Soldiers Music, uma label que procura autenticidade antes dos números

Como nasceu a Soldiers Music? O que te motivou a criar este projeto?

A Soldiers Music nasceu de uma paixão genuína pela música e por talentos que muitas vezes passavam despercebidos. O projeto surgiu da necessidade de dar voz a artistas com enorme potencial, mas sem acesso a oportunidades concretas. Desde o início, acreditámos que o talento vem antes dos valores monetários - e foi essa convicção que nos guiou.

A motivação principal foi perceber que havia demasiada música boa a ficar na gaveta, ou a ser partilhada apenas entre amigos, sem nunca chegar ao público que merecia ouvi-la. Com os poucos meios disponíveis na altura, começámos a trabalhar lado a lado com esses artistas, a lutar para que as suas músicas ganhassem visibilidade e impacto.

O nosso objetivo sempre foi claro: não queríamos ser os únicos a ouvir essas canções, queríamos levá-las ao mundo.

A Soldiers Music nasceu, assim, de um sentimento de responsabilidade, de justiça e de amor pela arte, um compromisso com os artistas e com a autenticidade. Porque acreditamos que cada talento merece ser descoberto, desenvolvido e celebrado.

Lembras-te do primeiro artista que acreditou na tua visão?

O primeiro artista que acreditou na minha visão foi o NGA, da Força Suprema. Ele foi fundamental no início deste percurso, confiando no meu olhar criativo, tanto na parte visual como nas edições, numa altura em que ainda estava a construir o meu espaço na indústria.

Essa confiança foi um ponto de viragem: deu-me não só motivação, mas também legitimidade para continuar a desenvolver o meu trabalho com dedicação e identidade própria.

A partir dessa colaboração com o NGA, surgiram outras oportunidades importantes, nomeadamente com o artista Halloween e, mais tarde, com o Ghoya. Cada um destes artistas trouxe novos desafios e aprendizagens, permitindo-me crescer tecnicamente e aprofundar a minha visão artística. Foi um percurso orgânico, sustentado pela confiança mútua e pelo compromisso de elevar a qualidade do conteúdo criado, sempre com o foco em valorizar a autenticidade de cada artista.

Qual é o principal objetivo da Soldiers Music?

É dar visibilidade e reconhecimento a talentos que merecem ser ouvidos, num mercado cada vez mais saturado de lançamentos.

Acreditamos que, no meio de tanta música que sai todos os dias, ainda há artistas, tanto emergentes como já ativos, que têm qualidade, identidade e mensagem, mas que não recebem a atenção que merecem por parte do público, das rádios ou da indústria em geral.

A Soldiers Music existe para mudar esse cenário. Trabalhamos para apoiar artistas com potencial real, oferecendo-lhes uma estrutura que acredita neles, independentemente dos números ou do hype do momento. Queremos ser a ponte entre o talento e o mundo, ajudando não só a lançar novas vozes, mas também a reforçar o percurso de artistas que estão no bom caminho, mas que precisam de mais visibilidade, valorização e alguém que esteja do lado deles a lutar pelas mesmas metas.

O que procuras num artista antes de o integrar no teu selo ou colaborar em projetos?

Antes de integrar um artista na Soldiers Music ou colaborar em qualquer projeto, procuro em primeiro lugar talento e compromisso. O talento é essencial, claro, mas por si só não basta. É preciso que o artista esteja realmente comprometido com o seu percurso, com vontade de crescer e de trabalhar ativamente para atingir os seus objetivos.

Não se trata de esperar que façamos tudo por ele. Tem de haver iniciativa, entrega e uma mentalidade de equipa, porque, como se costuma dizer, “o que um não quer, dois não fazem”.

Valorizo também o respeito mútuo, tanto por mim como pelo próprio artista enquanto pessoa. Ao carregar o selo Soldiers Music, está-se a representar uma visão, uma ética de trabalho e um nível de exigência que não se pode ignorar. No fundo, procuro artistas que entendam que esta caminhada é feita a dois, com dedicação, transparência e um verdadeiro sentido de propósito.

