De “Preguiçoso” a protagonista, a ascensão de Phedilson

21 de Maio de 2025

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No ano em que a BANTUMEN celebra uma década de existência, Lisboa torna-se novamente ponto de convergência da cultura negra lusófona. No centro das atenções está Phedilson, rapper angolano que tem vindo a conquistar terreno não apenas com rimas afiadas e beats sólidos, mas também com uma visão de coletivo, identidade e expansão artística. Cabeça de cartaz do concerto de celebração dos 10 anos da BANTUMEN, o artista regressa à capital portuguesa com a maturidade de quem já viu e viveu ambos os lados do Atlântico.


A primeira experiência em Portugal foi meio estranha”, admite Phedilson, recordando os seus primeiros passos por Lisboa. A viagem não teve como objetivo inicial a música; estava cá para estudar, “vim para fazer um curso, para buscar”, como ele próprio explica. Mas foi num improviso aparentemente inocente - um freestyle filmado num terraço - que tudo começou a mudar. “Lançamos uma cena só para movimentar o meu YouTube”, lembra. O resultado foi “Preguiçoso”, uma faixa que alteraria radicalmente o rumo da sua carreira.


A receção não demorou. A seguir a “Preguiçoso” veio “Surra”, e com ela a colaboração com Madkutz, nome de peso na produção do hip hop português. Para Phedilson, essa parceria teve um peso simbólico claro: “Colaborar com Madkutz colocou-me no mapa de forma diferente, acrescentou credibilidade”. Afinal, quem era aquele “gajo” que, vindo de Angola, aparecia ao lado de nomes respeitados do rap tuga?


Apesar do sucesso repentino, o impacto não foi imediato. “Fiquei uns meses sem fazer nada, sem lançar nada. Era como se eu não estivesse aqui”, confessa sobre essa fase inicial. Foi necessário lançar música, e boa música, para ser notado. Só depois do buzz de “Preguiçoso” e “Surra” é que começaram a surgir e-mails, chamadas, propostas de agências. “Uma das grandes até me deu sinal na altura”, conta. No entanto, o timing jogou contra. Pouco depois, regressava a Angola, sem conseguir colher os frutos completos dessa abertura ao mercado português.


O regresso à banda, a sua Angola, porém, teve um sabor diferente. “Foi um choque pela positiva”, diz. A visibilidade que ganhou fora refletiu-se internamente. Chamadas para programas de televisão, reconhecimento nas ruas — tudo sinalizava uma nova etapa. Foi aí que surgiu a ideia: “Vamos deixar o projeto da Extensão e criar um grupo. Criamos o Ascensão Music”. Longe de ser uma reunião improvisada, o coletivo já tinha história. “Nós já trabalhávamos juntos há quatro anos”, esclarece. Mas a diferença estava na abordagem. A partir dali, o grupo ganhou estrutura, compromisso, profissionalismo. O que antes era apenas um projeto de rappers tornou-se uma proposta séria de entrada no jogo com força.


Até o nome artístico teve de ser revisto. Durante anos, usou Phedilson Ananás, mas percebeu que o nome, por mais simpático que fosse, funcionava quase como um obstáculo: “Era contraproducente. O meu nome era um boicote. Tipo, você não vai dar medo a ninguém com esse nome”, brinca. A mudança para simplesmente Fedilson trouxe leveza e estratégia. Era mais fácil de memorizar, mais direto, mais eficaz.



"Não dei conta do tempo a passar"

Phedilson


Mesmo com o grupo em marcha, Phedilson manteve uma linha de trabalho a solo. E cada novo lançamento vinha com um crescimento claro. “Sempre senti que a cada cena que lançava, subia um degrau. Tinha mais acesso, mais colaborações, mais visibilidade”, conta. O passo seguinte foi a integração na Galáxia, label que lhe deu ainda mais alcance. “Foi um momento em que entrei em contato com um público bem maior do que aquele que eu tinha sozinho”. Esse percurso, feito de independência, associativismo e amadurecimento artístico, é hoje visível na consistência do trabalho de Phedilson, tanto em palco quanto fora dele.


