Kendrick Lamar e SZA deram a Portugal um dos maiores concertos de sempre

28 de Julho de 2025
Kendrick Lamar SZA concerto portugal
Fotografia de @paulofpinho

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É ambicioso dizer isto, mas seria mentira não o fazer: no dia 27 de julho de 2025, aconteceu um dos melhores espetáculos de música alguma vez vistos em Portugal. A “Grand National Tour”, de Kendrick Lamar e SZA, passou pelo Estádio do Restelo, em Belém, Lisboa, e quem lá esteve sabe que assistiu a algo único.

Com mais de 32 graus registados no termómetro, as filas pareciam não ter fim. Ao longo do trajeto para a entrada do recinto, ouvia-se nos carros alguns dos maiores hits de Kendrick e de SZA. As pessoas estavam vestidas a rigor, com t-shirts e looks pensados ao detalhe, como se o concerto fosse também uma passerelle.

O espetáculo estava marcado para às 19h00, e foi DJ Mustard quem abriu as hostes. A sua seleção pôs logo o público no mood certo, com bangers de Travis Scott, Tyga ou Big Sean a ecoarem no estádio.

Depois de uma breve pausa, subiu ao palco um carro, mas não era um carro qualquer. Era o mítico Buick Grand National Experimental, modelo de 1987. Coincidência ou não, é também o ano em que nasceu Kendrick Lamar Duckworth, em Compton, Los Angeles.

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Kendrick Lamar SZA concerto portugal

Fotografia de @paulofpinho

Das colunas soava “Wacced Out Murals”, a faixa de abertura de GNX, o mais recente álbum de Kendrick. Todos procuravam o rapper no palco, até que ele apareceu nos ecrãs gigantes, a cantar do interior do automóvel estacionado no centro do palco. E quando a porta se abriu… Era mesmo ele. Kendrick Lamar. Provavelmente o maior nome do hip hop das últimas décadas.


Foi a sua quarta passagem por Portugal, depois de duas atuações no Primavera Sound Porto (2014 e 2023) e uma no Super Bock Super Rock (2016), esta foi, sem dúvida, a mais memorável.

O concerto dividiu-se em nove atos, com momentos a solo e colaborações entre os dois artistas.

“I got a bone to pick / I don’t want you monkey mouth motherfuckers sittin’ in my throne again” foi a frase que nos lançou diretamente para King Kunta, do álbum To Pimp a Butterfly (2015), logo a seguir a “Waced Murals”. De seguida, vieram “ELEMENT.” e “tv off”. Já no Ato II, entra SZA, sentada em cima do GNX agora coberto de relva, e juntos cantam “30 for 30”.

Kendrick sai de cena e SZA brilha a solo com “Love Galore”, “Broken Clocks” e “The Weekend”. Apesar de a sua projeção vocal não ser tão intensa quanto a de Kendrick, SZA sabe como conquistar um palco. A sua ligação com o público, sobretudo o feminino, foi visceral. Entre danças, cenografia e atitude, foi impossível desviar os olhos.

Com músicas como “Euphoria”, “Backseat Freestyle” ou “Family Ties” (do primo Baby Keem), Kendrick mostrou por que é um mestre. Fez uma versão quase acústica de “Swimming Pools”, levou-nos de volta à “A.A.d City” e reforçou que está, de facto, “Alright”.

SZA, cujo nome verdadeiro é Solána Imani Rowe, foi-se destacando à medida que o espetáculo avançava. A produção era enorme, teatral, no melhor sentido da palavra. Houve uma formiga gigante, uma bola de luz descomunal e até um fato com asas. A sua versatilidade brilhou do R&B ao disco, das baladas aos solos de guitarra. E mesmo o público masculino, inicialmente mais contido, acabou por cantar em uníssono, rendido a temas como “Kill Bill” e “Snooze”.

Kendrick Lamar SZA concerto portugal

Fotografia @paulofpinho

Kendrick é um artista completo. Vencedor do Prémio Pulitzer em 2018, as suas letras exploram questões existenciais, sociais e políticas com profundidade rara. Podia ter feito um concerto apenas com os clássicos de good kid, M.A.A.D City e To Pimp a Butterfly, mas decidiu também explorar a sonoridade minimalista de GNX e as narrativas densas de Mr. Morale & the Big Steppers, álbuns que, além de dançáveis, fazem pensar.

Nunca houve uma questão de quem teria mais destaque no palco. O verdadeiro desafio era perceber como funcionariam em simbiose. E funcionaram. Houve momentos em que o ritmo abrandou com as faixas mais introspectivas da SZA, mas tudo voltou a acelerar quando Kendrick lançou hinos como “Not Like Us” com o público a acompanhar cada verso como se a vida dependesse disso.

Mas os momentos mais mágicos foram, sem dúvida, quando os dois estavam juntos. “All The Stars”, “Love”, “Luther” e “Gloria” fecharam o concerto com chave de ouro. Antes do fim, o público começou a gritar insistentemente os nomes dos dois artistas: “Kendrick! SZA!” — seguido de um típico elogio português: “esta m*rda é que é boa!”

SZA, divertida, perguntou o que significava. A resposta “It means: this sh*t is good” deixou-a maravilhada.

Foi exatamente isso. This sh*t was good. Apesar de alguns problemas técnicos e de som inicialmente, este foi um espetáculo com alma, técnica, mensagem e emoção. Kendrick Lamar e SZA provaram, uma vez mais, por que são dois dos maiores artistas da sua geração. E deixaram Portugal com um gostinho de quero mais.

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