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Quando chegou a Lisboa em 2010, Sheila Pereira, Designer e Criativa, trazia consigo o objetivo de concluir o curso de Arquitetura. Tinha saído de Moçambique em busca de novos horizontes académicos, mas foi já em solo português que percebeu que o verdadeiro interesse residia noutro lugar, o design gráfico. Essa viragem acabaria por definir não apenas a sua trajetória profissional, mas também a forma como construiu, entre dois continentes, uma prática ancorada na clareza visual e no compromisso com o crescimento estratégico das marcas.
Hoje, com uma pós-graduação em Branding e um percurso consolidado, desenvolve projetos entre Portugal e Moçambique, procurando fortalecer identidades locais com soluções visuais coerentes e funcionais. Conta que sempre teve o propósito de “ajudar marcas locais a ganharem clareza, estrutura e presença no mercado” e que, embora não recorra diretamente a elementos culturais moçambicanos como fonte estética, reconhece que o contexto dos seus clientes - maioritariamente moçambicanos - foi determinante na forma como o seu trabalho se foi orientando.
A ponte entre geografias com maturidades distintas em matéria de design confere-lhe uma perspetiva particular. Em Portugal, o mercado de design especializado representa atualmente mais de 540 milhões de euros, num setor maduro mas altamente competitivo, onde se exige versatilidade e onde os profissionais enfrentam frequentemente salários baixos e funções acumuladas. Já em Moçambique, o investimento em publicidade digital cresce a uma média anual de quase 6%, refletindo a crescente digitalização da economia e o interesse de marcas locais em consolidar a sua presença através de estratégias visuais mais sólidas. Essa procura por diferenciação e estrutura tem vindo a abrir espaço para uma atuação mais transformadora, sobretudo no campo do branding.
É nesse cruzamento que Sheila posiciona o seu trabalho, procurando responder às necessidades concretas de cada realidade. Diz gostar de “equilibrar tradição e modernidade, criando identidades visuais limpas, atuais e com potencial de crescimento, tanto a nível nacional como internacional”, sublinhando que as soluções que propõe partem sempre da realidade concreta de cada negócio, combinando funcionalidade com clareza comunicativa, sem descurar aquilo que torna cada marca única.
Ao longo do tempo, foi reunindo referências que ajudaram a refinar a sua visão, entre elas o designer e estratega norte-americano Chris Do, cuja abordagem ao personal branding considera particularmente marcante. “Ele partilha que o personal branding ‘não é um processo de invenção, é um processo de recordar quem realmente és e ajudar os outros a lembrarem-se disso’”, recorda. Por também se considerar introvertida, encontrou nas ideias dele um ponto de identificação, sobretudo pela forma como desafia a noção de visibilidade como condição indispensável à presença. “Sempre tive receio de me expor. O Chris ajudou-me a perceber que não é preciso estar sempre à frente das câmaras para ter uma presença forte, o que importa é seres encontrada, comunicar com clareza e mostrar o valor do teu trabalho com confiança.”
Entre os nomes que acompanha, destaca ainda Luiz Vaz, designer português e fundador dos estúdios Indústria Criativa e Vazio Studio, cuja abordagem ao branding e ao naming, assente no rigor, na consistência visual e na atenção ao detalhe, considera exemplar.DABANGA, uma das marcas com quem Sheila Pereira colaborou
Sheila divide o seu trabalho em três áreas: identidade de marca, design editorial e ilustração. Na criação de marcas, onde concentra grande parte do seu tempo, adota uma abordagem centrada no cliente e orientada pelos objetivos específicos de cada negócio. Já no design editorial, encontra o desafio de organizar conteúdos de forma fluida e apelativa, criando experiências de leitura onde forma e conteúdo se articulam com simplicidade e eficácia. Reconhece que cada projeto é uma oportunidade de evolução, e afirma: “Sei que há sempre espaço para crescer e aprender com cada projeto.”
Na ilustração, assume que o território é mais livre. Autodidata nesta área, encontra na criação de personagens e narrativas visuais uma forma distinta de expressão, que aplica tanto em livros infantis como em elementos gráficos desenvolvidos para marcas - um espaço onde pode explorar uma linguagem visual mais pessoal, sem abdicar da função comunicativa.
Acima de qualquer preocupação estética ou escolha estilística, é o impacto tangível do trabalho que a move. Saber que uma marca ganhou consistência, reconhecimento ou clareza após a sua intervenção representa, para si, o maior retorno. “O que mais me motiva é ver o impacto real do meu trabalho – saber que o meu contributo ajudou o cliente a evoluir e ganhar reconhecimento é, para mim, o maior retorno.”
Apesar de viver há mais de uma década em Portugal, Moçambique permanece como território emocional e afetivo, mas também como espaço de ação profissional. “Moçambique é a minha raiz, tenho lá família, amigos e muitas memórias. Adoraria poder visitar com mais frequência.” Embora tenha construído em Lisboa a sua estrutura pessoal e profissional, continua a procurar formas de manter viva a ligação entre os dois países, na convicção de que é possível pertencer a ambos. “O ideal seria manter essa ligação viva, com um pé em cada lado”, concluiu.
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