violência policial contra mulheres negras em Portugal. Esta continuidade de reconhecimento sublinha a persistência de um trabalho que tem cruzado investigação, testemunho e análise crítica, abordando temas ligados à justiça social, desigualdades de género e dinâmicas de poder que moldam a experiência de mulheres racializadas.

O artigo premiado parte de uma vivência pessoal que a autora reformula através de uma reflexão estruturada sobre o impacto duradouro do trauma e sobre as implicações desse legado na construção de relações afetivas. A narrativa observa como a reconstrução da confiança — seja interna, seja no outro — se torna condicionada por um ambiente social em que persistem desigualdades de género, expectativas culturais assimétricas e formas subtis de violência que continuam a influenciar as interações entre mulheres e homens. Ao colocar a intimidade neste enquadramento, o texto procura compreender as tensões que emergem quando o desejo de proximidade se confronta com mecanismos de autoproteção alimentados por experiências de vulnerabilidade.

A reflexão estende-se igualmente às estruturas sociais que amplificam ou silenciam estes percursos. O artigo mostra como o medo, a vulnerabilidade e a necessidade de segurança ganham outra dimensão num contexto em que os relatos de mulheres são muitas vezes relativizados ou descredibilizados, revelando a persistência de padrões culturais que determinam quem é ouvido e quem permanece invisível. A partir desta confluência entre a experiência individual e a realidade estrutural, o texto oferece uma leitura que ilumina não apenas o que é vivido no plano íntimo, mas também o que é produzido por sistemas que continuam a marginalizar determinadas narrativas.

Em declarações à BANTUMEN Jamila Pereira afirmou que esta distinção constitui “uma honra profundamente significativa, não apenas como escritora, mas como mulher negra comprometida com a justiça social”, acrescentando que o reconhecimento reafirma “a urgência de combater todas as formas de violência contra as mulheres, num contexto em que tantas continuam a ser silenciadas, ignoradas ou descartadas por estruturas mediáticas que não refletem a sua realidade”.

A autora sublinhou ainda a importância das plataformas de media negras, observando que a sua desvalorização resulta de “um sistema que historicamente marginaliza as nossas narrativas”. Nesse sentido, destacou o papel de projetos como a Black Ballad, que “oferecem espaço, voz e legitimidade às histórias que muitas vezes ficam relegadas para segundo plano”, contribuindo para a preservação de um ecossistema onde estas experiências podem ser contadas “na nossa própria linguagem, com a nossa própria verdade”.

Jamila Pereira concluiu reconhecendo a responsabilidade acrescida que acompanha esta distinção e afirmou que pretende continuar a intervir através da escrita, “para que nenhuma de nós seja reduzida ao silêncio”.

Criados pela End Violence Against Women Coalition (EVAW), os Write to End Violence Against Women Awards distinguem anualmente trabalhos jornalísticos que contribuem para uma cobertura rigorosa, contextualizada e socialmente responsável da violência contra mulheres e raparigas. A iniciativa procura incentivar práticas que iluminem as raízes sociais, culturais e institucionais da violência de género, promovendo narrativas que respeitam a experiência, recusam simplificações e valorizam a análise crítica. A cerimónia reúne jornalistas, académicos e organizações da sociedade civil e decorre, habitualmente, durante os 16 Days of Activism Against Gender-Based Violence, período dedicado à consciencialização global sobre o tema.

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