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Talvez estejas a ler isto a caminho do trabalho. Talvez tenhas sido uma das pessoas que acordou às 5 horas da manhã, sem tempo sequer para tomar o pequeno-almoço com calma. Ou talvez estejas de folga, mas com a cabeça cheia de pendentes, emails por responder, contas para pagar e um corpo que pede descanso, mas que ao mesmo tempo, já desaprendeu a parar.
Neste Dia do Trabalhador, não falo apenas para quem recebe salário no fim do mês. Falo para quem trabalha por conta própria e que, mesmo quando o mundo se dá ao luxo de parar, continua a pensar em estratégias, a responder clientes ou a preparar entregas. Falo para quem decidiu empreender e está a tentar sobreviver à ansiedade do “será que vai resultar?”, ao cansaço de fazer tudo sozinho, à culpa de dizer “não posso sair, tenho de trabalhar”. Trabalhar para viver ou viver para trabalhar? Neste caso, a equação parece outra: trabalhar para não morrer à fome. E mesmo assim, às vezes, falha. Empreender também virou tendência, como se ser dono de si mesmo fosse sinónimo de liberdade.
Mas na verdade, quem já tentou abrir uma marca de roupa, vender bolos caseiros no Instagram ou gerir uma qualquer microempresa, sabe bem que empreender dá muito trabalho. E nem sempre dá lucro. Há dias em que as vendas não acontecem, os custos sobem e o algoritmo simplesmente não colabora. Aí, resta-nos apenas respirar fundo, engolir o orgulho e começar tudo de novo no dia seguinte, mesmo que isto signifique bater com a cara em muitas portas.
E o que dizer das mães trabalhadoras, das cuidadoras informais, das que fazem jornada dupla, tripla, e ainda assim se culpam por não conseguirem brincar com os filhos no fim do dia? Ou dos jovens negros qualificados que continuam a ouvir que não têm “perfil" para aquela vaga, e vão fazendo biscates enquanto esperam que o mérito, um dia, vença o preconceito? Mesmo assim, resistimos. Continuamos a escrever, a cantar, a dançar, a montar pequenos negócios, a ocupar espaços, a educar filhos, a erguer comunidades.
Continuamos, com tudo o que temos, a estar presentes. Mesmo quando a conta bancária nos quer ausentes. Falo também para quem tem dois ou três empregos e mesmo assim o dinheiro não estica. Para quem limpa casas durante o dia e estuda à noite. Para quem conduz horas sem fim, carrega pesos que ninguém vê, ou cuida de pessoas. Para quem foi ao estrangeiro buscar dignidade e hoje sustenta famílias que ficaram.
Hoje, não quero só celebrar o trabalho. Quero lembrar que quem trabalha também merece viver. Que não há produtividade que compense a ausência numa festa de aniversário do filho, nem sucesso que valha se perdermos a saúde pelo caminho. Que também temos direito à alegria, ao descanso, ao lazer. Ao tempo. Por isso, que este dia tenha servido também para levantar a cabeça, para pensar coletivamente e para recordar que nenhum sistema funciona sem o suor de quem o mantém vivo.
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Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para redacao@bantumen.com.
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