Bala de Prata regressa com “Rato da Pensão”, o esgoto como metáfora da sociedade

October 10, 2025
Bala de Prata Rato da Pensão
Bala de Prata | DR

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Depois de um longo silêncio editorial, Bala de Prata regressa ao microfone com “Rato da Pensão”, um single que reafirma o lado mais consciente e observador do rapper moçambicano. O tema, com participação de Sick Brain, é uma crónica social disfarçada de metáfora urbana: um rato que sai do esgoto e encontra abrigo numa pensão, tornando-se testemunha das pequenas corrupções, das sobrevivências e das misérias humanas.

A inspiração veio de uma situação banal, como o próprio conta. “Um belo dia deparei-me com vestígios de ratos no meu quintal. Tentei ignorar, mas quando percebi, já tinha uma família deles instalada. Espalhei veneno e encontrei os pequenos mortos, mas a mãe nunca apareceu. Fiquei meio traumatizado e comecei a investigar sobre o ciclo reprodutivo deles, é incrível. Dali, tudo virou inspiração”, conta entre risos.

A história do rato transformou-se num espelho da sociedade moçambicana. O rapper aproveitou o símbolo para denunciar as injustiças, a criminalidade e a corrupção que atravessam o país. “É sabido que, nos lugares onde devíamos pedir ajuda, somos confrontados com extorsão. Sinto que é minha responsabilidade, como cidadão consciente, abordar estes temas para que mesmo os menos informados percebam o que está em jogo”, explica Bala.


A colaboração com Sick Brain surgiu de forma natural, depois de ambos se cruzarem num painel do programa Clássico Hip Hop Time. “Perguntei ao TrezAgah o que achava de o convidar, e ele disse: ‘para esse tema o Sick Brain é o indicado, o gajo é f****’. E tinha razão. Precisava de alguém com a voz e a alma underground para dar força ao tema, que não é comercial”, sublinha o artista.

“Rato da Pensão” traz de volta o Bala de Prata cronista - o poeta social que sempre viu o rap como um espaço de reflexão. “Eu sou um poeta antes de ser rapper. Gosto de abordar temas que tragam lucidez a quem precisa. Para mim, se o rap não tiver essa função, não funciona”, afirma.

O regresso, no entanto, não significa que o artista tenha estado parado. “Nunca deixei de escrever ou gravar, mas o processo de lançar exige atenção. As ocupações familiares e profissionais também pesam. Somos poucos a remar em todas as frentes, mas o rap para mim é um chamamento, não dá para largar”, confessa.

Com mais de duas décadas de carreira, Bala de Prata mantém a visão crítica sobre o hip hop nacional. “O rap moçambicano precisa de reformas. Vejo muitos artistas comerciais a tentar abrir a mesma porta, enquanto o underground vive um paradoxo entre querer e não querer aparecer. É responsabilidade dos dois lados levar o género a bom porto”, defende.

Para ele, “Rato da Pensão” representa um novo ciclo criativo, iniciado com a faixa “Rap na Fase Adulta” (R.F.A). “Para 2025 quero lançar algumas colaborações, mas o foco é consolidar o RFA em 2026”, adianta. Sobre um futuro álbum, prefere não prometer, mas sonha alto: “O álbum seria o libertar do meu pensamento, os meus diferentes moods. Só depois dele saberei o meu caminho a seguir.”

Entre metáforas e verdades, Bala de Prata volta a lembrar que o rap pode - e deve - ser uma ferramenta de consciência. “Exemplo de resistência não sou, talvez de consciência. Recomendo a quem me ouve que correlacione a sua vida com o estado social e político do país. Fingir que nada nos toca é uma ilusão”, remata.

“Rato da Pensão” já está disponível nas plataformas digitais.

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