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Carlão: “Isto é uma salgalhada do caraças”

Carlão
Foto: Miguel Roque / BANTUMEN
Vídeo: 
Eddie Pipocas
 & Tiago Firmino

“Uma salgalhada do caraças” foi a expressão usada por Carlão para definir a sua essência artística, fruto da mistura que é o próprio ADN cabo-verdiano, que lhe corre nas veias, e dos encontros e desencontros que vai fazendo ao longo da vida e que deixam em si um registo. Ao fazermos play na música que dá nome ao seu novo álbum, Entretenimento?, entra-nos pelo tímpano adentro um “nu bai” [que significa vamos, em tradução livre do crioulo] que dá início a uma viagem por sonoridades misturadas ou cruzadas entre o pop e o hip pop, com rasgos de energia ora efusiva, ora serena.

Foi com quase 30 anos que Carlão pisou pela primeira vez Cabo Verde. Para quem conhece o artista apenas pelos hits que carregam a sua voz, sem aprofundar a sua origem e vida artística, Carlão nasceu em Angola, é filho de pais cabo-verdianos e viveu toda a sua vida em Portugal, na margem sul de Lisboa, uma zona conhecida pela miscelânea de culturas oriundas dos PALOP e não só. Ao sair do avião e pisar pela primeira vez a “terra mãe”, como o próprio lhe chama, sente-se um embate seco contra as origens renegadas para segundo plano, mas que estiveram sempre à espreita do momento certo para romperem peito afora. E é assim que nos surgem temas como “Viver Pra Sempre”, que nos cheiram a funaná. “O que acaba por acontecer nos últimos anos é uma aproximação tímida, mas que vai-se tornando cada vez mais constante, daquilo que são as minhas origens e isso tem-me trazido um prazer muito grande.” O crioulo ainda não está na ponta da língua, mas podemos senti-lo aqui e ali em cada cruzamento de verso, com uns expressivos “nu bai”, “a nos ê bom” ou “bem li”.

Foto: Miguel Roque / BANTUMEN

O título do álbum surge numa interrogativa que persiste em si, desde sempre. O que é entretenimento? “Genocído na Playstation? Telenovela mexicana? Trump e mais um drama? Bola, bifana, sex-tape, fama?” É quase tudo. “A questão esteve presente na feitura deste disco e está presente desde o momento em que comecei a viver da música. É uma questão que me assola desde sempre. O que é o entretenimento? O que é a arte? Será o entretenimento algo menor? Se é tão menor por que é tão fundamental para tanta gente? Qual é o meu papel no meio disso tudo? Acaba por estar lá o ponto de interrogação no título do disco, não no tema porque o tema não merece ponto de interrogação. Mesmo que não fosse um disco conceptual, sempre gostei de ter algo que fosse mais ou menos comum, para dar como nome do disco. Fui buscar a ideia do entretenimento para pôr essa questão no ar”, explica-nos Carlão. E a resposta é clara: “Para mim é quase tudo. Já passámos quase todos os limites, a partir do momento que tens reality tv 24/7 a vigiar pessoas, já tudo vale. Quase tudo é entretenimento.”

Edi Ventura

Numa das participações deste Entretenimento? descobrimos Edi Ventura, um nome que é desconhecido por muitos, mas cujo talento tem espaço no mainstream português. “Descobri o Edi a cortar o cabelo. Começámos a falar do Benfica, de bola, de música. E às tantas ele mostra-me um vídeo dele.

 

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Vi aquilo, já estava a gravar o disco e pensei ‘vou ter que mostrar este gajo’. Na altura, tinham acabado de sair uns vídeos do movimento de um pessoal muito hostil, muito gangsta. E eu vejo o vídeo do Edi que tem cenas dele filmados na cama. Ele é um paz de alma do caraças, é um gajo muito tranquilo que já roeu ali uns anos duros, em “cana”, por uma cena que também não é roubar leite no supermercado, sem entrar em pormenores, é uma cena com algum peso. E tu vês esse vídeo dele e ele é bué real. As cenas estão lá todas. E vejo os vídeos de putos armados em duros, mas que de duros não têm nada, se calhar nunca levaram uma chapada como deve de ser na vida e pensas: ‘este gajo é que tenho de chamar para fazer alguma coisa no meu disco’. Este gajo é que tem aqui alguma substância, é que está aqui com alguma coisa para dizer e que tem vida, já viveu alguma coisa e isso não o mandou para um lado em que é muito fácil perder-se. Já vi muita gente passar por aquilo que ele passou e ele está ali. E, obviamente, [chamei-o para uma colaboração] porque tem skils. Claro que não sou a madre Teresa de Calcutá. Chamei-o porque também é muito bom naquilo que faz. Foi sobretudo pelo pacote todo, é um gajo muito ciente e com muito talento.”

Vícios

Nesta entrevista, que acabou por vaguear por vários temas soltos à boleia do à vontade que Carlão nos transmite, acabámos por falar sobre vícios. O do cigarro é o único, considerado proibido, que insiste em não desaparecer.  “Aqui há uns tempos tive uma consulta e percebi que tenho de parar de fumar. Estive um ano e meio parado [sem fumar] e no Rock In Rio, não sei porquê, voltei a fumar. Então é uma luta que ali está. Já tive uma luta em relação a vícios e esta está a ser um pouco difícil, talvez por ser a única coisa que eu hoje faço de proibido. No tema título eu digo ‘nunca quis ostentar as minhas entranhas, é mais forte do que eu, como a fé que move montanhas’. É uma coisa que me sai naturalmente e depois pago a fatura. Porque falo ‘pessoal deixei de fumar’ e depois volto a fumar e se não tivesse dito nada, nem se colocava essa questão, mas acabo por pôr tudo em cima da mesa”.
Entretenimento? vai ser lançado a 14 de setembro e é o segundo álbum a solo do ex-Da Weasel. No alinhamento temos 12 músicas, às quais se juntam quatro temas bónus, já lançados no EP Na Batalha, de 2016. As produções do disco foram assinadas por Branko, PEDRO, Boss AC, xxoy, entre outros e nas participações temos as vozes de Manuel Cruz, António Zambujo, Bruno Ribeiro, Slow J, Nelson Correia, e Edi Ventura.

 

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