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Tino OG: música, paternidade e lealdade

2 de Outubro de 2024

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Num tempo em que o rap em Portugal era ainda visto como algo periférico, marginal e associado aos bairros, Tino OG, juntamente com Ne Jah, Real Nigga, Lev e Mini God, foi um dos primeiros no rap crioulo a alcançar a marca de um milhão de visualizações no YouTube, com a música "Abuso Di Poder", em 2012. Um feito histórico naquela época.


Mas a sua jornada musical começou antes disso. Tudo iniciou quando tinha 15 anos, cheio de vontade, mas sem qualquer conhecimento de como era o processo de gravar uma música. Contou com a ajuda de amigos e colegas que já tinham começado a cantar. Naquela altura, começou a fazer rap com o nome Tininho G, muito influenciado pelo que ouvia e via dos Estados Unidos.


“Era o que consumíamos mais na altura, era gangsta rap de lá, estás a ver? Então, adotámos essa cena de usar o ‘G’ no final do nosso nome. No início nem sabíamos o significado de gangsta, mas depois pesquisámos e percebemos que fazia sentido e combinava com o nosso perfil naquele momento. Se reparares, a maioria dos rappers daqui que têm esse ‘G’ no nome, quase de certeza que é por essa base”, explicou.



Tino começou a fazer rap por se identificar com o estilo e pelas influências que tinha à sua volta. “Comecei a fazer rap porque era o estilo de música de que eu mais gostava, era o que mais me influenciava à minha volta. Tinha familiares que cantavam, que faziam música, rap, e aquilo fascinava-me. Eu dizia que queria fazer aquilo, só não sabia como. Com o tempo fomos aprendendo, e até hoje estamos a aprender. Foi, basicamente, a influência do meio onde estávamos. Era a única arma que tínhamos para nos expressarmos e para dizer o que sentíamos. Era também uma forma de ser ouvido por outros que passavam pelo mesmo que nós. Hoje em dia, a música é diferente, mas naquela altura era mensagem atrás de mensagem. Se não houvesse mensagem, não cantavas connosco, mano”.


Com o passar do tempo, a música mudou, Tino OG amadureceu e ganhou maior consciência do que quer e até onde pode ir. Musicalmente, sabe que temas abordar e como fazê-lo, além de saber que mensagem quer passar.


A espontaneidade no estúdio mantém-se, mas agora há uma maior organização de como e quando agir. Existe também uma preocupação em perceber o que o público espera de Tino, algo que há dez anos nem sequer pensava. Trabalha com uma equipa alinhada na Afroblood, procurando estratégias e formas de divulgar a música de modo a inserirem-se no mercado, fazendo com que as suas criações cheguem a mais pessoas.


“Hoje, olho para o Tininho G de 15 anos e vejo que era um miúdo, um puto, que estava a tentar fazer algo pela comunidade e por si mesmo, e ao mesmo tempo a ser feliz e a divertir-se. Agora, o Tino G quer estabilidade, paz de espírito, quer continuar a cantar, mas com cabeça. Não quer cantar só por cantar, quer realmente mudar a vida de alguém, fazer a diferença, seja monetariamente ou espiritualmente, de alguma maneira. Acho que esse pensamento é o resultado do amadurecimento que tive ao longo do meu caminho. O Tininho ficaria orgulhoso de me ver agora e diria que, apesar de ter custado, estamos no caminho certo, estamos mais velhos e focados no que queremos", disse Tino G, emocionado ao recordar a sua jornada.


Houve uma altura em que Tino fez uma pausa na música, um momento necessário para se reconectar consigo mesmo. Foi também nessa altura que foi para a Guiné-Bissau, a sua terra natal, o que acabou por influenciar a sua música. Estar na Guiné-Bissau transformou a forma como fazia e via a música, onde percebeu que a língua é cultura e que cantar em crioulo era manter-se ligado às suas raízes e aos seus ancestrais.


“Ir para a Guiné não foi só pela língua, foi por tudo: pela experiência, pelas pessoas que conheci, pelas realidades diferentes que vivi. Coisas simples para alguns, mas que para mim foram marcantes. Coisas que antes não valorizava, passei a valorizar. Isso fez-me ver a vida de outra forma, e claro que isso também afetou a minha música. Hoje sou um Tino OG mais preocupado em passar mensagens concretas, sabendo exatamente o que quero transmitir”, explicou-nos. Tino OG acrescenta ainda que a sua ida à Guiné foi um momento importante que ajudou a moldar quem é hoje e quem quer ser. Foi uma peça-chave no seu percurso, sem a qual sente que não seria o que é atualmente.


https://www.instagram.com/p/C-fr80Ds9CP/


Tino cresceu, reconectou-se com as suas origens, e tornou-se pai, uma nova responsabilidade, sobretudo no contexto de ser músico. Questionado sobre como a paternidade, especialmente sendo pai de gémeas, influencia a sua forma de fazer música e a mensagem que quer transmitir, Tino respondeu: “Sou daqueles que acham que a vida do homem nunca foi fácil, nem nunca vai ser. Então, não adianta chorar. Tive de me adaptar, o tempo ficou mais limitado. Antes só tinha um filho, a música, agora tenho três: as minhas filhas e a minha música. Tenho de continuar a fazer música, até porque ela ajuda a família. O objetivo é viver dela, mas sozinho não ia conseguir. Tens de ter uma parceira como eu, alguém que te ajude, que fique com as crianças quando não podes. A paternidade trouxe maturidade, agora vejo a música de outra forma. Já não é algo que faço só por fazer, faço com um objetivo porque já não tenho tempo a perder".


Há 10 anos, a mensagem que transmitia era diferente. Ser pai fez com que Tino repensasse a sua imagem e a forma como quer ser visto e ouvido. Isso também se refletiu nos videoclipes, onde decidiu não aparecer em determinadas cenas. A mudança aconteceu quando viu um clipe com as filhas e percebeu que a primeira imagem o mostrava num ambiente que já não queria associar à sua imagem pública. Foi nesse momento que tomou consciência do impacto da sua música, não só nos seus filhos, mas também nos jovens que o seguem.


Hoje, Tino OG preocupa-se mais com a mensagem que quer transmitir e o impacto que pode ter. A paternidade trouxe-lhe uma nova responsabilidade, refletindo-se na forma como escolhe lançar música. Mais do que singles, agora procura criar projetos com substância, equilibrando arte e imagem.

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