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A capital angolana mergulhou esta segunda-feira, 28, num ambiente de tensão social e paralisação urbana após o início de uma greve geral dos taxistas, em resposta à mais recente subida do preço do gasóleo, que passou de 300 para 400 kwanzas por litro. A retirada gradual dos subsídios aos combustíveis, medida inserida no programa de ajustamento fiscal do Governo, desencadeou uma forte reação popular, materializada em bloqueios de vias, pilhagens, confrontos com as forças da ordem e manifestações de rua com forte carga simbólica e política.
Desde as primeiras horas da manhã, o sistema de transportes da cidade colapsou, afetando de forma crítica a mobilidade da população. Os conhecidos “azuis e brancos”, que representam o grosso do transporte informal urbano, suspenderam totalmente as suas actividades, deixando milhares de cidadãos retidos nos bairros periféricos e forçando outros a percorrer quilómetros a pé. As paragens de autocarros registaram sobrelotação, filas superiores a três horas e incidentes de empurrões, agravando o já frágil sistema de transporte público da capital.
O impacto refletiu-se no atraso ou ausência de trabalhadores em estabelecimentos comerciais, empresas e instituições públicas, com prejuízos económicos que, segundo estimativas preliminares, ascendem os vários milhões de kwanzas. Em paralelo, registaram-se três mortes confirmadas, entre elas uma criança e um agente da polícia, dezenas de feridos e diversos atos de vandalismo, incluindo destruição de veículos e barricadas com pneus incendiados em avenidas principais como a Deolinda Rodrigues e a Fidel de Castro.
A tensão social foi catalisada por uma marcha pacífica, organizada por estudantes, membros da sociedade civil e militantes da UNITA, que percorreu as ruas de Luanda com cartazes denunciando o aumento do custo de vida. Frases como “Os pratos estão vazios, a coragem está cheia”, “A fome não espera” e “MPLA é o cancro do povo” dominaram o discurso simbólico dos manifestantes, que exigem a suspensão das políticas de liberalização dos preços dos combustíveis e o congelamento das propinas escolares e das tarifas dos transportes públicos.
Face à escalada de violência, o Consulado-Geral de Portugal em Luanda emitiu um alerta de segurança, recomendando a seus cidadãos a limitação de deslocações na cidade e suspendendo temporariamente o atendimento ao público. A nota diplomática alerta para um “clima de instabilidade urbana” e adverte que novas perturbações poderão ocorrer ao longo dos próximos dias, dado que a paralisação está prevista para durar até quarta-feira, dia 30.
A nível macroeconómico, os efeitos do aumento do gasóleo já se fazem sentir. A tarifa dos táxis aumentou, em média, 50%, com previsões de novos aumentos nos preços de bens essenciais, cuja distribuição depende fortemente do transporte rodoviário. Especialistas alertam que a inflação, atualmente situada em 20% ao ano, poderá conhecer uma nova aceleração nas próximas semanas, caso não haja medidas de mitigação por parte do Executivo.
Do ponto de vista político, analistas consideram que a situação actual evidencia um descompasso entre as reformas económicas em curso e a realidade social da maioria dos angolanos. A retirada dos subsídios, embora recomendada por instituições financeiras internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), carece de um plano robusto de compensação social que atenue os seus efeitos negativos sobre os estratos mais vulneráveis da sociedade.
Num cenário de crescente descontentamento popular, o Governo Provincial de Luanda emitiu um comunicado a condenar os atos de vandalismo e a prometer a reposição da ordem pública. No entanto, até ao final do dia, vários bairros permaneciam sem circulação de transporte e com forte presença policial nas ruas.
Enquanto Luanda assiste à sua maior crise de mobilidade dos últimos anos, cresce a pressão sobre o Executivo para rever ou pelo menos modular o ritmo das reformas estruturais. O silêncio das autoridades centrais durante o dia de hoje foi notado e criticado por diversos sectores da sociedade, aumentando a percepção de distanciamento entre governantes e governados.
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