Arte moçambicana ocupa o Porto para celebrar 50 anos de independência

Meio século de independência de Moçambique foi celebrado através da arte contemporânea na cidade do Porto. A Galeria Papoila inaugurou, neste dia simbólico, a exposição "Numa esteira in-visível”, um manifesto visual que propõe (re)centrar Moçambique nas narrativas culturais contemporâneas e desmontar os silêncios persistentes sobre a criação artística africana no contexto português.

Com curadoria de Ruben Zacarias, a mostra reúne obras de 21 artistas moçambicanos, representando múltiplas gerações e linguagens visuais. Estão presentes nomes consagrados como Malangatana Ngwenya, Reinata Sadimba ou Gonçalo Mabunda, ao lado de criadores mais recentes, nascidos ou formados no pós-independência. Parte das peças em exibição pertence à coleção privada de João de Almeida, um dos maiores colecionadores de arte africana em Portugal.

Em vez de se fixar numa leitura nostálgica da história moçambicana, Numa esteira in-visível convida à reflexão crítica. Questiona a ausência de imagens africanas na cultura visual portuguesa, resiste ao exotismo e reivindica o lugar da arte moçambicana enquanto produção viva, autónoma e politicamente situada. “É uma exposição que quer contrariar o alheamento e dar corpo a uma memória coletiva através da criação artística”, sublinha o curador.

O programa da mostra vai além das obras em parede. Até ao dia 4 de julho, o público poderá assistir a leituras performativas pelo actor Alberto Magassela, uma performance da artista Atija Assane, um concerto do músico Ivan Langa e uma performance gastronómica assinada por Subuia, que propõe saborear a memória como um gesto de pertença. Haverá ainda uma tertúlia sobre as independências africanas e os projectos de nação, integrada no encerramento do II Ciclo “Entre Culturas” e da Escola de Verão “Estudos Africanos em Português”, promovidos pelo LabCLIP/CICANT, da Universidade Lusófona.