Para quem é, afinal, a inovação tecnológica do Parque Tecnológico de Cabo Verde?

17 de Maio de 2025
Parque Tecnológico de Cabo Verde opiniao

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A 6 de maio teve lugar a inauguração oficial do polo do Mindelo, em São Vicente, do TechPark.CV, o primeiro parque tecnológico de Cabo Verde e da sub-região da África Ocidental. A cerimónia contou com a presença do CEO do TechPark.CV, do arquiteto responsável pelo projecto, Fernando Maurício dos Santos, do Primeiro-Ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, e de uma delegação do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento, liderada pelo seu presidente, Dr. Akinwumi Adesina.


Depois da inauguração do polo na Praia, chegou a vez de Mindelo receber oficialmente a sua infraestrutura, reforçando o compromisso do país com a inovação tecnológica e o desenvolvimento da economia digital.


Tal como aconteceu na cidade da Praia, a inauguração do polo de Mindelo teve início com uma visita guiada pelas instalações do parque. A comitiva teve a oportunidade de conhecer de perto a infraestrutura que ambiciona posicionar Cabo Verde como um hub de inovação tecnológica e empreendedorismo na região. 


Pessoalmente, considero que a criação dos parques tecnológicos em Cabo Verde é uma iniciativa interessante, mas que só fará sentido se, de facto, beneficiar toda a população. Trata-se de um projeto ambicioso, com um investimento significativo, que demonstra a aposta clara do país no sector tecnológico.


Vivemos numa era em que a tecnologia está no centro de quase tudo, desde a educação à saúde, da economia à administração pública. E Cabo Verde, entre os países lusófonos, tem-se destacado pelo empenho em colocar o digital no centro da sua estratégia de desenvolvimento.


O facto de termos estado recentemente na Guiné-Bissau a apoiar o processo de digitalização do país permite-nos, agora, fazer um balanço comparativo. É evidente que, apesar das diferentes realidades, existe uma visão comum sobre a necessidade de investir no futuro através da tecnologia, e Cabo Verde está, claramente, a posicionar-se na linha da frente desse movimento.


E essa realidade permite que Cabo Verde aposte em ideias verdadeiramente inovadoras, pensadas a partir das suas próprias necessidades e potencialidades, sem a obrigatoriedade de olhar constantemente para a Europa como modelo. Ao focar-se em África, o país afirma a sua autonomia criativa e estratégica, contribuindo para uma visão de futuro em que o continente se posiciona como protagonista na inovação tecnológica. Cabo Verde está, assim, a mostrar que é possível construir soluções locais com impacto global, a partir de uma lógica de colaboração regional e valorização do talento africano.


Mas muito se tem falado sobre a importância de o parque tecnológico servir a população de forma transversal. Mas, na prática, será que o fará? É evidente que representa uma mais-valia para startups, empreendedores, micro e macro empresas. No entanto, quando o discurso se estende à “população”, estamos a falar de todos os estratos sociais, e a pergunta que se impõe é: todos terão acesso real e equitativo, ou será mais uma iniciativa voltada para uma elite mais informada e “woke”?


São questões legítimas, que só o tempo ajudará a responder. A ambição de tornar a tecnologia inclusiva é essencial, mas a concretização dessa visão exige muito mais do que infraestruturas modernas. Exige também políticas públicas sensíveis às desigualdades, formação contínua, linguagem acessível e soluções pensadas para realidades diversas.


Pensemos, por exemplo, nas vendedoras ambulantes, nas mulheres que, diariamente, vendem frutas no mercado informal. Se estas mulheres quiserem digitalizar os seus negócios, usar plataformas para vender, fazer transações e organizar entregas, seria óptimo. Mas será viável implementar essas tecnologias em pessoas com pouca literacia digital e, muitas vezes, já com alguma idade?


A resposta não pode ser um simples sim ou não. É necessário criar pontes, ferramentas intuitivas, formação contínua e mediadores comunitários que facilitem esse processo. De outro modo, corremos o risco de perpetuar a exclusão num sector que se quer transformador. A inovação só será verdadeira quando for também inclusiva.


As faculdades e universidades de Cabo Verde parecem estar atentas ao avanço representado pelo TechPark CV e ao seu potencial para dinamizar o mercado de trabalho. Pelo menos foi essa a percepção que fui recolhendo ao longo da inauguração, em conversas informais com docentes, estudantes e representantes de instituições académicas. Há um entusiasmo visível em torno das possibilidades de integração entre o meio académico e o ecossistema tecnológico emergente, com a expectativa de que esta infraestrutura possa abrir portas concretas para estágios, projectos colaborativos e até mesmo para a criação de startups nascidas dentro das salas de aula.


Mas, mais uma vez, saúdo Cabo Verde por este marco importante, não só para o país, mas também para África. Sem dúvida, trata-se de uma conquista com grande valor estratégico e potencial transformador. É um passo vantajoso rumo a uma sociedade mais digital, mais preparada e, esperamos, mais inclusiva.



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