“Ainda falta muito”, Joss Dee reflete sobre a presença da música africana no Brasil

10 de Junho de 2025

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O DJ e produtor musical angolano Joss Dee esteve recentemente em Lisboa, onde se apresentou no Coala Festival e no Musicbox, aproveitando também para divulgar o seu projeto a solo. Apesar de já ter passado por Portugal noutras ocasiões, esta foi a sua estreia como DJ no país. A BANTUMEN conversou com o artista sobre a circulação das sonoridades africanas em Portugal e no Brasil, com destaque para o kuduro e o afrohouse, e sobre o lugar que essas expressões ocupam nos respetivos panoramas culturais.

“Já vim para cá algumas vezes, mas era mais novo. Como DJ, sim é a primeira vez”, explicou. A passagem por Lisboa incluiu a sua estreia no Musicbox, sala que descreve como uma das principais referências da cidade. “Curti bastante. É um público muito fluido, muito diverso, de vários lugares do mundo. Para mim é sempre bom expor o meu som da forma que gosto, para diferentes pessoas”.

Para além das atuações ao vivo, Dee aproveitou a estadia em para apresentar o seu trabalho mais recente e estreitar relações com a cena musical local. Trouxe temas do álbum Kudurista Funkeiro, lançado no final de 2024, e apresentou a mixtape Hot Tape Cinco, composta por remixes da sua autoria e que refletem a fase atual do seu percurso artístico. Parte do propósito desta visita passa também por criar novas colaborações com DJs e produtores portugueses. Segundo o artista, o contacto com a cidade e os seus agentes culturais é uma oportunidade para enriquecer a sua abordagem musical. “Vim com muito interesse de produzir coisas com DJs e produtores daqui. Já troquei várias ideias com alguns, tenho sessões marcadas”.

Com mais de uma década de vida no Brasil, o produtor tem acompanhado de perto o modo como géneros como kuduro e afro-house têm circulado no país. Reconhece que, desde a sua chegada, houve mudanças significativas, sobretudo no aumento da visibilidade destes estilos. “Quando cheguei, se você fosse ouvir alguma música africana numa festa era "Atchu Tchutcha", de Yuri da Cunha, porque estava na novela.” Hoje, observa uma realidade diferente: “Já tens festas específicas que tocam esses géneros. Tens artistas consagrados a implementarem [sonoridades afro] nos seus álbuns”.



Questionado sobre a possibilidade de batidas africanas e europeias circularem nos “rolês” brasileiros, não esconde que essa é já uma realidade e aponta a sua própria trajetória, assente entre o kuduro e o funk, como exemplo concreto dessa possibilidade. “Eu super acredito nisso. É muito possível concretizar essa integração”, afirma ao mesmo tempo que destaca o interesse crescente por parte dos produtores brasileiros: “Lá também existe essa integração. Os produtores estão sempre ávidos por coisas novas. Já há coisas que circulam”.

Apesar dos avanços, considera que o espaço dado à música africana no Brasil continua a ser reduzido e concentrado em nichos. A comparação com a Europa, em particular com Portugal, permite-lhe apontar as diferenças de forma clara. “Comparando com 11, 12 anos atrás, o crescimento foi notável. Agora, se é suficiente? Ainda não. No Brasil, por exemplo, não chamam ainda grandes artistas africanos. Tocam de forma pouco expressiva. Ainda falta muito.” O contraste entre Lisboa e as grandes cidades brasileiras surge, para o DJ, de forma evidente. Em Portugal, a presença da música africana no espaço público é mais visível. “Aqui em Portugal, facilmente encontro um carro a passar a tocar uma kizomba ou afrobeat. No Brasil ainda falta muito para isso acontecer”.


Depois da passagem pelo Coala, o artista atuou ainda a 7 de junho, no espaço Park, também em Lisboa, ao lado de nomes como Progressivu, Mei Glez, Maroskas e Pacheco. No dia 14, regressa ao Music Box para a segunda atuação naquele espaço, encerrando assim a sua passagem pelo país.

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