Associação Samane relança questionário sobre saúde materna de mulheres negras em Portugal

A Associação Samane, organização dedicada à promoção da saúde de mães negras e racializadas em Portugal, reabriu o seu inquérito nacional sobre cuidados no pré-natal, parto e pós-parto, com o objetivo de atualizar dados e reforçar a produção de evidência científica num tema onde persistem lacunas significativas de informação.

A primeira versão do questionário foi aplicada em 2021/2022 e permitiu recolher um conjunto de testemunhos, posteriormente sistematizados no primeiro relatório técnico da associação, publicado em 2023. O documento reúne 158 respostas válidas e identifica padrões como a percentagem de mulheres que referiram ter sofrido humilhação durante a gravidez (33,5%), situações de negligência (41,1%) ou intervenções realizadas sem explicação e sem consentimento (28,5%). No contexto do parto, 23,4% das participantes afirmaram ter-se sentido negligenciadas e 31% indicaram que as intervenções não foram devidamente explicadas ou consentidas. Estes dados foram recolhidos através de um inquérito anónimo e de entrevistas complementares conduzidas pela equipa de investigação.

O relatório também evidencia que 10,6% das respondentes afirmaram não se sentir respeitadas durante a gravidez devido à sua identidade étnico-racial e que 5,7% ouviram comentários depreciativos relacionados com a raça durante o parto. Além disso, 31,6% referiram ter sido submetidas a episiotomia, e parte desses casos ocorreu sem anestesia adequada.

A associação entende, por isso, que a nova fase do estudo é essencial para consolidar um retrato mais amplo e atualizado da realidade vivida por mulheres negras no sistema de saúde português, identificando fragilidades, barreiras e padrões de desigualdade que persistem nos cuidados prestados durante a gravidez, o parto e o pós-parto.

O preenchimento do questionário é voluntário e destinado a mulheres negras que tenham passado por processos de gravidez, parto ou pós-parto em Portugal. Segundo a Samane, cada participação representa “um elemento essencial” para a consolidação de dados capazes de informar decisões futuras. A associação sublinha ainda que a recolha é anónima e que este contributo “permitirá identificar necessidades concretas nos cuidados prestados durante a gestação, o parto e o pós-parto”, além de apoiar o desenvolvimento de “instrumentos que orientem políticas públicas e práticas profissionais na área da saúde materna”.

O questionário pode ser preenchido aqui.