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Vivemos tempos em que tudo parece acontecer ao mesmo tempo. A cada scroll, surgem novas fórmulas para uma parentalidade consciente mas distraída, alimentação intuitiva mas vigiada, birras empáticas mas censuradas, limites ilimitados, presença ausente, liberdade com regras invisíveis. Receitas para criar filhos emocionalmente seguros, saudáveis, criativos e, já agora, bilíngues, sustentáveis e resilientes. Quando não é no telemóvel, é na televisão, nas conversas, nos livros, nas escolas. A enxurrada de informação nunca para.
Foi neste contexto de excesso e cansaço que surgiu a vontade de escrever este texto, um exercício de pausa e reflexão inspirado pela oficina "Um Voo de Poesia e Conversa sobre Parentalidade", que acontece no dia 4 de maio de 2025, das 15h às 17h, na Sala 2 da Fundação Calouste Gulbenkian. Organizado pelo Círculo Poémia, o encontro propõe uma escuta sensível sobre o que é ser mãe, pai ou pessoa que cuida, especialmente nas comunidades negras. Antes de lá estar fisicamente, precisei de chegar por palavras. De perguntar: onde cabe a parentalidade quando a sobrevivência ocupa tudo? E o que é feito do acontecer das coisas com base na intuição?
Os pais, mães, educadores, de hoje carregam o peso de querer fazer diferente e melhor. Queremos reparar o que não recebemos, construir relações mais equilibradas, fugir do autoritarismo, mas também do abandono emocional. Queremos escutar mais, controlar menos. Educar sem violência, sem gritos, com afeto. Queremos tudo isso, ao mesmo tempo em que temos contas para pagar, prazos para cumprir, burnout acumulado e um telefone a vibrar com mais um vídeo sobre o que não devíamos estar a fazer. E, em cima disso tudo, ainda andamos aqui a tentar navegar na loucura em que o mundo se transformou. Como é que se cuida no meio de tanto ruído?
Ser pai ou mãe deixou de ser um papel que se desempenha e tornou-se num campo minado de decisões morais. Cada escolha é avaliada. Cada gesto, observado. Dorme na cama ou no berço? Amamenta até quando? Dá ecrãs ou não? O julgamento chega rápido, mesmo quando ninguém nos conhece.
E se, no meio de tanta teoria, nos tivéssemos esquecido do essencial? E se cuidar fosse, acima de tudo, estar? Estar disponível, estar atento, estar presente, mesmo que nem sempre saibamos o que fazer.
A geração que agora educa cresceu muitas vezes sem espaço para perguntas ou conversas abertas. Hoje, somos pais e mães que querem escutar tudo mas nem sempre conseguem filtrar o que realmente importa.
É justo? Não. Mas é o que temos.
Talvez cuidar, hoje, seja menos sobre fazer tudo certo e mais sobre continuar a tentar. Com presença, com dúvidas e com amor suficiente para perguntar, de vez em quando: estamos mesmo a ouvir os nossos filhos ou só a tentar sobreviver ao dia?
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Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para redacao@bantumen.com.
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