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Lançada a 25 de novembro de 2025, a música "Money" do artista angolano Cleyton M explodiu como um rastilho de pólvora digital. Em pouco mais de duas semanas, o som do Kuduro fundido no Afro-house conquistou o mundo com um desafio de dança e, todos os dias, aparecem dezenas de novos vídeos nas redes sociais. Vários chegam a alcançar milhões de visualizações, números que pintam o retrato de um sucesso viral inequívoco. Mas enquanto o mundo dança, uma pergunta impõe-se: o que está realmente a ser dito em cima da batida?
À primeira vista, "Money" é a celebração do sucesso, um hino à conquista material. No entanto, uma análise mais atenta, especialmente para quem compreende o contexto sociocultural de Angola, revela uma obra de uma complexidade surpreendente. Como um vídeo de análise que circula nas redes sociais aponta, "quando o angolano fala de Money não é só sobre dinheiro, é sobre sobrevivência, sistema, desigualdade e ironia também". A música é, na verdade, uma sofisticada crítica social disfarçada de hit.
O videoclipe de "Money" é a primeira pista para decifrar a sua mensagem. Cleyton M não surge como um músico, mas como um "comandante". Posicionado num púlpito, ladeado por figuras que lembram soldados e com as bandeiras de Angola em pano de fundo, o artista encarna uma metáfora do poder político e militar. Cleyton não está a cantar para o povo; está a discursar, a ditar as regras de um sistema que "comanda, controla e decide tudo de cima". Esta poderosa simbologia serve de veículo para uma crítica contundente à realidade angolana: a pressão económica, as promessas governamentais que se perdem no tempo e as dificuldades diárias de uma população que, perante a falta de alternativas, se vê forçada a entrar no ritmo imposto. A frase que ecoa na análise popular da música resume esta dinâmica de forma brilhante: "quem tem mão manda e quem não tem, dança literalmente". A dança, aqui, não é apenas celebração; é um ato de submissão, uma forma de sobrevivência.
O génio de Cleyton M reside na forma como empacotou esta mensagem. Em vez de optar por uma canção de protesto tradicional, o artista criou um "Cavalo de Troia" digital. Utilizando uma estética pop e os ritmos irresistíveis do Kuduro e do Afro-house, ele construiu uma arma de crítica massiva, otimizada para os algoritmos das redes sociais. O resultado é uma ironia poética: o mesmo sistema globalizado que a música critica é o que a amplifica. O TikTok, o Instagram e o YouTube, desenhados para maximizar o engajamento através de conteúdos leves e dançantes, tornaram-se os maiores aliados na disseminação de uma mensagem profundamente política. As pessoas dançam, sorriem e criam trends, muitas vezes sem se aperceberem de que estão a participar na partilha de "uma mensagem política e social gigantesca". Cleyton M criou um hit que enganou o algoritmo.
O sucesso desta estratégia é validado pelos números que já mencionámos, mas que ganham ainda mais significado quando analisados em profundidade. A presença avassaladora no TikTok, com centenas de posts na hashtag do desafio, demonstra uma penetração sem precedentes de um artista angolano. Vídeos individuais de criadores de conteúdo de todo o mundo acumulam milhões de likes cada, com alguns a ultrapassarem os 5 milhões. O post "Money hi hiii" do artista teve 23.3K likes e 440 comentários, enquanto o teaser "Money coming soon" alcançou 425.2K likes e 3.030 comentários. A música não só dominou os charts em Angola, a ocupar a posição número dois no YouTube Music, como também penetrou mercados internacionais de forma expressiva. Em Moçambique, a faixa alcançou a quarta posição no YouTube Music e a décima primeira no Shazam. A presença estende-se a países como Portugal, Cabo Verde, Zâmbia, Senegal e até França, demonstrando a força da música. Estes números são a prova tangível de como uma mensagem bem construída pode transcender barreiras geográficas e culturais quando empacotada com a estética certa.
A viralização no TikTok merece uma análise especial. O desafio de dança que a música gerou tornou-se um fenómeno global sem precedentes, com criadores de conteúdo da Zâmbia, Quénia, Camarões, Nigéria e inúmeros outros países a participarem. Alguns vídeos relacionados com a música ultrapassaram a marca de 5 milhões de visualizações e de likes, enquanto a compilação de "money cleyton m TikTok Dance Trend" no YouTube já acumula centenas de milhares de visualizações. A música atingiu a marca de 1 milhão de visualizações em apenas 9 dias, um ritmo de crescimento que poucos artistas conseguem alcançar. Este fenómeno não é acidental; é o resultado de uma estratégia inteligente de marketing cultural que soube aproveitar as dinâmicas das redes sociais contemporâneas.
Cleyton M, também conhecido como Cleyton Milionário, é o nome artístico de Rafael Elias Manuel, um cantor, dançarino e coreógrafo angolano nascido a 22 de fevereiro de 2002, em Luanda. Tornou-se conhecido no ambiente musical angolano com hits como “Emagrece”, que lhe trouxe visibilidade e seguidores nas redes sociais e plataformas digitais. Outras músicas que marcam o seu percurso artístico são “Slow Motion”, “Bring It”, “Girl Friend” e “Go It”, que demonstram a sua versatilidade entre géneros como o Afro House e Kuduro.
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