A escolha de Phedilson para subir ao palco nas celebrações dos dez anos da BANTUMEN não é inocente. Há uma década que acompanhamos de perto o seu percurso. “A ligação com a BANTUMEN é especial. Não dei conta do tempo a passar, e agora estamos a celebrar dez anos”. A colaboração entre ambas as marcas tem sido contínua, e é com um sentido de orgulho que o rapper reconhece o crescimento da plataforma. “É um orgulho ver a BANTUMEN no estágio em que está. Ter feito parte dessa caminhada é um privilégio”.


Para Phedilson, este concerto é uma celebração partilhada, uma oportunidade de transformar um momento simbólico numa memória viva para quem estiver presente. O concerto comemorativo dos 10 anos da BANTUMEN no Musicbox é o reflexo desta rede de relações que o artista construiu ao longo dos anos, reunindo no mesmo palco nomes que marcaram diferentes momentos do seu percurso.


Jimmy P surge como uma referência incontornável neste contexto de colaborações significativas. "É uma referência para mim, é um amigo, é um cota que eu curto e trabalho". Esta relação, que já produziu "algumas coisas bonitas", segundo Phedilson, exemplifica o tipo de conexão que transcende fronteiras e gerações, unindo artistas de diferentes origens em torno de valores e objetivos comuns.


A ligação com Harold merece destaque especial neste panorama de colaborações. Desde os primeiros tempos de Phedilson em Portugal, Harold representou o seu principal contacto com o hip-hop local, estabelecendo-se como uma ponte entre o artista angolano e a cena portuguesa. "Falando dos mais bros dentro do Hip Hop Tuga, tipo, o Harold vem primeiro, tipo, meu brother, desde que eu conheci o Harold, mesmo à distância, a gente tem essa química, esse respeito, esse love", confessa Phedilson, sublinhando a profundidade desta amizade que resistiu ao tempo e à distância.


Esta relação é tão significativa que o artista considera quase impensável realizar um evento em Portugal sem a participação de Harold: "É muito pouco provável eu fazer uma cena na Tuga e o Harold não está por dentro de alguma forma. "O concerto no Musicbox também celebra o encontro entre diferentes gerações do hip-hop lusófono, com a participação de Tennaz, representante da nova vaga de artistas portugueses. Descrito por Phedilson como "um artista extraordinário da nova geração" e um "Young King", Tennaz simboliza a renovação e a continuidade da cultura, demonstrando que esta é uma arte viva e em constante evolução.


A presença de um artista mais jovem ao lado de figuras estabelecidas como Phedilson e Jimmy P ilustra a capacidade do hip-hop de se reinventar sem perder as suas raízes e valores fundamentais. A presença feminina no concerto é assegurada por duas artistas de grande talento: Hélia Sandra e Cynthia Perez. Hélia Sandra, carinhosamente chamada de "mãe grande" por Phedilson, é elogiada pela sua extraordinária presença em palco: "Vocês têm que ver a Hélia Sandra em palco, tipo, das artistas mais extraordinárias que eu vi nos últimos tempos em palco. Ela é espaçosa mesmo, tipo, subir em palco depois dela é difícil." Este reconhecimento do talento feminino é complementado pela participação de Cynthia Perez, uma ponte criada também pela BANTUMEN.


Para além dos artistas principais, o concerto contará ainda com a participação de DJ Fabz e Camboja Selecta na parte musical, garantindo a qualidade técnica e a fluidez do espetáculo. A dimensão visual da cultura hip-hop será representada por Spray Lover, que realizará uma performance de graffiti durante o evento. "O meu 'bro' vai estar a grafitar lá também para fazer uma cena bonita, juntar-nos mais elementos do hip hop dentro do nosso conceito", explica Phedilson, demonstrando a sua visão holística da cultura hip-hop, que integra não apenas a música, mas também as artes visuais e a expressão corporal.


Estas colaborações e conexões, celebradas no palco do Musicbox, refletem a essência da BANTUMEN como plataforma de divulgação e valorização das culturas negras lusófonas. Ao reunir artistas de diferentes nacionalidades, gerações e estilos, o concerto materializa a missão da revista digital de criar pontes entre as diversas expressões culturais negras no espaço de língua portuguesa, contribuindo para um diálogo cultural mais rico e diversificado.


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