“Medida Provisória”, o cinema como espelho da memória e da resistência no MIA 2025

O cinema tem a capacidade única de revelar contradições e abrir diálogos. No âmbito do Mês da Identidade Africana (MIA 2025), organizado pela BANTUMEN, a exibição do filme “Medida Provisória”, de Lázaro Ramos, convida o público a refletir sobre o racismo estrutural e a experiência negra contemporânea. A sessão acontece no dia 6 de novembro, às 18h30, na Casa do Comum, no Bairro Alto, em Lisboa, com entrada livre mediante inscrição neste link.

A longa-metragem, primeira obra de ficção dirigida pelo autor e ator brasileiro Lázaro Ramos, parte de uma distopia provocadora, onde num futuro próximo, um governo autoritário decide “repatriar” todos os cidadãos negros para África, sob o pretexto de uma reparação histórica. O que se segue é uma narrativa de resistência, amor e afirmação identitária, que confronta as feridas abertas do colonialismo e as suas permanências no presente.

Baseado na peça “Namíbia, Não!” de Aldri Anunciação, o filme mistura drama e ficção científica para questionar as fronteiras da pertença e o significado da negritude num país que continua a reproduzir desigualdades. Com interpretações de Taís Araújo, Alfred Enoch e Seu Jorge, “Medida Provisória” foi amplamente aclamado pela crítica internacional e alcançou 92% de aprovação no Rotten Tomatoes, destacando-se pela ousadia estética e força política.

Ao integrar o MIA 2025, o filme ganha uma nova dimensão. A pergunta que o atravessa, “Todos os negros são de África?”, transcende o ecrã e convida à reflexão sobre identidade, deslocamento e memória coletiva. Após a sessão, realiza-se uma conversa com Marisa Mendes Rodrigues, Cleo Diára e Welket Bungué, duas vozes do cinema afro-lusófono que partilharão perspetivas sobre o cinema enquanto espaço de resistência, representação e transformação social.

Cleo Diára, atriz cabo-verdiana radicada em Lisboa, é cofundadora do coletivo Aurora Negra e tem sido uma das figuras mais consistentes do teatro e do cinema lusófono, distinguida em 2025 com o prémio de Melhor Atriz na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes. Já Welket Bungué, ator e realizador guineense, tem construído uma carreira internacional notável, com papéis em produções como “Berlin Alexanderplatz”, de Burhan Qurbani, e “Crimes of the Future”, de David Cronenberg. Atualmente, integra o elenco da série “Reencarne”, da Globoplay.

A exibição de “Medida Provisória” insere-se na programação do MIA 2025, que celebra a criação afrodescendente e africana em diálogo com o mundo, e reafirma o cinema como território de consciência e libertação.