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A questão de como diferentes comunidades conseguem partilhar a mesma cidade foi o mote de um debate realizado na última sexta-feira, 19, no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado. Sob o título “Como vivemos juntos entre culturas em Lisboa”, a iniciativa do Diaspora Salon Lisboa reuniu ativistas, artistas, investigadores e líderes comunitários para refletir sobre os desafios da capital portuguesa, marcada pela crescente diversidade e pelas contradições da globalização.
O encontro, conduzido pelo jornalista e investigador Vítor Belanciano, juntou à mesma mesa a assistente social e investigadora Vanda Ramalho, a fundadora da rede Lisbon Business Leaders, Kasia Szczesniak, o artista multidisciplinar Paulo Pascoal, o promotor cultural e social Sinho Baessa de Pina e a ativista brasileira Priscila Valadão, da associação Vida Justa.
Ao longo da noite, abordaram-se experiências pessoais e perspetivas complementares, revelando uma Lisboa em ebulição, onde o convívio entre culturas se confronta diariamente com as desigualdades. Falou-se da especulação imobiliária que expulsa moradores dos bairros, da gentrificação que redefine o tecido urbano, do turismo que pressiona serviços e espaços públicos, do aumento do custo de vida em contraste com salários estagnados e dos entraves burocráticos que se somam a episódios de xenofobia. Os participantes sublinharam que estas dificuldades não atingem apenas comunidades brasileiras, indo-asiáticas e racializadas, mas também portugueses e expatriados, mostrando que as fronteiras da exclusão são mais difusas e próximas do que muitos imaginam. “Empatia com o estômago vazio, ou quando se luta para pagar renda, torna-se difícil”, sintetizou Belanciano.
Priscila Valadão, Paulo Pascoal e Sinho Baessa de Pina denunciaram a persistência de uma barreira simbólica que relega até filhos de imigrantes nascidos em Portugal a uma condição de segunda categoria. Para eles, o que mudou foi apenas a visibilidade do problema, uma vez que a sociedade portuguesa começa agora a dar-lhe maior atenção porque também imigrantes brancos estão a sentir na pele essas barreiras.
Vanda Ramalho, por seu turno, trouxe outras perspetivas ao sublinhar a importância da educação como motor de mobilidade social. Reconheceu, no entanto, que as desigualdades cada vez mais enraizadas colocam limites concretos à promessa de ascensão. Belanciano pontuou a diversidade na cena artística lisboeta, com cada vez mais artistas de origens diversas a afirmarem-se no panorama criativo da cidade, mas deixou o aviso de que “admirar artistas não é o mesmo que amar as comunidades que eles representam.”
Apesar das diferenças de tom, convergiu a ideia central de que Lisboa não pode contentar-se em vender-se ao mundo como “cidade global” enquanto os seus habitantes enfrentam exclusão, precariedade e invisibilidade. Mais do que branding urbano, é preciso investir em habitação acessível, em espaços culturais verdadeiramente inclusivos, processos justos de residência e reunificação familiar, políticas fiscais mais equilibradas e em dirigentes políticos que unam em vez de dividir. Só assim, concluíram os participantes, será possível transformar o mosaico cultural da cidade num espaço comum onde caibam todos.
O debate no MNAC foi o primeiro de um ciclo de encontros promovidos pelo Diaspora Salon Lisboa, plataforma que aposta no diálogo, na reflexão e na criação coletiva em torno da migração, da identidade e da diversidade cultural. Os próximos encontros deverão contar com especialistas em habitação e urbanismo, dando continuidade a uma discussão que pretende ser estruturante para o futuro de Lisboa.
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