Trinta anos da Revista Raça: a trajetória de Maurício Pestana e o marco do protagonismo negro na mídia brasileira

20 de Maio de 2025
mauricio pestana revista raça entrevista
📸 Maurício Pestana

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Em 2025, a Revista Raça completa três décadas de existência como símbolo de resistência, representatividade e afirmação da identidade negra no Brasil. Criada em um cenário de invisibilidade midiática da população negra, a publicação foi pioneira ao estampar, com orgulho, negros e negras em suas capas e reportagens. À frente desse projeto está Maurício Pestana, jornalista, cartunista, consultor e atual CEO da revista, cuja trajetória pessoal e profissional se confunde com a própria história de luta por diversidade e inclusão no país. Negro, periférico e filho de uma família numerosa, não esconde as dificuldades enfrentadas no início de sua trajetória.


Maurício Pestana cresceu em São Mateus, zona leste de São Paulo, em uma família de sete filhos. “Minha infância foi simples. Viemos da periferia, em uma região ainda rural. Tudo foi conquistado com muito esforço”, relembra. Desde jovem, encontrou na comunicação uma ferramenta de transformação social. Primeiro como cartunista, influenciado por nomes como Henfil, depois como jornalista, Pestana viu no ato de denunciar e informar uma missão pessoal: “sempre me comuniquei com o traço e com a palavra, com o objetivo de mudar a sociedade.”

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“Pessoas negras não tinham espaço na mídia. A Raça foi um esplendor. O primeiro número vendeu mais de 270 mil exemplares, um feito histórico”

Maurício Pestana, Fundador da Revista Raça

Hoje, além de comandar a Revista Raça, ele é comentarista sobre diversidade e inclusão na CNN Brasil e atua como consultor para grandes empresas na área, além de presidir o Fórum Brasil Diverso, evento anual que reúne lideranças e organizações comprometidas com a equidade racial.


Quando a revista foi lançada, em 1995, o mercado editorial brasileiro sequer considerava a população negra como público-alvo. “Pessoas negras não tinham espaço na mídia. A Raça foi um esplendor. O primeiro número vendeu mais de 270 mil exemplares, um feito histórico”, afirma Pestana.


O sucesso da revista, no entanto, não impediu a resistência de um mercado historicamente excludente. Apesar do poder e do dinheiro na mão do branco, a revista sobreviveu, cresceu e tornou-se um marco. Mesmo naquele período a Revista era publicada por um Grupo Editorial dirigida por uma descendente asiática, Joana Fon.

“O dinheiro gira em torno dos brancos. Muitos, por ignorância ou racismo, nunca acreditaram em uma revista voltada para negros.”

Maurício Pestana

A resistência do setor publicitário e a ausência de investimentos estratégicos foram obstáculos desde o início. “O dinheiro gira em torno dos brancos. Muitos, por ignorância ou racismo, nunca acreditaram em uma revista voltada para negros.” Ainda assim, a Raça se consolidou como vitrine para a cultura afro-brasileira e plataforma de autoestima e identidade. Ela é referência para diferentes gerações. “Muita gente chora ao ver a revista. Para muitos, foi a única referência positiva na mídia durante a juventude daquela época”.


Como um espelho da diversidade negra, as pautas da revista sempre foram amplas, conectando-se à pluralidade da experiência negra no Brasil. “Na revista Raça a gente sempre tenta falar de cultura, de música, de política, de arte, enfim, a gente tenta fazer um apanhado de tudo, porque a gente sabe que os negros brasileiros estão em todas as áreas e têm muito trabalho bom para ser exaltado.”


Ao longo dos anos, a publicação contribuiu para deslocar os paradigmas raciais em diversos setores da sociedade brasileira. “Ajudámos a mudar o cinema, o teatro, a televisão. A imagem do negro começou a ser revista por conta da Raça”. As pautas da revista sempre foram plurais, vão da música e arte à política e religiosidade, com o objetivo de mostrar a diversidade e complexidade da experiência negra no país.


Mesmo diante das mudanças no consumo de mídia, a revista tem se reinventado e nos últimos 5 anos criou uma estratégia de expansão digital, marcada pela introdução de podcasts, estúdios audiovisuais, redes sociais e novas plataformas digitais como ferramentas de renovação do diálogo com o público negro contemporâneo.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

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