Como surgiu a colaboração com a Radija Borges?

A colaboração com a Radija Borges surgiu de forma natural e orgânica, através do artista R.One. Ele partilhou comigo algumas maquetes que a Radija tinha gravado há alguns anos com ele e o produtor Felino.

Ao ouvi-las, percebi que havia ali um potencial real, algo que o mundo precisava de ouvir. Liguei de imediato ao R.One e organizámos uma reunião para que eu conhecesse a Radija. O objetivo sempre foi claro: levar a música dela ao público e dar-lhe o espaço que merece.

O que te chamou a atenção nela como artista?

O poder da sua voz, cheia de presença, sentimento e identidade, mas com um toque de doçura que equilibra essa força. Além disso, a sua facilidade em criar melodias autênticas e emocionais revelou uma artista com algo muito especial para oferecer.

Podes partilhar como foi o processo criativo do single “Sem Guerra”?

Foi um processo simples e verdadeiro. A música fala sobre um amor que atravessa o tempo e permanece vivo, mesmo à distância. A letra foi escrita com coração e pureza. Visualmente, trabalhámos juntos para garantir que a narrativa fosse sensível, honesta e fiel à sua essência.

Trabalhar com nomes como Loreta KBA e Felino também mostra ambição. Como se construiu essa equipa?

Essa equipa já existia, fruto de colaborações anteriores. O meu papel foi dar visibilidade às músicas que estavam guardadas, garantindo que chegassem ao público com a qualidade que mereciam.

Sabemos que também trabalhas na direção visual e artística. Como equilibras o som com a imagem na tua abordagem?

Gosto de trabalhar em colaboração com o artista. Para mim, a imagem deve estar alinhada com o som, mas sem ser literal. Tento sempre acrescentar camadas, criando uma ligação emocional com o público.

Consideras que hoje é impossível separar imagem e música?

Não é impossível, mas a imagem tornou-se essencial. Dá uma nova dimensão à música, reforça a mensagem e amplia o impacto junto do público.

Como vês a cena musical atual, especialmente para os jovens artistas lusófonos?

É um cenário desafiante, marcado por consumo rápido e concorrência global. Hoje, captar a atenção exige mais do que talento: é preciso consistência, identidade e estratégia.

Quais são os maiores desafios e oportunidades para artistas como a Radija?

Os desafios passam pela necessidade de se destacar num mercado saturado e pelas pressões das redes sociais. Já as oportunidades surgem quando a autenticidade conquista o público, como aconteceu com Deejay Telio e o seu tema viral.

Por que é importante estes novos artistas trabalharem com uma label como a Soldiers Music?

Porque oferecemos liberdade criativa, rede de produtores, acompanhamento visual e histórico comprovado. A Soldiers Music é mais do que lançar músicas, é uma estrutura que eleva artistas e constrói carreiras.

Há mais projetos em andamento que possas partilhar connosco?

Sim. Teremos novos singles da Radija, além de trabalhos com Missy Bity e Kastro. Também relançámos a marca de roupa da Soldiers Music, como extensão cultural da editora.

Onde queres ver a Soldiers Music daqui a 5 anos?

Como uma editora de referência na lusofonia e no mundo, sólida, respeitada e com impacto cultural, seguindo o legado da Sons D’África.

Tens vários prémios no teu portfólio. Há algum outro que gostasses muito de vencer?

Gostava de vencer prémios que representem reconhecimento real e justo, com impacto e visibilidade concreta, em vez de distinções apenas simbólicas.

Que mensagem deixas aos jovens artistas que estão a tentar dar os primeiros passos?

Acreditem em vocês mesmos antes de esperarem que outros acreditem. Trabalhem com foco, consistência e não fiquem à espera que alguém faça por vocês. O primeiro passo é sempre vosso.

E ao público que ainda vai descobrir a Radija através de “Sem Guerra”?

Vão encontrar uma artista com voz única, emoção e carisma. “Sem Guerra” é apenas o começo, e acreditamos que Radija tem tudo para ser a próxima grande estrela em ascensão da música lusófona.