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Transitar por diferentes linguagens artísticas é o que move Robert Frank, 43 anos, nascido no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte. Músico, ator, artista visual, diretor de arte, ilustrador, roteirista e, sobretudo, contador de histórias. Sua trajetória é marcada pela multiplicidade de expressões e pela conexão com o território de origem.
“Eu sempre fui artista, isso é fato”, afirma Robert em entrevista. Cresceu em um ambiente com poucos recursos, mas rodeado por discos de vinil, livros e o imaginário da favela. Desde cedo, encontrou no desenho, na música e no teatro de fantoches improvisado um espaço para criar. “Mesmo vivendo num contexto sem muitas perspectivas, fui, de certa forma, construindo isso no subconsciente. Apenas era essa figura e me alimentava de criar coisas, inventar.”
Robert estreou na cena artística por meio da banda Pelos de Cachorro, hoje apenas Pelos, fundada em 1999, aos 18 anos. O grupo é um dos pilares da música independente da região de Belo Horizonte, com sonoridade marcada por influências negras e periféricas. Álbuns como Alegrias Paliativas do Leprosário (2003), Olho do Mundo (2012) e Atlântico Corpo (2022) evidenciam sua atuação como compositor e designer, onde assina capas, vídeos e pôsteres.
A música foi a porta para outras linguagens. “Cantar me salvou”, resume, sobre uma adolescência marcada pela introspecção e pelo bullying. A expansão criativa foi natural e foi também a partir daí que dirigiu clipes, curtas, DVDs e passou a atuar como diretor de arte na televisão e no cinema. Posteriormente, editor de videografismo na Record e diretor de arte na Rede Minas e em produtoras audiovisuais.
📸: Robert Frank por Frank Bitencourt
Diante das câmeras, viveu outro ponto de virada. Como ator, integrou o elenco de obras da produtora Filmes de Plástico, como Contagem (2010), Temporada (2019) e No Coração do Mundo (2019), filmes que abordam a estética periférica com um olhar atento. O trabalho no cinema abriu portas para a televisão e para o streaming, levando-o a atuar em Hit Parade (Globoplay/Canal Brasil, 2021). Além desse trabalho foi também escalado para a série O Natal dos Silva (com estreia prevista para o fim de 2025), para os filmes Amores 1500 (de Grace Passô, sem data) e Tarã (Disney+, 2025), onde interpreta um jornalista investigativo ao lado de nomes como Xuxa e Angélica.
A obra de Robert é marcada pela cultura negra e as suas influências vão de Ray Charles a Radiohead, de Marvin Gaye a Roberto Carlos, resultado do convívio com os gostos ecléticos dos irmãos. A literatura também é parte do seu repertório: menciona Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez, Memórias Póstumas de Brás Cubas, romance assinado por Machado de Assis, e A Divina Comédia, de Dante Agliheri, como pilares do seu universo criativo. Reconhece ainda a importância de artistas negros ao seu redor, como a escritora Cidinha da Silva.
Mas a referência mais marcante é o próprio pai. “Ele sempre foi um artista sem saber”, recorda. Conta que na casa de infância, os móveis e paredes eram azul celeste, o chão encerado de vermelho e que sempre viu no cotidiano as bases da estéticas que passou a utilizar na sua arte. “Aquilo era uma estética. Uma identidade”.
Nos últimos anos, consolidou-se também como artista visual. Suas aquarelas, cartazes e capas de livros e discos já circularam por Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Dinamarca e Argentina. O projeto “Quartos Infinitos”, iniciado em 2013, reúne suas criações visuais e já passou por diversas galerias, como a Cobo Galeria, em Belo Horizonte. Assina a capa da edição brasileira de O Que Fazer, do argentino Pablo Katchadjian, e o pôster do filme Marte Um, representante brasileiro ao Oscar de 2023. Seus traços também aparecem em obras de Larissa Amorim Borges, Rodrigo Pazzinato e outros nomes da cena literária afro-brasileira.
Para Robert, ser artista é também um modo de existir. “Demorei para reconhecer essas coisas como arte, como profissão, como possibilidade de existência”. Hoje, com uma carreira que atravessa música, atuação, artes visuais e design gráfico, ele é exemplo de como a criatividade pode emergir das periferias e se expandir em múltiplas direções.
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