“Matchundadi”, um retrato da masculinidade hegemónica na política guineense por Joacine Katar Moreira

26 de Setembro de 2020
“Matchundadi”, um retrato da masculinidade hegemónica na política guineense por Joacine Katar Moreira

Partilhar

Matchundadi, género, performance e violência política na Guiné-Bissau é a tese de doutoramento de Joacine Katar Moreira, publicada agora em livro e que explica como a exacerbação da masculinidade domina a política e a sociedade guineense. O livro foi apresentado nesta quinta-feira, 24, em Lisboa.

Nesta obra, segunda da bibliografia da deputada, Katar Moreira fala sobre género, violência e instabilidade política, através da cultura da masculinidade hegemónica que se vive na Guiné-Bissau.

“Existem sujeitos que são objetos de estudo e existem aqueles que são olhados como sujeitos de conhecimento. As mulheres, normalmente, são os objetos de estudo, bem como os desfavorecidos, as minorias e etc. Os sujeitos de conhecimento, geralmente, são os homens. Então, decidi mudar a minha tese radicalmente. Não vou objetificar as mulheres, vou objetificar os homens. Para entendermos a história da Guiné Bissau temos de entender o que é que aconteceu. Os homens que estão nos quadros de visibilidade têm de ser estudados para entendermos os efeitos e o impacto desta masculinidade e a forma como existe este ambiente que vai alimentando e organizando a dominação institucional masculina”, explicou a autora aos convidados da apresentação oficial de “Matchundadi, género, performance e violência política na Guiné-Bissau.

Joacine indicou também que a política não foi um caminho que escolheu de primeira. Contudo, durante o seu percurso académico, acabou por estudar exatamente aquilo que viria a sofrer nos meandros da política em portugal. “A minha ambição maior era dar aulas na universidade, a investigação e andei estes anos todos a estudar a violência política. É irónico. Estes autores e autoras sobre a violência, os estudos da violência, das desigualdades é que me ajudam hoje em dia a encarar e relacionar este ambiente de extrema violência contra mim mas também do discurso de ódio, do sarcasmo absoluto em relação à minha pessoa em específico. Mas eu nunca encaro como algo sobre mim, eu analiso esse discurso de ódio, perseguição mediática, o anular da minha intelectualidade, encaro sociologicamente”, acrescentou.

Matchundadi, género, performance e violência política na Guiné-Bissau está disponível em diversas livrarias físicas bem como online.

Joacine Katar Moreira é deputada portuguesa, nascida na Guiné-Bissau, em 1982. Com oito anos mudou-se para Portugal com a família, onde é hoje deputada não inscrita no parlamento. Feminista negra interseccional e ativista anti-racista, Joacine é licenciada em História Moderna e Contemporânea, mestre em Estudos do Desenvolvimento e doutorada em Estudos Africanos pelo ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa. As suas áreas de estudo e de intervenção são os Estudos do Desenvolvimento, Estudos de Género, violência, política e movimentos sociais.
No seu vasto currículo, inscreve-se ainda mentora e fundadora do INMUNE — Instituto da Mulher Negra em Portugal, criado em 2018 para lutar contra a invisibilização e o silenciamento da mulher negra na sociedade portuguesa.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para redacao@bantumen.com.

bantumen.com desenvolvido por Bondhabits. Agência de marketing digital e desenvolvimento de websites e desenvolvimento de apps mobile