Mariela "Fora do Centro", mas absolutamente essencial no panorama das novas sonoridades lisboetas

A Lisboa contemporânea é um mosaico de sonoridades que refletem as múltiplas diásporas e identidades que coexistem na capital. Neste contexto de pluralismo sonoro, emerge uma voz que sintetiza as raízes africanas com as influências globais do R&B e do trap: Mariela, a artista luso-angolana que encerra a primeira temporada de "Fora do Centro", a websérie da Associação Sons da Lusofonia. A sua participação surge no âmbito da parceria com a BANTUMEN, que esteve envolvida na curadoria de alguns dos participantes do projecto e na sua divulgação, reforçando a aposta conjunta na visibilidade de novos talentos da diáspora.

Nascida em Angola e radicada em Lisboa, Mariela é uma artista em ascensão que representa uma nova geração de vozes femininas na cena musical portuguesa. Anteriormente conhecida como Mary J, a mudança de nome artístico marca um ponto de viragem na sua carreira - um momento em que a artista decide mostrar cada vez mais de si, revelando as camadas de uma identidade artística em construção.

O seu percurso musical começou nos programas infantis da Rádio Luanda, mas foi em Lisboa que a sua carreira ganhou verdadeira substância. Inspirada por nomes como Rihanna, Don Toliver, Tyla e Jorja Smith, Mariela desenvolveu uma linguagem musical própria que combina influências diversas numa sonoridade coerente e cativante.

O que distingue Mariela é a sua capacidade de fusionar géneros aparentemente distantes. A sua música mistura as raízes quentes da kizomba e do zouk com as texturas urbanas do R&B, trap e afrobeat. Se Rihanna é conhecida pela sua versatilidade em transitar entre o reggae, o pop e o R&B, Mariela segue um caminho semelhante, mas ancorado nas suas raízes africanas.

A comparação com Tyla, a artista sul-africana que conquistou o mundo com "Water" (uma fusão de amapiano e R&B), é particularmente relevante. Tal como Tyla, Mariela recusa-se a ser confinada a um único género, explorando a forma como os ritmos tradicionais africanos podem dialogar com as sonoridades urbanas contemporâneas. A sua voz - que equilibra vulnerabilidade e poder - torna-se um instrumento de expressão que comunica tanto através da fragilidade quanto da força.

O percurso discográfico de Mariela demonstra uma evolução constante. Com lançamentos como "Chama do Amor", "Real Woman" e "Não Sou Pra Ti", a artista explorou diferentes registos emocionais. O EP "Marte", lançado no final de 2024 e produzido por Mill1, marca um ponto de maturidade, apresentando seis faixas que consolidam a sua identidade sonora.

Recentemente, Mariela foi escolhida como capa da primeira edição da revista "Chama Rubra", um reconhecimento significativo que a posiciona entre as vozes emergentes mais relevantes do panorama musical português.

No nono e último episódio da primeira temporada de "Fora do Centro", lançado em dezembro de 2025, Mariela apresenta três temas inéditos gravados na Casa do Comum, no Bairro Alto. O episódio oferece uma performance intimista onde a artista pôde explorar plenamente o seu universo sonoro, apresentando ao público a profundidade e a sofisticação do seu trabalho.

Numa cena musical portuguesa frequentemente dominada por fórmulas comprovadas, Mariela é um sopro de ar fresco. A sua recusa em simplificar-se, a sua disposição para abraçar a complexidade e a sua capacidade de criar experiências sonoras que transcendem categorias convencionais fazem dela uma artista a seguir.

Se aprecias artistas como Qing Madi, Kehlani ou Summer Walker - nomes que representam a nova geração de vozes femininas que estão a redefinir o R&B e o afrobeat globais - o universo sonoro de Mariela é uma descoberta que vale a pena fazer.