Cultura africana timorense em destaque na exposição "Marimba" no Porto

August 20, 2025
Exposição fotográfica "marimba"
Fotografia ©BANTUMEN/Eddie Pipocas

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O Palacete dos Viscondes de Balsemão, no centro do Porto, acolhe até 6 de setembro de 2025 uma exposição fotográfica que convida a uma viagem pela diversidade cultural de Angola, Guiné‑Bissau, Moçambique e Timor‑Leste. Intitulada Marimba, a mostra reúne cerca de 30 imagens escolhidas a partir de um concurso de fotografia promovido pelo projeto homónimo. As fotografias foram captadas ao longo de três anos de expedições e documentam rituais, festas e o quotidiano de comunidades cuja cultura rara vez chega aos museus europeus.


A inauguração realizou‑se a 16 de agosto e a exposição pode ser visitada de terça a domingo, das 10h às 17h30, no museu municipal da cidade.


Ao percorrer as salas do Palacete dos Viscondes de Balsemão, o visitante descobre geografias e pessoas que raramente têm visibilidade nos circuitos culturais europeus. A exposição Marimba é um convite a ouvir histórias que ecoam de um litoral africano até às ilhas timorenses e a perceber como a música e a imagem podem resgatar e partilhar patrimónios imateriais. Para quem vive no Porto ou está de passagem pela cidade, a mostra é uma oportunidade de experimentar essa ponte cultural antes de seguir para Lisboa. 


A curadoria esteve a cargo da investigadora e fotógrafa Ana Cristina Baptista. Em entrevista à BANTUMEN, ela explica que, entre dezenas de fotografias submetidas, escolheu trinta pela sua capacidade de revelar a proximidade com as comunidades retratadas, sobretudo da Guiné‑Bissau e de Angola. Os autores dos registos são originários dos próprios países, uma forma de garantir um olhar sensível e conhecedor da realidade local. As imagens vencedoras de um concurso de fotografia da Marimba também fazem parte da exposição. Ana Cristina Baptista sublinha que é impossível eleger a fotografia mais emblemática d amostra, porque cada imagem transmite emoções e histórias distintas e o visitante é convidado a descobrir rituais do dia‑a‑dia de algumas comunidades e a mergulhar nas suas raízes culturais.


As obras mostram celebrações, danças, preparação de refeições e rituais ancestrais, permitindo ao público “viajar a terras remotas e a culturas exóticas”. O título da mostra remete para a marimba, instrumento de origem africana aparentado aos xilofones encontrados em Angola, Moçambique e Guiné‑Bissau. Segundo o coordenador geral do projeto, Miguel Ângelo, a marimba tem ainda ligações aos gamelões indonésios e inspira a música de Timor‑Leste. 


A escolha do nome reflete a ligação entre música e fotografia: ambas preservam tradições orais e sonoras.

Esta exposição é uma das vertentes do projeto Marimba, iniciativa transnacional financiada pela União Europeia e co‑financiada e gerida pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua. O projeto nasceu para valorizar a produção musical nos quatro países participantes através da pesquisa, digitalização e promoção de músicas tradicionais e da distribuição internacional de artistas. Tem como objectivos reforçar a identidade cultural, promover a empregabilidade e garantir a inclusão socioeconómica das mulheres e a sustentabilidade dos agentes culturais. O lema é “música, património imaterial”, e a plataforma digital do Marimba permite divulgar as acções em curso e criar ligações entre Portugal, África e Timor‑Leste.

As viagens de campo que deram origem às fotografias foram realizadas entre 2022 e 2025. O resultado foi uma compilação visual que exibe a etnografia e o quotidiano local, desde trajes típicos até rituais de aldeia, passando por momentos de festa. As imagens tornam tangível o que o projecto tem procurado documentar: a riqueza simbólica e a resiliência das culturas participantes.

Na entrevista concedida à BANTUMEN, Miguel Judas faz o balanço de quase quatro anos de atividade. O responsável lembra que, além das exposições, o projeto promoveu concursos, entre eles o de fotografia, cujos resultados estão agora em exibição, e que fotógrafos acompanharam as equipas em viagens pelo interior de Angola, Moçambique e Guiné‑Bissau. Segundo Judas, o rescaldo é positivo: o Marimba estabeleceu parcerias em países como Brasil, Espanha, Portugal, Chile e Cuba e marcou presença em feiras culturais internacionais. Em setembro de 2025 arranca uma digressão no Brasil, com espetáculos em Macapá, Belém, Rio de Janeiro e Salvador da Bahia, em colaboração com o festival Zona Mundi e o AfroPunk. A cantora baiana Nara Couto, que já atuou nos Jardim de Verão da Fundação Calouste Gulbenkian, é a primeira embaixadora do projeto no Brasil.

O organizador frisa que o fim do financiamento não significa o fim do Marimba. Foi criada uma associação que irá gerir uma editora, uma distribuidora e uma agência de artistas, garantindo continuidade às recolhas de músicas, instrumentos e tradições nos quatro países e facilitando a ligação a outros projetos culturais. Judas revela que um novo projecto – World Heritage AND – já está em curso em Díli e será aproveitado para continuar as recolhas para o Marimba. A equipa planeia ainda adicionar inteligência artificial à plataforma digital para melhorar a pesquisa no arquivo, que continuará disponível gratuitamente. 

A exposição pode ser visitada no Porto até 6 de setembro, com entrada gratuita. Depois, segue para Lisboa, onde estará patente de 11 a 27 de setembro na Galeria Studio CreativeRez, em Cabo Ruivo. Na capital, a galeria abre de domingo a sexta-feira, entre as 9h30 e as 19h00, de acordo com a agenda do projeto.


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