Samson Kambalu em Portugal para atiçar reflexão sobre identidade africana

10 de Novembro de 2021
Samson Kambalu em Portugal para atiçar reflexão sobre identidade africana

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Samson Kambalu é um artista conceptual visual do Malawi, que, através da sátira, procura provocar a reflexão sobre a identidade africana e a sua relação com as amarras coloniais, reconhecido internacionalmente e que está pela primeira vez em Portugal. A expor na Culturgest, Kambalu apresenta ao público português a mais completa da sua obra até à data: Fracture Empire.

Com a curadoria de Bruno Marchad, o recém-vencedor do Quarto Plinto (Trafalgar Square, Londres), um dos prémios de arte pública mais famosos do mundo, estará na Culturgest até ao dia 2 de fevereiro de 2022.

Apelidado de provocador, Kambalu é um nome reconhecido internacionalmente e “um dos mais singulares tradutores da cultura sincrética africana para os olhos e para a razão ocidentais. É também um intérprete e um crítico da história conturbada destes dois blocos”, como refere Bruno Marchand, curador desta exposição, que marca a estreia de Kambalu em Portugal.

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Altamente requisitado, o artista venceu recentemente a última edição do Fourth Plynth, o prestigiado concurso de escultura pública em Trafalgar Square, Lodres, cuja proposta abre a exposição Fracture Empire.

À margem da exposição, Kambalu dará ainda uma conferência, no dia 17 de novembro, às 18h30, onde vai-se falar sobre a sua produção fílmica em relação ao uso de máscaras nos rituais da irmandade Nyau, uma sociedade secreta do Malawi onde a prática do dom é uma questão central. “Olhando para o sincretismo da cultura deste país africano, que Kambalu estende para movimentos filosóficos e artísticos de origem europeia, como o Dadaísmo, o Surrealismo e o Situacionismo, cruzaremos os trajetos de projecionistas de cinema ambulante na época colonial com as histórias de políticas emancipatórias, referindo algumas figuras radicais do pan-africanismo como John Chilembwe (Malawi) e Clement Kadalie (África do Sul)”, pode-se ler na descrição do evento no site da Culturgest.

Usando a brincadeira e a sátira para se envolver em atos radicais de expressão pública, Samson Kambalu questiona as narrativas que nos foram transmitidas, sem questionamento. A sua exploração das ideias de conhecimento e arte como oferta, que derivam das práticas ancestrais do Malawi entram em conflito com as ideias capitalistas de propriedade privada. 

O seu trabalho abrange várias vertentes, do desenho à pintura passando pela instalação e pelo vídeo. O humor, o excesso e a transgressão são constantes na obra deste artista que mistura bandeiras de vários países e obriga-nos a testar os limites pré-concebidos sobre história, arte, identidade, religião e liberdade individual.

Reconhecido internacionalmente, o seu trabalho foi já exibido em todo o mundo, incluindo o Festival Internacional de Arte de Tóquio em 2009, a Bienal de Liverpool em 2004 e 2016, a Bienal de Dakar em 2014 e 2016 e a Bienal de Veneza em 2015, Art Basel e Frieze.

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Nascido no Malawi, em 1975, uma década após a sua independência do Império Britânico, Kambalu estudou na Universidade de Maláui (BA Fine Art and Ethnomusicology, 1995-99); Nottingham Trent University (MA Fine Art, 2002-03) e Chelsea College of Art and Design (PhD, 2011-15) e ganhou bolsas de pesquisa na Yale University e Smithsonian Institution. É professor associado de Belas Artes no Ruskin College e membro do Magdalen College, Oxford University.

Em 2015, a par da sua participação na Bienal de Veneza, foi processado pelo trabalho que mostrou sobre o situacionista italiano, Gianfranco Sanguinetti, que um ano antes tinha vendido o seu arquivo à Biblioteca Beinecke, da Universidade de Yale. Os críticos consideraram esta uma atitude contrária ao espírito situacionista de propriedade pública e doação de presentes. Assim, Kambalu fotografou todo o arquivo e expôs na Bienal de Veneza, com o objetivo de o devolver ao domínio público. A Sanguinetti processou Kambalu e a Bienal exigindo o encerramento da instalação, a destruição do catálogo da Bienal e uma taxa de 20.000 euros por cada dia de atraso. Sanguinetti não ganhou o caso.

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