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Cantora, compositora e atriz, Tchakaze é um nome inconfundível na cena artística moçambicana. Apaixonada por contar histórias, abraçou recentemente a literatura como meio para refletir sobre os desafios e questionamentos de ser artista em Moçambique. No livro Ser artista no país do pandza, publicado pela editora Litlangu, a autora percorre, ao longo de 72 páginas, a sua trajetória como cantora e mulher na indústria musical moçambicana, com especial enfoque no género pandza.
A obra explora as dificuldades e lutas inerentes à vida artística, bem como temas como o amor, o erotismo e os bastidores da indústria da música. Tchakaze descreve a experiência de ser mulher e cantora como um “campo de batalha”, onde o talento feminino é frequentemente ofuscado pelo machismo estrutural e por preconceitos. “As mulheres na música são julgadas mais pela sua aparência do que pela sua arte, e a sua voz é vista como uma forma de resistência”, afirma.
Com cerca de dez anos de carreira, a artista combina pop e soul com influências da música tradicional moçambicana. A sua experiência permitiu-lhe analisar criticamente o erotismo na arte, discutindo como este, historicamente, foi visto como um privilégio masculino, restringindo a autonomia das mulheres sobre a sua própria sexualidade. Para a autora, o erotismo e o amor são “uma chama que acendemos dentro de nós e uma forma de empoderamento”, citando como referências Madonna, Nina Simone e Zaida Chongo. Recorre ainda a pensadores como Sigmund Freud e sucessores para contextualizar a discussão.
Formada em Psiquiatria e Saúde Mental pelo Instituto de Ciências de Saúde de Maputo, Tchakaze transporta para as suas composições a luta pela dignidade, autenticidade e direito a ocupar espaços de forma plena. No livro, denuncia o “ciclo de sobrevivência” a que muitos artistas moçambicanos estão sujeitos, sendo obrigados a acumular várias funções, de produtor a gestor, para sustentar a sua arte, face à falta de infraestruturas e de apoio financeiro. “A música, muitas vezes, é transformada numa mercadoria superficial, onde a autenticidade e o talento são preteridos em favor do lucro”, escreve.
Na parte final, a autora aborda “o preço da fama”, refletindo sobre os sacrifícios e vulnerabilidades da vida artística: a pressão para corresponder a padrões de sucesso e aparência, a solidão e a crítica constante.
O livro foi apresentado em junho deste ano, em São Paulo, numa experiência que a própria descreve como “calorosa, enriquecedora e inesquecível”, destacando a oportunidade de interação com leitores interessados em intercâmbios culturais. Defensora da ideia de que “a língua e a cultura portuguesas que unem países e povos são pontes poderosas”, prepara-se para levar o livro a Portugal e a outros países da CPLP. “Embora ainda não tenha datas definitivas, a equipa e eu estamos em negociações e planeamentos para que isso se torne realidade o mais breve possível. Queremos garantir que a chegada do livro nesses países seja tão bem-sucedida e impactante quanto foi em Moçambique e no Brasil”, adianta.
Quando questionada sobre a música e a literatura, responde que é na primeira que encontra refúgio, capacidade de comunicar, harmonia e a celebração da arte como resistência contra o silêncio imposto.
Em 2014, lançou os temas Nkata e Donguissa, que se tornaram grandes sucessos nacionais. Recebeu diversos prémios, incluindo Artista Revelação e Melhor Voz no Ngoma Moçambique, e Melhor Canção pela 99FM. Mais recentemente, integrou o elenco da série A Infiltrada, do grupo Multichoice, no papel de Janete.
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