A visão de Luci Fonseca para o futuro digital de Cabo Verde

November 14, 2025
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BANTUMEN/ © Stephan Neto

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A presença cabo-verdiana na Web Summit 2025 voltou a destacar o potencial do país no ecossistema digital global. Entre os nomes presentes, esteve Luci Fonseca, investidora de capital de risco, profissional de finanças e conselheira do Governo de Cabo Verde. Natural de São Nicolau e a viver em São Francisco, Luci integrou a delegação da Cabo Verde Digital, iniciativa do Ministério da Economia Digital que tem reforçado a participação do país nos grandes eventos de tecnologia.

Em conversa com a BANTUMEN, explicou que divide a sua vida entre o trabalho no sector privado e o compromisso com o desenvolvimento de Cabo Verde. “Sou investidora de capital de risco. Vivo em São Francisco. Mais recentemente fui partner numa empresa de investimento de capital de risco que se chama Base, uma empresa de dois biliões de activos. Quando não estou a investir, sou conselheira do Governo de Cabo Verde”, disse. Apesar de viver nos Estados Unidos, mantém uma ligação permanente com o arquipélago. “Sou cabo-verdiana de São Nicolau. Passo um mês em Cabo Verde todos os anos e também já vivi por muito tempo no país”, sublinha.

Questionada sobre quando o mundo começou a olhar para África como um ativo, assume sem reservas que “desde sempre. Sempre fomos um ativo para o resto do mundo.” O que mudou, afirma, foi o olhar interno, sobretudo “nos últimos cinquenta anos, e ainda mais na área da tecnologia nos últimos vinte, nós africanos estamos a ver África como um ativo. Temos a população mais jovem do mundo, recursos naturais e talento em todos os países, incluindo em Cabo Verde.”

Para a investidora, a diáspora é um dos maiores trunfos do continente e a melhor forma de estreitar essa colaboração passa por entender que se trata de uma via de mão dupla: do mesmo modo que o governo não pode ignorá-la, a diáspora deve também ter curiosidade e procurar essa interação. “Quase todos os países africanos possuem uma diáspora enorme. Acho que a melhor forma é criar, manter e fortalecer as ligações entre diáspora e país. Nem sempre vamos ter pessoas como eu, que vivem nos dois mundos, mas cabe ao governo criar ligação e cabe à diáspora ter curiosidade.”

Eventos como a Web Summit, afirma, são uma porta de entrada e “podem abrir a mente de quem está na diáspora para essa aproximação com o país.” A ligação entre quem vive fora e quem está em Cabo Verde deve ser construída com base na troca. “Os que estão em Cabo Verde podem aprender comigo como funciona o ecossistema na Bay Area e o que pode ser aplicado. Mas eu também tenho de aprender as condições locais para poder contribuir de forma útil. É aprendizagem de ambos os lados”, sublinha.

Quando a conversa vira para oportunidades concretas, Luci não hesita: “Eu adoro empresas na vertente SaaS vertical”, diz, e explica que o motivo está na própria economia, feita de “ de 98% de pequenas e médias empresas. Há uma fortuna a ser feita em digitalizar as PMEs. Oficinas de carros funcionam em papel. Restaurantes também. Há uma grande oportunidade aí.” Para a profissional de finanças, a ideia de um “business in a box” — um software simples, acessível e ajustado às realidades locais — tem potencial imediato no mercado cabo-verdiano.

Apesar do entusiasmo com o avanço do sector digital, reconhece que há desafios estruturais a serem resolvidos primeiro. “Fomos ver o Parque Digital e aquilo é fantástico. Mas, na prática, para qualquer mecânico ou restaurante pensar em software, primeiro, precisa do básico. São problemas que todo o mundo ainda está a tentar resolver. Cabe ao governo criar condições e tornar mais simples tudo o que envolve a ligação entre empresa e Estado. Há progresso, mas ainda há caminho.”

A área de pagamentos é, na sua visão, uma das chaves para acelerar a modernização: “O governo ainda tem trabalho a fazer nesta área e também em criar condições para que empresas privadas inovem nos pagamentos. Isso daria um salto enorme às PMEs.” Mesmo com limitações, Luci acredita que o sector privado tem terreno fértil para agir. “Há grande oportunidade para startups entenderem bem as condições das PMEs e ajudarem a resolver os seus problemas. É o que está a acontecer em toda a parte do mundo.”

A visão de Luci Fonseca confirma o que tem vindo a tornar-se evidente: Cabo Verde está num ponto de viragem e a conjugação entre governo, diáspora e sector privado pode definir a velocidade com que o país se integra nas dinâmicas globais de inovação.

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