Joel Zito Araújo e Luiza Botelho levam cinema negro brasileiro e afrofuturismo ao Marché du Film 2025

Três obras da produtora brasileira Casa de Criação Cinema estão entre os destaques da edição de 2025 do Marché du Film, mercado internacional que decorre paralelamente ao Festival de Cannes, entre 13 e 24 de maio. Com foco em narrativas negras, indígenas e autorais, os projetos apresentados refletem o compromisso da produtora com um cinema com identidade própria, aberto ao diálogo internacional e atento a temas sociais relevantes.

O principal destaque é Saudade, longa-metragem dirigido por Luiza Botelho e cocriado com Joel Zito Araújo, cineasta de referência do cinema negro brasileiro, de quem é filha e sócia. A obra, uma coprodução Brasil–Estados Unidos, procura parceiros europeus e conta a história de um homem negro que regressa ao Brasil com uma doença terminal, depois de décadas a viver nos EUA. “Saudade é um drama sensível sobre reconciliação entre gerações, deslocamento e pertencimento”, explica Luiza, sublinhando o tom intimista da narrativa: “um homem negro que retorna ao Brasil em busca de despedida e reconexão com tudo o que deixou para trás.”

No portefólio apresentado pela Casa de Criação Cinema no Marché está também AI: Ancestral Intelligence, longa de ficção científica que cruza elementos do afrofuturismo com o indígena-futurismo. Ambientado na comunidade fictícia de Kaluanã, o filme imagina uma solução inesperada para a especulação imobiliária, através da união entre tecnologias emergentes e saberes ancestrais. “Ambos os filmes dialogam com a minha trajetória e com o meu desejo de contar histórias que expandam a imaginação e valorizem as experiências negra e indígena de maneira complexa, poética e universal”, afirma a realizadora.

Ainda em fase de pós-produção, Em Busca do Cinema Africano é o terceiro título que compõe o line-up da produtora em Cannes. Assinado por Joel Zito Araújo, o documentário parte de duas décadas de viagens do realizador pelo continente africano e constrói um relato em primeira pessoa sobre encontros com cineastas africanos, afetos, trocas e reflexões sobre identidade, arte e pertença.

Além das longas, será também promovida a curta-metragem Bela Lx-404, realizado por Luiza Botelho, que tem vindo a conquistar reconhecimento internacional. A obra recebeu cinco prémios, incluindo o de Melhor Curta-Metragem de Ficção no Pan African Film Festival 2025, evento qualificatório para os Óscares.

A presença da Casa de Criação Cinema no Marché du Film reforça o papel da produtora na construção de um audiovisual brasileiro plural e global. “Poder apresentar esses projetos no Producers Network no Marché du Film no Festival de Cannes é uma oportunidade única de conectá-los a parcerias internacionais que podem fazê-los crescer e ganhar o mundo”, conclui a realizadora.