Tchuma Bary: música, memória e missão social em nome da Guiné-Bissau

16 de Julho de 2025
Tchuma Bary entrevista

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Voz firme, presença serena e compromisso inabalável, Tchuma Bary representa uma geração de artistas que fazem da arte uma ferramenta de transformação social. Filha do músico Aliu Bary, falecido em 2013, a cantora tem-se destacado como um dos rostos da música contemporânea de Guiné-Bissau, aliando a criação artística à ação cívica.

Profissionalizou-se em 2011, num contexto adverso para as mulheres na indústria musical nacional. Em 2012, foi distinguida como Voz Feminina de Revelação e, no ano seguinte, recebeu um Diploma de Mérito das Nações Unidas, durante o Festival Nacional sobre Direitos Humanos. Desde então, consolidou-se como uma artista engajada, que dá voz a temas como justiça social, identidade cultural e igualdade de género.

O álbum Nha Terra, lançado em 2014, é um dos marcos da sua carreira. Fundindo ritmos tradicionais guineenses, a obra é, para muitos, uma declaração de pertença e resistência. Gravado em parte com o pai, a faixa-título tornou-se um hino à terra natal e à memória coletiva.

Apesar das fragilidades do setor cultural, Tchuma tem representado a Guiné-Bissau em palcos internacionais, sempre com a missão de exaltar a identidade guineense. Formada em Contabilidade, a artista atua ainda como voluntária junto ao Comité Nacional da ONU, com enfoque na infância e nos direitos das mulheres.

Em 2014, foi nomeada embaixadora nacional na luta contra a mutilação genital feminina, usando a sua visibilidade para promover mudanças de mentalidades e políticas públicas. Durante a pandemia, integrou a campanha “Música Nacional Contra o Coronavírus”, que usou a música como meio de informação e sensibilização comunitária.

Em 2025, concretizou um sonho antigo ao lançar a Fundação Tchuma Bary (FTB), voltada para o empoderamento de crianças, mulheres e jovens. A organização desenvolve projetos nas áreas de educação, saúde, empreendedorismo e cultura, com foco em comunidades vulneráveis. “Criamos a fundação para apoiar as crianças mais necessitadas, sobretudo órfãs, oferecendo não só alimentação, mas também educação de qualidade”, afirmou. “Também trabalhamos no empoderamento das mulheres, ajudando-as a acreditar no seu potencial. Muitas têm talento para negócios, mas faltam-lhes apoio, tempo ou orientação. É nesse ponto que atuamos.”

Em entrevista à BANTUMEN, em Bissau, Tchuma reagiu ao reconhecimento das Ilhas Bijagós como Património Mundial da UNESCO, exaltando a importância da conquista e o papel das comunidades e ambientalistas que contribuíram para esse marco histórico. "A Guiné-Bissau tem coisas boas, tem potencial. Este reconhecimento mostra isso ao mundo. A cultura e a música podem ser aliadas na proteção do nosso patrimônio natural e cultural”, declarou.

A artista defende um investimento sério e sustentável no arquipélago, para que a preservação da biodiversidade caminhe lado a lado com o desenvolvimento local.

Questionada sobre a memória do pai, Aliu Bary, não esconde a emoção: “Além de ser o meu pai, foi e continua a ser a minha maior inspiração. Ele não pensava apenas na sua família, mas no bem comum. Dedicou-se à agricultura nos últimos anos de vida, acreditando que, se bem aproveitada, essa área pode beneficiar todo o país. A sua música era um chamamento à consciência social.”

Com uma carreira que combina música, ação e visão, Tchuma Bary assume que a arte guineense pode ser ponte, farol e motor de transformação do país. “Acredito que a arte pode mudar realidades concretas do país”, concluiu.

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