Tchiloli, de São Tomé e Principe, considerado Património Cultural Imaterial da Humanidade

O Tchiloli é oficialmente Património Cultural Imaterial da Humanidade. A confirmação foi feita pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), durante a 20.ª sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, a decorrer em Nova Deli, na Índia.

A decisão representa o culminar de um processo iniciado em 2015, marcado por vários desafios e etapas técnicas. A UNESCO felicitou o Estado são-tomense pela sua primeira inscrição na lista representativa, sublinhando a “perseverança e o empenho” demonstrados ao longo da candidatura. Após a perda de parte da documentação inicial, novos estudos foram lançados em 2023 para sustentar o dossiê, trabalho que levou, em 2024, à inclusão do Tchiloli no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, uma condição essencial para o reconhecimento internacional agora confirmado.

O Tchiloli é uma das mais emblemáticas manifestações culturais de São Tomé e Príncipe. Trata-se de um teatro popular com origem no século XVI, inspirado na tragédia de D. Carloto, que continua a ser encenado em espaços abertos, sobretudo durante festivais e eventos públicos. A peça envolve atores, músicos e uma forte participação do público, que não se limita a assistir e iintegra a própria dinâmica do espetáculo.

De acordo com a documentação da UNESCO, a narrativa gira em torno de um julgamento por homicídio e mobiliza cerca de trinta atores. Em cena estão representadas diferentes figuras do sistema judicial e do poder político, desde a família da vítima ao imperador e à sua corte, passando por juízes, advogados e outras personagens públicas. O momento central é um julgamento público em que o filho do imperador é acusado do crime, numa encenação que simboliza o princípio da igualdade perante a lei, valor que atravessa toda a peça e lhe confere uma dimensão ética e pedagógica.

Mais do que uma representação teatral, o teatro é um ritual comunitário que preserva códigos, linguagens, figurinos e formas de transmissão oral que resistiram ao tempo e às transformações sociais. Grupos como o Formiguinha da Boa Morte, fundado em 1956 e considerado o mais antigo ainda em atividade, desempenham um papel central na continuidade desta prática, assegurando a passagem de conhecimentos entre gerações.

Com a inscrição agora confirmada, a UNESCO propõe um conjunto de medidas de salvaguarda para garantir a proteção e valorização do género Estas deverão ser implementadas pela Rede Tchiloli, com apoio técnico, financeiro e logístico do Governo são-tomense, e incluem a organização de concursos e eventos dedicados ao teatro, a produção e divulgação de materiais informativos, a transmissão de conhecimentos e competências associadas à prática, com especial enfoque na formação de jovens, bem como a expansão da Rede a nível nacional.

Entre as iniciativas previstas constam ainda a criação de centros de recursos, um museu vivo dedicado ao Tchiloli e a realização de simpósios científicos que promovam o estudo, a documentação e a reflexão académica sobre esta expressão cultural, reforçando o seu reconhecimento local e internacional.