“Cabo Verde está a construir um futuro digital com coragem e estratégia”, Monique Evelle

19 de Maio de 2025
monique evelle tech park
Monique Evelle | 📸 BANTUMEN/Eddie Pipocas

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Entre os dias 5 e 6 de maio de 2025, Cabo Verde celebrou a inauguração oficial do seu Parque Tecnológico, o TechPark, com eventos na Praia e no Mindelo. A cerimónia contou com a presença de diversas personalidades do sector tecnológico e político, incluindo Monique Evelle e Lucas Santana, fundadores da plataforma brasileira Inventivos, convidados como oradores principais.


A BANTUMEN acompanhou de perto este momento histórico para o país, com uma cobertura especial que incluiu entrevistas, análises e reportagens publicadas ao longo da semana no site bantumen.com. Em destaque estiveram conteúdos sobre o impacto do TechPark no ecossistema local de inovação, a presença de figuras de relevo da lusofonia digital e a ambição do arquipélago em posicionar-se como hub tecnológico entre África, América Latina e Europa.


Em entrevista exclusiva à BANTUMEN, Monique Evelle partilhou as suas impressões sobre a visita e os planos da Inventivos para colaborar com o ecossistema tecnológico cabo-verdiano. “Ver um país africano investir de forma tão estratégica no futuro digital é algo complementar a tudo o que estamos a construir com a Inventivos”, afirmou Monique, sublinhando que aceitar o convite do Governo de Cabo Verde foi mais do que uma honra “é um compromisso com o futuro que queremos construir juntos”.



Monique Evelle e Lucas Santana, fundadores da Inventivos foto de BANTUMEN/Eddie Pipocas

Como surgiu o convite para participares na inauguração do TechPark CV e o que te levou a aceitá-lo?

A Inventivos já tem um relacionamento próximo com Pedro Lopes, secretário de Estado da Economia Digital, e já ensaiámos algumas ações em conjunto. Agora, recebemos o convite oficial do Governo de Cabo Verde, por meio do Ministério das Finanças, do Ministério da Economia Digital e da TechParkCV, para atuar como oradora principal ao lado do meu sócio, Lucas Santana, na cerimónia de inauguração do Parque Tecnológico Digital do Arquipélago. Aceitámos imediatamente porque acreditamos profundamente na potência da colaboração entre países de língua portuguesa, principalmente quando falamos de inovação e tecnologia. Ver um país africano investir de forma tão estratégica no futuro digital é algo complementar a tudo o que estamos a construir com a Inventivos. Estar presente neste momento histórico é mais do que uma honra; é um compromisso com o futuro que queremos construir juntos.


Que impressões levas da visita a Cabo Verde, enquanto país e enquanto mercado emergente na área da tecnologia?

A visita foi uma daquelas experiências que ampliam horizontes e nos lembram do poder transformador da inovação. Mais do que testemunhar a inauguração de um espaço físico, o que vivi foi a materialização de uma visão de futuro, um ecossistema que compreende a tecnologia não como um fim, mas como uma ferramenta estratégica de desenvolvimento soberano e sustentável.


Fiquei impressionada com a clareza das políticas públicas, com o compromisso do governo e com a energia criativa da juventude cabo-verdiana. Vi um país que, mesmo com recursos naturais limitados, aposta no seu maior ativo: o capital humano. Cabo Verde entendeu que sua força está na educação, na formação de talentos e na capacidade de gerar soluções locais com impacto global. O TechPark é o símbolo desse novo momento, um hub de inovação conectado ao mundo, mas profundamente enraizado na realidade local. Conversas sobre economia azul, energias renováveis, agricultura sustentável e economia digital mostraram que há um plano, há estratégia e, acima de tudo, há gente preparada para fazer acontecer. Cabo Verde está trilhando um caminho que inspira. Um caminho que integra tradição e vanguarda, cultura e tecnologia. E mais do que isso: é um território com vocação natural para ser ponte entre África, América Latina e Europa, especialmente para a diáspora afro-lusófona. Como cofundadora da Inventivos, saio com a certeza de que há muito o que construir em conjunto.


A Inventivos já investiu milhões em startups lideradas por pessoas negras e periféricas no Brasil. Há planos concretos para replicar esse modelo em Cabo Verde ou noutros países africanos?

Não investimos exclusivamente em startups lideradas por pessoas negras e periféricas. Sobre replicar o modelo de investimento em Cabo Verde, estamos em fase de análise e estruturação. A visita a Cabo Verde fortaleceu nossa convicção de que é possível adaptar o modelo da Inventivos para outros contextos, respeitando as especificidades locais. E mais do que replicar, queremos co-construir.


Estamos buscando coinvestidores da lusofonia (Brasil, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Portugal) que compartilhem da mesma visão de apoiar negócios inovadores liderados nesses territórios. A ideia é formar uma rede de investimento que conecte nossos territórios, gere autonomia econômica e acelere talentos que já existem, mas muitas vezes não têm acesso às ferramentas e ao capital. Nosso desejo é transformar Cabo Verde em um ponto de partida para essa atuação conjunta, com mentorias, formação e recursos financeiros que fomentem negócios sustentáveis, com impacto real na vida das pessoas.


Em termos de formação e mentoria, que tipo de apoio imaginam poder oferecer a empreendedores cabo-verdianos? Estão a ser desenhadas colaborações com o TechPark ou outras entidades locais?

Estamos conversando com as lideranças do TechPark Cabo Verde para criarmos uma versão da nossa plataforma adaptada ao contexto cabo-verdiano, com conteúdos em português e foco em temas como validação de produto, branding, modelo de negócios e captação de recursos. Também temos interesse em formar mentores locais para garantir continuidade e autonomia. Além disso, estamos discutindo a criação de uma residência de inovação que conecte empreendedores de Cabo Verde e do Brasil, além da possibilidade de um Inventivos Talks Internacional em Cabo Verde. Queremos sair do discurso e ir para a prática, criando soluções concretas com os parceiros locais.


Acreditas que Cabo Verde pode tornar-se um polo de inovação e tecnologia para o continente africano? Como é que a Inventivos pode contribuir para isso?

Acredito profundamente. Cabo Verde tem localização estratégica, estabilidade política e uma juventude inquieta. Esses são atributos ideais para se tornar um polo de inovação. A Inventivos pode contribuir oferecendo metodologia, investimentos e conexões com hubs no Brasil, África e Europa. Queremos transformar Salvador e Praia em rotas irmãs da inovação.


Que mensagem gostarias de deixar aos jovens empreendedores africanos que seguem o vosso trabalho e se inspiram nele?

O mundo está de olho na África, mas nós precisamos olhar para nós mesmos com mais ambição, estratégia e afeto. Empreender não é só sobre lucro, é sobre criar futuros possíveis. Se você está numa ilha, num bairro afastado ou numa capital, saiba que sua ideia tem potência global. Persistam, estudem, criem redes e lembrem-se: a sua história importa. A Inventivos está aqui para caminhar junto. Fortalecer a diáspora é criar o futuro em português. E a nossa língua é ponte, não fronteira.


Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

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