Este projeto gratuito no Brasil quer formar estilistas negros da periferia

Conhecido pela sua tradição têxtil, o Senegal — país da costa ocidental africana — é referência em cores, simbologia cultural e métodos artesanais transmitidos entre gerações. É de lá que chegam os tecidos utilizados na nova coleção “Raízes do Futuro”, desenvolvida no Recife pela marca Zarina Moda Afro.

O projeto reúne jovens, mulheres, homens, idosos e pessoas com deficiência da Região Metropolitana do Recife, no Brasil, sobretudo de zonas periféricas. Os criadores, selecionados através de concurso público, vão ter a oportunidade de, durante três meses, participar em encontros semanais aos sábados, na sede da Zarina, situada na região do Recife.

Financiada pela Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), através da Secretaria de Cultura do Governo de Pernambuco, a formação oferece uma bolsa mensal de R$ 600 - equivalente a 92 euros - a cada participante, além de todos os materiais e recursos de acessibilidade. Os formandos contam ainda com acompanhamento directo dos estilistas Jéssica e Rodrigo Zarina, fundadores da marca e com experiência no circuito internacional da moda afro-brasileira.

As peças da coleção são feitas com capulanas africanas importadas do Senegal, reinterpretadas com técnicas como bordado barra funda (ou naperon), crochê, aplicação de búzios e miçangas, costura manual e modelagem própria. “A coleção nasce do encontro entre o passado e o presente. Os tecidos africanos carregam espiritualidade e ancestralidade. A partir deles, estamos formando novos criadores que constroem narrativas de pertencimento e identidade. Por meio desse trabalho queremos preservar, registrar, salvaguardar e difundir as técnicas ancestrais”, explica a produtora cultural e coordenadora do projeto, Jessika Zarina.

Além de valorizar as técnicas tradicionais, o projeto aposta na formação de criadores negros e periféricos, como estilitas profissioanais. O objetivo é ampliar o acesso à moda autoral e romper com a lógica eurocentrada predominante no setor. “A proposta da nossa marca e do projeto é contribuir para a renovação do mercado de moda nacional e fortalecer a presença de novas vozes na criação de estilo e identidade presente em nossas comunidades” , explicou Rodrigo Zarina, responsável por desenhar a nova coleção e orientar no processo da produção das novas peças, que chegam ao público já em julho.